São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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Às lágrimas, "Tattolândia" faz sua choppada da derrota

Petistas tinham reservado 600 litros de chopp para comemorar a virada, mas desanimaram no início da apuração

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi com lágrimas e 600 litros de chopp que os apoiadores da prefeita Marta Suplicy da Capela do Socorro, zona sul da cidade, acompanharam a apuração dos votos da eleição de ontem.
Às 17h05, logo depois do fechamento das urnas, cerca de 500 militantes começaram a chegar ao comitê central de campanha da região, colorindo-o com o vermelho das camisetas do PT.
Vinham cheios de expectativas, com números que um contava para outro e que se alastravam como se fossem verdadeiros. O primeiro apoiador a chegar ao comitê tinha a informação "quente" de que pesquisas de boca-de-urna indicavam vitória de Marta Suplicy por 54% a 45%. Foi uma festa efêmera.

Choppada da vitória
Era para ser uma choppada da vitória. Mas bastou começar a divulgação dos primeiros resultados oficiais da apuração, e os olhos de vários militantes encheram-se de lágrimas. Muitos abraçavam-se. Era a despedida.
Foram 120 dias de trabalho na campanha, debaixo de sol e de chuva, sem domingo ou feriado. Os apoiadores da prefeita na Capela do Socorro, a maior parte remunerada pelo partido a R$ 784 mensais, percorreram cada rua do distrito.
"A Capela, sitiada, vai resistir", garantia Everton Soares, 22, agente de viagens, sentindo o isolamento entre o ânimo no comitê e a situação no restante da cidade. Militante do PT há 8 anos, Soares ainda lamentava o resultado da eleição -"veja que povo mais mal agradecido", dizia- quando o aparelho de som do comitê começou a tocar o hino de campanha de Marta: "São Paulo é Marta, Marta..."

Vamos entrar no samba
Uma apoiadora, Maria Aparecida de Andrade, 56, tímida, reclamou baixinho: "Agora, já chega. Vamos entrar no samba, que é o melhor para esquecer."
A Capela do Socorro é reduto do PT e da família Tatto, que conseguiu reeleger o vereador Arselino Tatto para o quinto mandato na Câmara, principalmente a partir de votos da região. Não por acaso, a Capela tem até o apelido de Tattolândia.
Foi lá que aconteceu a chamada "Operação Caça-Vampiro", no dia 23 de setembro, quando petistas coordenados por Glauco Piai, tentaram impedir o candidato José Serra de percorrer a região, ainda durante a disputa do primeiro turno.
O mesmo Piai, ontem, antes da apuração dos votos, dizia ter providenciado um saco de serragem para forrar a entrada do comitê petista. "Para o caso de o Serra virar pó." Com a divulgação dos primeiros resultados, Piai procurava acalmar os militantes mais desconsolados. Abraçava um e outro, enquanto conferia os BUs, ou boletins de urnas, que os fiscais do PT da região lhe traziam e que continham os resultados de cada urna eletrônica do bairro. "Pena que São Paulo não é a Capela."


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