São Paulo, quarta-feira, 01 de novembro de 2006

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D. Cláudio deixa Arquidiocese de SP e vai para o Vaticano

Cardeal comandará Congregação para o Clero, à frente de 400 mil padres no mundo

Atuação de d. Cláudio à frente dos seminários em SP pesou na escolha; ele diz que a igreja viveu "crise" com casos de pedofilia

RAFAEL CARIELLO
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dom Cláudio Hummes, 72, foi nomeado ontem pelo Vaticano prefeito da Congregação para o Clero, espécie de "ministro" do papa, encarregado da formação e dos assuntos relativos a padres de todo o mundo.
Ele deixa de ser arcebispo de São Paulo, função que ocupava desde 1998, e passa a ser administrador apostólico da arquidiocese de São Paulo até que o papa Bento 16 nomeie o seu substituto. É o terceiro brasileiro a assumir uma Congregação. Os outros foram dom Agnelo Rossi, à frente da Evangelização dos Povos (1970-1984), e dom Lucas Moreira Neves, que chefiou a Congregação para os Bispos (1998-2000). Em comum, os três foram bispos na Arquidiocese de São Paulo.
Um dos nomes mais mencionados entre religiosos brasileiros para sucedê-lo em São Paulo é o de dom Odilo Scherer, secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e ex-bispo-auxiliar de dom Cláudio Hummes (ler texto nesta página).
O cargo agora ocupado por d. Cláudio na Cúria Romana pode ser considerado, a princípio, de menor prestígio do que a Congregação para os Bispos e do que a Congregação para a Evangelização dos Povos.
No entanto, ganha hoje importância estratégica devido à diminuição das vocações para a vida religiosa e às acusações de pedofilia que membros da Igreja passaram a enfrentar.
Dom Cláudio, que tratará dos assuntos relativos a 400 mil padres em todo o mundo, reconheceu ontem que a Igreja viveu uma crise com esses casos: "Estamos saindo de uma crise muito forte. Isso não significa que casos como esses não vão mais ocorrer".
O novo integrante da Cúria também disse que a tendência hoje é que a administração dos seminários católicos em todo o mundo, hoje sob a alçada da Congregação para a Educação Católica, passem para o controle da Congregação para o Clero. O papa, no entanto, ainda não se manifestou definitivamente sobre o assunto.
Uma das razões apontadas para a indicação de d. Cláudio é o seu desempenho à frente dos seminários em São Paulo. Ele pôs em prática maior rigor na escolha dos novos seminaristas, acompanhamento maior dos futuros padres e maior exigência nos estudos.
Luiz Felipe Pondé, professor de teologia da PUC-SP que já deu aulas para seminaristas formados pela arquidiocese, diz que o cardeal "organizou" a formação de padres em São Paulo. E acrescenta: "Houve uma perceptível diminuição de seminaristas homossexuais" entre seus alunos.
Segundo dom Pedro Luiz Stringhini, bispo-auxiliar de São Paulo, "d. Cláudio certamente foi chamado para trabalhar nessa Congregação dada a experiência que ele tem em proporcionar uma formação sólida aos sacerdotes".
"Há [hoje] uma seleção melhor e mais rigorosa dos candidatos", diz d. Pedro. Para ele, é justamente esse o fator a dar esperanças à Igreja de conseguir sair do que também vê como "uma crise" -as acusações de pedofilia e abusos sexuais.
Franciscano, d. Cláudio é considerado um bispo moderado e pluralista, capaz de dar espaço às manifestações de todas as correntes de católicos. Natural de Montenegro (RS), ordenou-se padre em 1958. Em 1975 foi nomeado bispo de Santo André (SP). Teve participação decisiva de apoio aos metalúrgicos durante as greves no ABC no final dos anos 70. No ano passado, d. Cláudio foi um dos nomes cotados para tornar-se o novo papa.


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