|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PF vê "panela de pressão" no campo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A tensão no campo vem aumentando como uma "panela de
pressão" no fogo. É por meio dessa comparação que a cúpula da
Polícia Federal descreve o conflito
entre sem-terra e ruralistas, um
dos problemas que mais causam
dor de cabeça ao governo Luiz
Inácio Lula da Silva.
Para piorar, a PF não tem como
impedir a explosão dessa "panela
de pressão". Segundo um integrante da cúpula do órgão ouvido
pela Folha, não é possível monitorar todo o país porque faltam
recursos e funcionários.
No Ministério da Justiça, a situação é comparada a um "fio desencapado". A pasta está preocupada com a limitação da PF -incapaz de monitorar um grupo tão
pulverizado como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra)- e com a pressão dos
movimentos sociais, que acreditam que o novo governo atenderá
logo a suas demandas.
Eldorado do Carajás
O Ministério da Justiça teme
que um grupo de sem-terra apartado da liderança nacional se envolva num conflito armado com
proprietários rurais -um "novo
Eldorado do Carajás".
A referência é ao episódio de 17
de abril de 1996, quando 19 sem-terra morreram num confronto
com policiais militares durante a
desobstrução de uma estrada no
sul do Pará.
O governo também vê o outro
lado com preocupação. A PF encontrou milícias armadas em fazendas nas duas regiões onde a situação é mais preocupante: a
fronteira entre Paraná e São Paulo
e o Pontal do Paranapanema
(oeste de São Paulo). O problema,
dizem especialistas da PF, é que
muitos ruralistas não dão aos seguranças uma estrutura adequada. Eles costumam ser contratados em cima da hora, quando há
risco de invasão iminente.
Porém, para evitar um caso semelhante ao de Eldorado do Carajás, na avaliação da PF e do governo, só a repressão policial não
é suficiente. É preciso pelo menos
um aceno do Ministério do Desenvolvimento Agrário com informações de número, local e infra-estrutura dos assentamentos
do país.
A Folha apurou que o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, diariamente recebe um relatório de todas as superintendências do órgão no país a respeito do
"clima no campo". O documento
é repassado ao ministro Márcio
Thomaz Bastos (Justiça), que fala
com Lula sobre o assunto.
Ontem pela manhã, por exemplo, antes de uma reunião do chamado "núcleo duro" do governo,
realizada no Palácio do Planalto,
Bastos chamou Lacerda às pressas para se atualizar.
Sem-teto
A Folha apurou que a PF também infiltrou agentes no MTST
(Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto) em São Paulo -outro
forte foco de tensão social.
O objetivo é subsidiar o Executivo com informações sobre o movimento em vez de promover algum tipo de repressão. Isso porque a responsabilidade legal de
investigar o grupo é da polícia estadual.
(ID)
Texto Anterior: Congressistas temem radicalização Próximo Texto: Juiz põe sem-terra entre bandidos, diz ministro Índice
|