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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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PF vê "panela de pressão" no campo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tensão no campo vem aumentando como uma "panela de pressão" no fogo. É por meio dessa comparação que a cúpula da Polícia Federal descreve o conflito entre sem-terra e ruralistas, um dos problemas que mais causam dor de cabeça ao governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Para piorar, a PF não tem como impedir a explosão dessa "panela de pressão". Segundo um integrante da cúpula do órgão ouvido pela Folha, não é possível monitorar todo o país porque faltam recursos e funcionários.
No Ministério da Justiça, a situação é comparada a um "fio desencapado". A pasta está preocupada com a limitação da PF -incapaz de monitorar um grupo tão pulverizado como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)- e com a pressão dos movimentos sociais, que acreditam que o novo governo atenderá logo a suas demandas.

Eldorado do Carajás
O Ministério da Justiça teme que um grupo de sem-terra apartado da liderança nacional se envolva num conflito armado com proprietários rurais -um "novo Eldorado do Carajás".
A referência é ao episódio de 17 de abril de 1996, quando 19 sem-terra morreram num confronto com policiais militares durante a desobstrução de uma estrada no sul do Pará.
O governo também vê o outro lado com preocupação. A PF encontrou milícias armadas em fazendas nas duas regiões onde a situação é mais preocupante: a fronteira entre Paraná e São Paulo e o Pontal do Paranapanema (oeste de São Paulo). O problema, dizem especialistas da PF, é que muitos ruralistas não dão aos seguranças uma estrutura adequada. Eles costumam ser contratados em cima da hora, quando há risco de invasão iminente.
Porém, para evitar um caso semelhante ao de Eldorado do Carajás, na avaliação da PF e do governo, só a repressão policial não é suficiente. É preciso pelo menos um aceno do Ministério do Desenvolvimento Agrário com informações de número, local e infra-estrutura dos assentamentos do país.
A Folha apurou que o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, diariamente recebe um relatório de todas as superintendências do órgão no país a respeito do "clima no campo". O documento é repassado ao ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que fala com Lula sobre o assunto.
Ontem pela manhã, por exemplo, antes de uma reunião do chamado "núcleo duro" do governo, realizada no Palácio do Planalto, Bastos chamou Lacerda às pressas para se atualizar.

Sem-teto
A Folha apurou que a PF também infiltrou agentes no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em São Paulo -outro forte foco de tensão social.
O objetivo é subsidiar o Executivo com informações sobre o movimento em vez de promover algum tipo de repressão. Isso porque a responsabilidade legal de investigar o grupo é da polícia estadual. (ID)


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