São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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76% não confiam no Congresso, diz pesquisa

Estudo da USP mostra desconfiança nos partidos

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

A cada nova crise envolvendo parlamentares, juízes ou políticos a confiança dos brasileiros no funcionamento da democracia é abalada.
O regime democrático parece estar consolidado no país, mas as pessoas têm uma relação paradoxal com ele. Ao mesmo tempo em que a maioria diz preferir a democracia, grande parte da população também desconfia de instituições como partidos, Congresso e Justiça.
Essa é a conclusão de uma pesquisa inédita patrocinada pela Fapesp e coordenada pelo cientista político José Alvaro Moisés, da USP (Universidade de São Paulo).
Em junho de 2006, foram feitas 2.004 entrevistas em todo o país. O número de pessoas que dizem preferir a democracia a qualquer outro sistema ficou em 68,1%. Em 1989, eram 51%.
Apesar dessa preferência, 81% das pessoas desconfiam dos partidos, e 76%, do Congresso. "A desconfiança decorre da experiência e da avaliação prática que as pessoas fazem das instituições", diz Moisés.
"É como se os brasileiros dissessem que amam a democracia como um ideal, mas odeiam as instituições porque desconfiam do seu funcionamento prático." Segundo o professor, de imediato, isso não representa um perigo. Mas, no longo prazo podem surgir problemas.
Moisés-autor do livro "Os Brasileiros e a Democracia"- realiza pesquisas empíricas sobre o tema desde 1989. Para ele, "a democratização não é uma questão de tudo ou nada, democracia ou ditadura. Ela tem de ser vista em termos de uma gradação que afeta a qualidade da democracia".
O estudo mostra que 31,5% dos entrevistados acreditam que a democracia pode funcionar sem partidos e 28,7% acham que pode funcionar sem o Congresso. Além disso, 51,8% concordam em algum grau com a idéia de que, "quando há uma situação difícil no Brasil, não importa que o governo passe por cima das leis, do Congresso, das instituições para resolver os problemas do país".
"É extremamente preocupante que cerca 1/3 dos cidadãos brasileiros desprezem os meios de se fazer representar no sistema político", afirma o cientista político.
A pesquisa também testou o grau de desconfiança entre as pessoas. Com exceção da família, ou de colegas das mesmas igrejas, as pessoas têm pouca confiança nos brasileiros, nos colegas de trabalho e nos vizinhos. As três instituições em que mais se confia são bombeiros (86,1%), Igreja (75,3%) e Exército (61,4%).

Corrupção
Os brasileiros tendem a ser muito críticos com a corrupção dos políticos. Mas seriam bem mais lenientes se fossem colocados na mesma situação. Enquanto 97,6% condenam o desvio de recursos públicos para uso em campanha eleitoral, 19,4% dizem que, se fossem políticos, fariam caixa 2 "se não tivesse outro jeito", 6,3% fariam às vezes e 4% fariam sempre.
Moisés conclui que a corrupção "é o sinal mais evidente de que a qualidade da democracia ainda está em questão".
Robson Pereira, da UNB (Universidade de Brasília), comanda pesquisas semelhantes. Em maio, 40 alunos de graduação ouviram 1015 pessoas em Brasília e nas cidades satélite.
"As pessoas olham para os casos de corrupção e, só então, comparam com sua situação. "Poxa, é por isso que eu não tenho." Pereira acha que é preciso melhorar a educação de valores democráticos para aumentar a fiscalização.
Segundo a sondagem da UNB, práticas como suborno para se livrar de multas, superfaturamento de notas fiscais ou nepotismo não são consideradas corrupção. "Queremos ver se a diferença de renda influencia na descrença. Até agora, vimos que ela é generalizada."


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