São Paulo, sábado, 1 de agosto de 1998

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TELECOMUNICAÇÕES
Banco de fomento resiste em conceder financiamento a estatal para pagamento de telefônica privatizada
BNDES reage à atuação de BB em consórcio


CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

A resistência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em financiar o consórcio que comprou a Tele Norte Leste tem como principal motivo a presença no grupo do Banco do Brasil, por intermédio das empresas Brasilveículos e Aliança Seguros.
O consórcio foi o único nacional a comprar uma empresa de telefonia fixa no leilão de quarta-feira. Ele é integrado pela Andrade Gutierrez, Inepar, Macal, Fiago (na qual estão cinco fundos de pensão de estatais), Brasilveículos e Aliança Seguros. O BB tem participação no controle das duas últimas.
Segundo a Folha apurou, o BNDES não digeriu até hoje a presença majoritária do BB, por meio de fundos de terceiros que ele administra, na compra da Coelba, empresa baiana de energia elétrica leiloada em 31 de julho de 97.

Participação do BB
A Coelba foi vendida à empresa Guaraniana, integrada pela espanhola Iberdrola, pelo Banco do Brasil e pela Previ, fundo de pensão dos empregados do banco. A participação total do BB chegou a 56%. O preço pago pelo controle da Coelba foi de R$ 1,73 bilhão, com ágio de 65,4% sobre o preço mínimo.
Na época, o diretor financeiro do BB, Carlos Caetano, disse que 44% eram recursos de terceiros.
O BNDES, gestor das privatizações federais e assessor das estaduais, financiou a compra da Coelba com um total R$ 488 milhões, segundo o banco.
Agora, o BNDES, estatal como o Banco do Brasil, decidiu tentar impedir a repetição do caso da Coelba, usando para isso a arma ao alcance da sua mão, o dinheiro do financiamento.
O argumento do gestor das privatizações é que a soma das participações do BB com os fundos de pensão (Previ, Sistel, Telos, Funcef e Petros) ultrapassa 25% do consórcio vencedor do leilão da Tele Norte Leste.
Esse índice é o teto fixado previamente pelo BNDES para a presença estatal em consórcios que pretendessem pleitear dele recursos para pagamento de até 20% do valor das teles arrematadas.
Os compradores terão que pagar 40% do valor das empresas até a próxima terça-feira.
O valor da entrada da Tele Norte Leste é de R$ 1,33 bilhão. Desses, o BNDES pode financiar até R$ 686 milhões, desde que os financiados sejam empresas nacionais e não sejam estatais.
Na manhã de anteontem, chegou a ser divulgada declaração atribuída ao vice-presidente do BNDES, José Pio Borges, chamando o consórcio comprador da Tele Norte Leste (formada por telefônicas de 16 Estados) de "consórcio chapa branca".

Motivos
Desde então, Borges decidiu não mais falar com jornalistas. Na noite da quinta-feira, o diretor da BNDESPar (BNDES Participações), Nélson Rosenthal, explicou os motivos da recusa em financiar os compradores da telefônica.
O presidente da Andrade Gutierrez Telecomunicações, Otávio Azevedo, disse à Folha ontem que tudo já estava resolvido, mas até as 19h o BNDES não confirmava a informação.
No lado dos fundos de pensão, a situação era de expectativa. Segundo a Folha apurou, eles entraram na disputa pela tele sem esperança de ganhar, instados pelo governo com o objetivo de gerar disputa nos leilões das teles.
Com a desistência compulsória (por força do regulamento) dos consórcios vencedores dos leilões da Telesp fixa e da Tele Centro Sul, eles acabaram ganhando a Tele Norte Leste sem disputa, com ágio de 1% sobre o preço mínimo.
Além da oposição ao BB, a decisão de não financiar o consórcio viria também da preocupação do BNDES com o retorno dos recursos que repassará a ele, via compra de títulos conversíveis em ações. Por isso o banco preferia que houvesse no consórcio um operador de telecomunicações.


Colaborou Elvira Lobato, da Sucursal do Rio



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