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ELEIÇÕES
Entre as críticas feitas ao sistema está a impossibilidade de recontagem dos votos em caso de suspeita
Voto eletrônico ainda causa dúvidas
MARCELO SOARES
free-lance para a Folha
Na terceira eleição com urnas
eletrônicas, o sistema usado no
voto digital ainda causa dúvidas
sobre sua segurança. As urnas
que serão usadas nas eleições de
outubro tiveram seu primeiro teste no sábado, em Sirinhaém (PE).
Especialistas consultados pela
Folha apontam várias possíveis
falhas no sistema. Segundo um
deles, o engenheiro Amílcar Brunazo Filho, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nega-se a criar mecanismos de auditoria e verificação do sistema usado nas eleições.
A forma como o governo em geral trata suas informações digitais
leva o nome técnico de "segurança por meio da obscuridade", segundo Thiago Zaninotti, 22, responsável pelo site Securenet, sobre segurança de informática.
"O governo tem tido problemas
de segurança em suas redes, com
invasão de suas páginas na Internet. Parece pensar que não há tecnologia para quebrar o sistema da
urna. Não creio que haja má-fé,
mas a postura é perigosa."
Um artigo apresentado em um
simpósio no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) em 99
por Brunazo apontou várias falhas possíveis do sistema. O engenheiro é responsável por um fórum de discussão do voto eletrônico na Internet.
Identificação
Para Brunazo, o novo sistema
eleitoral foi adotado sem amplo
debate do assunto nas universidades. Assim, ele teria ficado com
duas falhas básicas, que o TSE não
estaria disposto a reavaliar.
A primeira seria a "vinculação"
do eleitor a seu voto. Para Brunazo, não há garantia de que seja impossível descobrir para quem cada eleitor deu seu voto. Segundo o
TSE, os votos de cada candidato
vão para uma área do disquete e a
presença do eleitor, para outra.
"A identificação do eleitor pode
e deve ser feita de maneira eletrônica. Só não pode ligar essa etapa
com a seguinte, que é a votação",
diz Brunazo. Segundo ele, a votação eletrônica convive bem com a
identificação tradicional.
Um dos pré-projetos da urna,
preparado em 1995 por professores do Instituto de Informática da
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), não incluía a identificação eletrônica.
"Consideramos essa capacidade de a urna determinar quais
eleitores votaram um pouco perigosa, por causa das reações que a
opinião pública poderia ter", diz o
professor Raul Weber, co-autor
do trabalho e doutor pela Universidade de Karlsruhe (Alemanha).
Segundo ele, o voto secreto está
garantido quando o computador
gera duas listagens separadas, a
dos eleitores e a dos votos. "Mas
não adianta o órgão eleitoral apenas garantir que a ligação não é
feita", diz Weber.
Recontagem
O segundo problema apontado
no estudo de Brunazo é que, como as urnas não imprimem o voto, não seria possível verificar os
resultados em uma recontagem.
Um projeto de lei do senador
Roberto Requião (PMDB-PR),
encaminhado em março de 99,
propõe que todas as urnas imprimam o voto do eleitor. Ele seria
depositado em uma urna convencional. Até 3% das urnas, escolhidas ao acaso, seriam recontadas.
O diretor de informática do
TSE, Paulo Camarão, analisou o
projeto e diz que ele abre a possibilidade de tumulto na eleição.
"Se meia dúzia de pessoas fazem
isso (acusam erro da urna ao votar) com má intenção, a seção
eleitoral é anulada", disse.
Mesmo apontando problemas
no projeto de lei, o TSE busca
uma solução paralela. Neste ano,
Camarão diz que o tribunal vai escolher ao acaso algumas urnas
para fazer uma verificação.
Com a fiscalização dos partidos,
serão digitados votos "falsos" para cada candidato, além de brancos e nulos. Depois, subtrai-se os
votos "falsos" do total da urna para obter o resultado real.
O problema é que o boletim de
urna traz só o total de votos recebidos por candidato. "Só dá para
saber em casos extremos, quando
alguém votou em um partido e o
resultado deu zero", diz Weber.
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