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TENSÃO SOCIAL
Enquanto governo estuda liberação de dinheiro, ministro adia assentamento das 60 mil famílias prometidas
Lula pressiona Rossetto, que reclama verba
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Preocupado com a "tensão social" no campo, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva convocou
uma reunião na manhã de ontem
para cobrar avanços no processo
de reforma agrária.
Ouviu do principal responsável
pelo assunto, o ministro Miguel
Rossetto (Desenvolvimento
Agrário), que é preciso dinheiro.
O ministro quer o dobro do que
estava previsto no Orçamento somente para cumprir a meta de assentar 60 mil famílias neste ano.
Rossetto iniciou o ano com R$
480 milhões no Orçamento. Depois de dois contingenciamentos
(bloqueios), possui R$ 162 milhões disponíveis -o que daria
para assentar 10 mil famílias.
Segundo cálculos iniciais do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), seria
necessário aproximadamente R$
1 bilhão para que os assentamentos deste ano cumpram o que estava previsto.
Mais tempo
A demora no repasse de recursos levou Rossetto a adiar a data
de cumprimento da meta. As 60
mil famílias, agora, seriam assentadas até março de 2004 -e não
mais até o final deste ano.
Segundo o secretário-geral da
Presidência da República, ministro Luiz Dulci, que comanda um
grupo de trabalho sobre o tema,
foram apresentados um relatório
parcial contendo o estoque de terras públicas disponíveis para assentamento e um estudo, também inconcluso, para a redução
do tempo de desapropriação de
terras -que atualmente demora
cerca de 12 meses.
Economia
Além do dinheiro, o volume de
terras disponíveis é um dos principais entraves para que a reforma
agrária deslanche. Segundo cálculos de Dulci, o valor da terra corresponde a 70% dos custos de um
assentamento. Ao usar áreas públicas, esse impedimento seria eliminado, crê o governo.
Lula pediu que os ministros
conversassem com governadores
para que terras estaduais disponíveis também façam parte desse
estoque para assentamentos. E
que todo esse processo se dê o
mais rapidamente possível. Lula
disse aos nove ministros envolvidos no tema que a reforma deve
ser acelerada, mas sem esquecer
as limitações legais.
No início da reunião, o ministro
Márcio Thomaz Bastos (Justiça)
falou ao grupo da situação no
campo, considerada "preocupante", e do crescimento da tensão
entre sem-terra e ruralistas nos
últimos meses.
A Folha apurou que o relato de
Bastos impressionou Lula, que
afirmou estar "sensível" às reivindicações sociais. O presidente viaja na próxima semana à África e
quer deixar a questão encaminhada antes de terça-feira.
Para isso, pediu que Rossetto
detalhe quanto exatamente seria
preciso para o assentamento das
60 mil famílias.
Os ministros também discutiram as demandas de saúde, educação e infra-estrutura dos assentamentos no governo Lula.
A equipe petista critica a reforma agrária do governo Fernando
Henrique Cardoso por causa da
precariedade dos assentamentos.
No poder, o PT quer investir simultaneamente na qualidade e na
quantidade de assentamentos.
Recursos
O que Lula pediu a Rossetto foi
justamente o detalhamento do
que será gasto com a reforma
agrária.
A Folha apurou que, durante a
reunião com Lula, o ministro disse que, com os R$ 163 milhões disponíveis, não se faz reforma agrária nem no Rio Grande do Sul. E
que assentar 10 mil pessoas até dezembro já seria muito.
Segundo relato de Dulci, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) deu a entender que vai agilizar o descontingenciamento dos
recursos de Rossetto. A Folha
apurou que o ministro já vem estudando essa questão desde a semana passada, mas ainda não há
prazo definido para que o dinheiro seja liberado.
(IURI DANTAS, LEILA SUWWAN, LUCIANA CONSTANTINO E
JULIA DUAILIBI)
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