São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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SUCESSÃO
PC do B apóia PFL no Maranhão; adversários históricos dividem palanques em Minas, Paraná e Sergipe
Alianças estaduais viram salada ideológica

PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local

As alianças entre os partidos políticos para as eleições estaduais viraram uma autêntica sopa de letrinhas. Na montagem dos palanques nos Estados, as diferenças ideológicas entre as legendas de esquerda e de direita ficaram em segundo plano. Valeu mesmo o pragmatismo.
Em muitos Estados, adversários políticos que até ontem se xingavam estão agora do mesmo lado. Partidos de esquerda que ainda acreditam no triunfo do socialismo, como o PC do B, vão subir no palanque do PFL. E até o PT, conhecido por sua resistência em fazer alianças amplas, aderiu à heterodoxia, coligando-se com o PSDB no Acre e no Piauí.
Uma das alianças mais inusitadas é a de Minas, onde o ex-presidente Itamar Franco (PMDB) e seu tradicional desafeto político Newton Cardoso (PMDB) estão na mesma chapa para concorrer ao governo estadual.
Na disputa eleitoral de 86, Itamar e Newton eram adversários. Em uma campanha acirrada, o ex-presidente foi chamado de "homossexual" pelos partidários de Newton. Os cabos eleitorais de Itamar devolviam rotulando o concorrente de "estuprador".
O caso de Sergipe também é emblemático. O peemedebista Jackson Barreto, que sempre esteve alinhado com as esquerdas e era um adversário histórico do governador Albano Franco (PSDB), agora está com o tucano. Na chapa de Franco, ainda cabe o PPS do ex-tucano rebelde Ciro Gomes.
Além das alianças com o PSDB em alguns lugares, o PPS se coligou também com os petistas em sete Estados, entre eles, em São Paulo, onde vai apoiar a candidatura de Marta Suplicy ao governo.
Mas o acordo se restringe à esfera estadual. Ciro Gomes e Luiz Inácio Lula da Silva terão palanques diferentes no Estado.

Amazonas
A salada ideológica é mais evidente no Norte e no Nordeste. No Amazonas, dois arquiinimigos estão na mesma coligação. Por imposição do Planalto, o secretário-geral do PSDB, deputado Arthur Virgílio, vai estar do lado do governador Amazonino Mendes (PFL), que tenta a reeleição.
Virgílio apoiava Serafim Corrêa (PSB), que reunia em torno de sua candidatura ao governo todos os partidos de esquerda, inclusive o PT. Com as mudanças, Corrêa desistiu e virou vice de Eduardo Braga (PSL), que, até um ano atrás, era pupilo de Amazonino.
"Eu não vou pedir votos para o Amazonino. Quando o presidente Fernando Henrique for ao Amazonas, haverá dois eventos: um com o governador e outro com o PSDB", garante Virgílio.
Braga, que já foi do PPB, diz que vai pedir votos para Lula, mas como o PPS faz parte de sua coligação, afirma que haverá espaço também para Ciro em seu palanque. "Foram eles que montaram uma aliança frankenstein. Arthur e Amazonino são como água e vinho", compara.

Maranhão
O eleitor que acreditava na divisão entre esquerda e direita pode esquecer esses conceitos no Maranhão. Lá, as eleições são polarizadas entre o grupo do ex-presidente José Sarney e a oposição.
O PDT, o PSB, o PPS e o PSDB estarão no palanque do senador Epitácio Cafeteira (PPB).
O PC do B, que participa do governo de Roseana Sarney (PFL), vai apoiá-la.
"No Maranhão, não tem direita, esquerda e centro. Tem um grupo que está no poder há 33 anos e aqueles que querem ter um suspiro", explica o deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA).

Paraná
O governador do Paraná, Jaime Lerner, que agora é do PFL, mas já foi do PDT, tem em seu palanque o PSB, partido que participa de seu governo. Por obra do Planalto, o tucano Álvaro Dias deve apoiar Lerner, seu adversário político de longa data. Do lado oposto, o senador Roberto Requião (PMDB) fez aliança com o PT.
O PSB do governador Miguel Arraes (PE) também está junto com o PFL no Rio Grande do Norte, onde as eleições estaduais são sempre uma disputa entre duas famílias: Maia e Alves.
O senador Agripino Maia (PFL), candidato ao governo, tem o apoio da prefeita de Natal, Wilma de Faria (PSB), que já foi casada com o ex-governador Lavoisier Maia. O governador Garibaldi Alves (PMDB) costurou uma aliança insólita: em seu palanque estarão juntos o PPS e o PPB.



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