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CONTAS PÚBLICAS
Plano conta com ajuda do Congresso e da economia
Orçamento evita cortes
e depende de arrecadação
VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia da Sucursal de Brasília
O governo federal vai depender
do aumento da arrecadação para
cumprir as metas para as contas
públicas de 2000. Parte das receitas previstas, porém, depende da
aprovação do Congresso Nacional e da expectativa de crescimento econômico.
Como mostra o Orçamento do
próximo ano, divulgado ontem,
as despesas federais não serão reduzidas, apesar de o acordo com
o Fundo Monetário Internacional exigir uma economia maior
para o pagamento de juros da dívida pública.
Isso será conseguido, nas previsões oficiais, com mais receita
-que deve passar de R$ 211,052
bilhões, estimativa para este ano,
para R$ 229,215 bilhões.
As despesas crescerão, segundo
o Orçamento, mas em volumes
inferiores aos das receitas, de R$
168,698 bilhões para R$ 200,752
bilhões, sem contar os juros.
É verdade que o governo não
tem controle sobre a maior parte
das suas despesas. Os gastos com
pessoal, aposentados, subsídios e
transferências são imposições legais que representam mais de
80% do Orçamento.
Mas mesmo nas despesas que o
governo pode manejar -saúde,
educação, outras despesas sociais
e investimentos formam esse
grupo- há crescimento, de R$
35,69 bilhões para R$ 39,365 bilhões.
Como comparação, esse grupo
de despesas contribuiu neste ano
para o ajuste das contas públicas,
com redução em relação ao volume de 1998 (R$ 40,178 bilhões).
Como resultado da diferença
entre receitas e despesas, o chamado superávit primário federal
deverá crescer de R$ 24,354 bilhões para R$ 28,463 bilhões.
Esses valores, que são na prática
os volumes disponíveis para o pagamento dos juros da dívida da
União, equivalem a, respectivamente, 2,5% e 2,65% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da
renda nacional em determinado
período).
As metas negociadas com o
FMI estabelecem superávits primários, para todo o setor público
(incluindo Estados, municípios e
estatais), de 3,1% do PIB em 1999
e 3,25% do PIB em 2000. O governo federal deve responder pela
maior parte desses resultados.
Uma das principais preocupações do governo, ao anunciar o
Orçamento, foi tentar afastar os
temores de que não será possível
cumprir as metas mais exigentes
fixadas para o próximo ano.
Essa suspeita, baseada nas dificuldades do governo em aprovar
reformas no Congresso e evitar
demandas políticas por aumentos de gastos, se disseminou pelo
mercado financeiro nas últimas
semanas e esteve entre as causas
da recente alta do dólar.
Ontem, com o Orçamento e o
Plano Plurianual (que fixa parâmetros para investimentos até
2003), o governo anunciou mais
duas providências para o equilíbrio de suas contas.
Foi enviado ao Congresso um
projeto de lei prorrogando até
2002 a cobrança do adicional de
10% sobre o Imposto de Renda
dos trabalhadores que ganham
mais de R$ 1.800 mensais.
Esse adicional -que fez a alíquota mais alta do IR subir de
25% para 27,5% e deve render R$
1,3 bilhão ao ano- foi proposto
em 1997, como parte de um pacote fiscal que não foi posto em prática na realidade, e deveria vigorar até dezembro deste ano.
Também foi proposta, na forma de emenda à Constituição, a
prorrogação do FEF (Fundo de
Estabilização Fiscal, formado por
20% das receitas de impostos e
contribuições federais) até 2007.
Utilizado desde 1994, o FEF,
que não terá mais um nome próprio e deixará de fora as transferências a Estados e municípios,
permite que o governo use livremente seus recursos, escapando
de gastos tornados obrigatórios
pela Constituição.
Essas não são as únicas fontes
de receita que dependem da
aprovação do Congresso. No sábado, o governo editou medida
provisória prorrogando até 2002
o aumento de 8% para 12% da alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).
O adicional da CSLL, outra medida "temporária", deveria se extinguir em dezembro. Mas o governo concluiu que não poderia
abrir mão da receita extra, estimada em R$ 2,7 bilhões anuais.
O governo também conta com
uma reação da economia para alcançar os resultados desejados.
Calcula-se que o esperado crescimento de 4% do PIB gere arrecadação adicional de R$ 7,5 bilhões.
Desde 1995, o governo tem feito
estimativas para o crescimento
anual que não se confirmam. Se
isso se repetir em 2000, o superávit desejado ficará em xeque.
Poder Judiciário
Há também receitas sob ameaça
do Poder Judiciário. É o caso do
aumento da contribuição previdenciária dos servidores públicos
da ativa e da criação de uma contribuição para os inativos, questionados no Supremo Tribunal
Federal.
O Orçamento de 2000 considera
que o governo terá ganho de causa integral no STF, o que a própria
assessoria jurídica do Palácio do
Planalto considera improvável.
As duas medidas, juntas, rendem
R$ 2,8 bilhões ao ano.
O ministro Martus Tavares
(Planejamento, Orçamento e
Gestão) argumenta que, mesmo
que o governo perca parcial ou inteiramente no STF, a receita poderá ser recomposta com a instituição da contribuição dos militares -que não está prevista no Orçamento, mas também depende
do Congresso.
O governo promete ainda que,
no caso de o Congresso não aprovar as propostas de aumento de
receitas, promover cortes nas despesas previstas para o próximo
ano.
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