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REFORMA SOB PRESSÃO
Presidente afirma que só bate o martelo na "25ª hora"
Sem concessão, reforma não passa, dizem líderes a Lula
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disse ontem aos líderes
dos partidos da base aliada na Câmara ser contra alterações no relatório da reforma da Previdência,
mas foi advertido de que o governo corre o sério risco de ser derrotado em votações cruciais, caso
não faça concessões, principalmente ao Judiciário.
Muito embora tenha criticado o
que considerou precipitação da
base nas concessões feitas até agora, Lula não descartou as mudanças em discussão. O presidente
disse que baterá o martelo apenas
na "25ª hora" - na noite da próxima segunda, após consultar os
governadores de Estado e novamente ouvir os líderes aliados.
As declarações foram feitas durante almoço de quase três horas
na casa do ministro José Dirceu
(Casa Civil) com 9 dos 10 líderes
dos partidos da coalizão governista (faltou o PDT, que vive às turras
com o governo), além do líder do
governo na Câmara, Aldo Rebelo
(PC do B-SP).
Todos os líderes se declararam
favoráveis ao acordo que estabelece subteto de 90,25% do salário
de ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) para juiz estadual. Lula afirma preferir o subteto de 75%. Alguns líderes chegaram a ser dramáticos.
Eunício Oliveira (CE), do
PMDB, disse que, se o presidente
insistir nos 75%, o painel de votação mostrará o voto "Sim" do líder. Mas a listagem a seguir, dos
deputados do partido, será dominada pelo "Não". Outro líder
questionou Lula afirmando que
se o governo pode ganhar o jogo
de 7 x 0, por que tentar ganhar de
10 e correr o risco de perder?"
O líder do PTB, Roberto Jefferson (RJ), provocou Lula: "O sr.
chegou até aqui sem negociar?"
Entre cálculos dos líderes para
suspeitar de uma eventual derrota
na questão do subteto está a presença de 149 deputados que são
advogados. Todos com ligações
com o Judiciário.
"Nós chegamos perto da aprovação, acumulamos muita negociação, não podemos engasgar
agora com um mosquito", afirmou o líder do PSB, Eduardo
Campos (PE), referindo-se à polêmica com o Judiciário, que entrava a votação.
Segundo relato dos presentes,
Lula abriu sua fala dizendo que
sua posição não poderia ser outra:
"É o texto do José Pimentel [deputado do PT-CE, relator da reforma]", teria dito. Apesar disso,
disse que anotou todas as ponderações da base e que qualquer
mudança será feita de comum
acordo com os aliados.
Em seguida, o presidente teria
recorrido às metáforas relativas
ao futebol. "Hoje estamos nos 15
minutos da prorrogação, na segunda, vamos estar nos 25 minutos, vou decidir na 25ª hora."
Ainda durante sua fala, Lula
avaliou que a base aliada teria se
precipitado ao liderar uma mobilização para mudanças na reforma ainda na votação da comissão
especial encerrada na semana
passada. Na ocasião, os líderes,
conduzidos pelo presidente da
Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), encamparam propostas do
Judiciário que acabaram resultando na manutenção, para o atual
funcionalismo, do salário integral
e da paridade dos reajustes entre
ativos e inativos.
"Talvez tenhamos avançado
nessas negociações. As alterações
que foram feitas deveriam estar
sendo operadas agora. Todo negociador sabe que se você cede
em um primeiro momento, fica
sem margem de manobra no segundo", teria dito o presidente.
Deputados afirmaram que, para
exemplificar sua análise, ele afirmou conhecer prefeituras do PT
que deram grandes aumentos ao
funcionalismo no primeiro ano
de mandato e que, com a impossibilidade de repetir a dose, inviabilizaram as gestões.
A avaliação dos líderes na saída
do almoço, que teve como cardápio rabada e frango ao vinho com
polenta, é a de que haverá mudanças na segunda, até mesmo um
possível meio termo para o subteto (algo entre 75% e 90,25%) ou a
volta da unificação dos subtetos
estaduais. Outra alteração defendida é a que trata das novas pensões, que, na proposta, têm redução para o que exceder R$ 1.058.
"O presidente hoje foi uma esfinge, não conseguimos decifrá-lo, mas alguma coisa vai ter na segunda", afirmou o deputado Nelson Pellegrino (PT-BA).
Segundo os líderes, foi fechado
acordo para que não haja emendas da base na votação.
(RAYMUNDO COSTA, OTÁVIO CABRAL, RANIER BRAGON E FERNANDA KRAKOVICS)
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