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76% não confiam no Congresso, diz pesquisa
Estudo da USP mostra desconfiança nos partidos
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
A cada nova crise envolvendo
parlamentares, juízes ou políticos a confiança dos brasileiros
no funcionamento da democracia é abalada.
O regime democrático parece estar consolidado no país,
mas as pessoas têm uma relação paradoxal com ele. Ao mesmo tempo em que a maioria diz
preferir a democracia, grande
parte da população também
desconfia de instituições como
partidos, Congresso e Justiça.
Essa é a conclusão de uma
pesquisa inédita patrocinada
pela Fapesp e coordenada pelo
cientista político José Alvaro
Moisés, da USP (Universidade
de São Paulo).
Em junho de 2006, foram feitas 2.004 entrevistas em todo o
país. O número de pessoas que
dizem preferir a democracia a
qualquer outro sistema ficou
em 68,1%. Em 1989, eram 51%.
Apesar dessa preferência,
81% das pessoas desconfiam
dos partidos, e 76%, do Congresso. "A desconfiança decorre da experiência e da avaliação
prática que as pessoas fazem
das instituições", diz Moisés.
"É como se os brasileiros dissessem que amam a democracia como um ideal, mas odeiam
as instituições porque desconfiam do seu funcionamento
prático." Segundo o professor,
de imediato, isso não representa um perigo. Mas, no longo
prazo podem surgir problemas.
Moisés-autor do livro "Os
Brasileiros e a Democracia"-
realiza pesquisas empíricas sobre o tema desde 1989. Para ele,
"a democratização não é uma
questão de tudo ou nada, democracia ou ditadura. Ela tem
de ser vista em termos de uma
gradação que afeta a qualidade
da democracia".
O estudo mostra que 31,5%
dos entrevistados acreditam
que a democracia pode funcionar sem partidos e 28,7%
acham que pode funcionar sem
o Congresso. Além disso, 51,8%
concordam em algum grau com
a idéia de que, "quando há uma
situação difícil no Brasil, não
importa que o governo passe
por cima das leis, do Congresso,
das instituições para resolver
os problemas do país".
"É extremamente preocupante que cerca 1/3 dos cidadãos brasileiros desprezem os
meios de se fazer representar
no sistema político", afirma o
cientista político.
A pesquisa também testou o
grau de desconfiança entre as
pessoas. Com exceção da família, ou de colegas das mesmas
igrejas, as pessoas têm pouca
confiança nos brasileiros, nos
colegas de trabalho e nos vizinhos. As três instituições em
que mais se confia são bombeiros (86,1%), Igreja (75,3%) e
Exército (61,4%).
Corrupção
Os brasileiros tendem a ser
muito críticos com a corrupção
dos políticos. Mas seriam bem
mais lenientes se fossem colocados na mesma situação. Enquanto 97,6% condenam o desvio de recursos públicos para
uso em campanha eleitoral,
19,4% dizem que, se fossem políticos, fariam caixa 2 "se não tivesse outro jeito", 6,3% fariam
às vezes e 4% fariam sempre.
Moisés conclui que a corrupção "é o sinal mais evidente de
que a qualidade da democracia
ainda está em questão".
Robson Pereira, da UNB
(Universidade de Brasília), comanda pesquisas semelhantes.
Em maio, 40 alunos de graduação ouviram 1015 pessoas em
Brasília e nas cidades satélite.
"As pessoas olham para os
casos de corrupção e, só então,
comparam com sua situação.
"Poxa, é por isso que eu não tenho." Pereira acha que é preciso melhorar a educação de valores democráticos para aumentar a fiscalização.
Segundo a sondagem da
UNB, práticas como suborno
para se livrar de multas, superfaturamento de notas fiscais ou
nepotismo não são consideradas corrupção. "Queremos ver
se a diferença de renda influencia na descrença. Até agora, vimos que ela é generalizada."
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