UOL

São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

É só isso, mesmo

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente: "Não posso fazer uma política econômica de sobressaltos. / Os juros não podem baixar de modo estabanado". Alguém propõe uma política de sobressaltos? Quem pediu redução de juros de modo estabanado?
Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda: "O crescimento não vem por geração espontânea, não brota em árvore. / Não é só puxar um gatilho e o país vai crescer sem parar, infelizmente não é assim". E você, leitor, neobobo hoje como Lula e Palocci durante os anos fernandinos, até agora não percebera que árvore é igual à política econômica de Palocci/Malan/ FMI, de nenhuma das duas podem brotar crescimento e emprego.
Dentro das mesmas 24 horas em que Lula e Palocci repisaram o seu modo caricato de tergiversar sobre a política econômica, duas outras estrelas governistas fizeram suas considerações.
Guido Mantega, ministro do Planejamento: "No segundo semestre esse quadro [desemprego e economia estagnada] já estará revertido". É, portanto, já no mês que vem o início de "um surto de crescimento".
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, depois de afirmar que o início do crescimento depende do controle sobre a inflação: "A inflação ainda não está controlada".
Essa inflação teve, afinal, uma explicação oficial, dentro ainda das mesmas 24 horas, de quarta para quinta-feira, da explosão de humorismo governamental. Estava na divulgação de uma ata do Comitê de Política Monetária, o tal Copom, e foi endossada em pessoa por Henrique Meirelles (na sexta-feira): "A persistência da inflação tem sua origem nos reajustes de preços e salários ocorridos desde o início deste ano, que se basearam na elevada taxa de inflação dos últimos 12 meses, e não na sua projeção futura". Daí a recomendação de Meirelles para reajustes com base em previsões da inflação futura.
Como poderiam ser as reposições, em preços e salários, das perdas com "a elevada taxa de inflação", sem aplicar essas taxas como medida do reajuste? A menos que a suposta "inflação futura" fosse igual à inflação passada, e as suposições de Henrique Meirelles e do BC não são essas, constata-se que a solução antiinflacionária do banco e de seu presidente depende de que os empresários, além de continuarem na tradição de recusar reposições reais nos salários, passem a produzir e comercializar com prejuízos crescentes.
Diante desse espetáculo de seriedade e lucidez recolhido em apenas 24 horas do governo, valeria a pena encerrar com algum comentário?



Texto Anterior: Líder do PTB admite cargos e elogia Dirceu
Próximo Texto: Neo-aliados: Líder de Lula vê identidade com PP de Maluf
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.