São Paulo, sábado, 1 de agosto de 1998

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SUCESSÃO
Presidente confirma que área social só será beneficiada indiretamente pela privatização do Sistema Telebrás
Verba de teles não vai para obras, diz FHC

EMANUEL NERI
enviado especial a Ouricuri (PE)

O presidente Fernando Henrique Cardoso informou ontem que só de forma indireta e eventual poderá usar o dinheiro da privatização da Telebrás em obras sociais.
"Onde houver necessidade, nós vamos ter certa margem de manobra com os juros do ágio, que correspondem a algumas centenas de milhões de dólares", afirmou FHC ao visitar Ouricuri (642 km a oeste de Recife).
O presidente citou um dos projetos que podem ser beneficiados com esse dinheiro. O Bolsa Criança Cidadão, que tem como objetivo tirar crianças do trabalho para colocar na escola, pode eventualmente receber parte do que foi economizado com o abatimento da dívida pública, destino do dinheiro da privatização do Sistema Telebrás.
"Às vezes faltam recursos para esse tipo de questão", afirmou. Para FHC, o dinheiro da venda da Telebrás pode ser usado para evitar que programas como esse tenham problema de continuidade.
O presidente afirmou que projetos na área da seca também podem ser beneficiados.
FHC esteve em Ouricuri para visitar obras do Sistema Adutor Oeste, que transporta água do rio São Francisco por 721 km. A água é captada em Orocó (PE) e percorre 13 municípios pernambucanos e seis piauienses.

Transposição das águas
O presidente afirmou que aquela obra é um "ensaio de uma transposição mais ampla" de águas do São Francisco que será feita por ele em seu eventual segundo mandato. A transposição, que tornará perenes rios secos, é uma reivindicação de Estados nordestinos.
Na campanha eleitoral de 94, FHC havia prometido realizar essa obra, avaliada em R$ 1,5 bilhão. Ontem, em mais uma promessa de campanha, ele afirmou que a obra deve ser iniciada antes do final do próximo ano. O Ceará, Estado que FHC visita hoje, é um dos principais defensores do projeto.
"Vamos fazê-la (a transposição) com a certeza de que não vamos prejudicar nem Pernambuco nem Bahia", disse FHC. A transposição não conta com a simpatia dos políticos baianos aliados de FHC, principalmente do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL).

Verba e campanha
Na visita a Ouricuri, FHC negou que tenha liberado verbas para Estados que estão sendo visitados por ele. "Todos os dias há liberação de verbas. É má-fé dizer que houve liberação só porque eu estou visitando esses Estados."
FHC também se queixou dos saques que ocorreram em Pernambuco nos últimos dias. "Essa questão fica muito mal. Anuncio que venho ao Nordeste e vão saquear?", disse. "Meu Deus, esse é um caso de polícia", completou.
A viagem de FHC a Pernambuco e ao Ceará tem trechos oficiais, que ele faz como presidente, e outros de campanha eleitoral.
A principal atividade de campanha era um comício previsto para ontem à noite em Juazeiro do Norte (CE).

Veto
O comando político da campanha da reeleição vetou a participação de FHC em alguns atos que pudessem comprometer a imagem dele como presidente.
Um deles foi o cancelamento, ontem, no final do dia, da visita ao assentamento urbano Rabo da Gata, em Juazeiro do Norte, no Ceará.
A área fica nos limites do município e é habitada por pessoas de baixa renda. Temia-se que algum incidente nesse local levasse o presidente a ser motivo de chacotas.
A previsão era que até 15 mil pessoas acompanhassem esse primeiro comício no Nordeste.


Colaborou William França, enviado especial a Juazeiro do Norte (CE)


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