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D. Cláudio deixa Arquidiocese de SP e vai para o Vaticano
Cardeal comandará Congregação para o Clero, à frente de 400 mil padres no mundo
Atuação de d. Cláudio à frente dos seminários em SP pesou na escolha; ele diz que a igreja viveu "crise" com casos de pedofilia
RAFAEL CARIELLO
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dom Cláudio Hummes, 72,
foi nomeado ontem pelo Vaticano prefeito da Congregação
para o Clero, espécie de "ministro" do papa, encarregado da
formação e dos assuntos relativos a padres de todo o mundo.
Ele deixa de ser arcebispo de
São Paulo, função que ocupava
desde 1998, e passa a ser administrador apostólico da arquidiocese de São Paulo até que o
papa Bento 16 nomeie o seu
substituto. É o terceiro brasileiro a assumir uma Congregação. Os outros foram dom Agnelo Rossi, à frente da Evangelização dos Povos (1970-1984),
e dom Lucas Moreira Neves,
que chefiou a Congregação para os Bispos (1998-2000). Em
comum, os três foram bispos na
Arquidiocese de São Paulo.
Um dos nomes mais mencionados entre religiosos brasileiros para sucedê-lo em São Paulo é o de dom Odilo Scherer, secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) e ex-bispo-auxiliar
de dom Cláudio Hummes (ler
texto nesta página).
O cargo agora ocupado por d.
Cláudio na Cúria Romana pode
ser considerado, a princípio, de
menor prestígio do que a Congregação para os Bispos e do
que a Congregação para a
Evangelização dos Povos.
No entanto, ganha hoje importância estratégica devido à
diminuição das vocações para a
vida religiosa e às acusações de
pedofilia que membros da Igreja passaram a enfrentar.
Dom Cláudio, que tratará dos
assuntos relativos a 400 mil padres em todo o mundo, reconheceu ontem que a Igreja viveu uma crise com esses casos:
"Estamos saindo de uma crise
muito forte. Isso não significa
que casos como esses não vão
mais ocorrer".
O novo integrante da Cúria
também disse que a tendência
hoje é que a administração dos
seminários católicos em todo o
mundo, hoje sob a alçada da
Congregação para a Educação
Católica, passem para o controle da Congregação para o Clero.
O papa, no entanto, ainda não
se manifestou definitivamente
sobre o assunto.
Uma das razões apontadas
para a indicação de d. Cláudio é
o seu desempenho à frente dos
seminários em São Paulo. Ele
pôs em prática maior rigor na
escolha dos novos seminaristas, acompanhamento maior
dos futuros padres e maior exigência nos estudos.
Luiz Felipe Pondé, professor
de teologia da PUC-SP que já
deu aulas para seminaristas
formados pela arquidiocese,
diz que o cardeal "organizou" a
formação de padres em São
Paulo. E acrescenta: "Houve
uma perceptível diminuição de
seminaristas homossexuais"
entre seus alunos.
Segundo dom Pedro Luiz
Stringhini, bispo-auxiliar de
São Paulo, "d. Cláudio certamente foi chamado para trabalhar nessa Congregação dada a
experiência que ele tem em
proporcionar uma formação
sólida aos sacerdotes".
"Há [hoje] uma seleção melhor e mais rigorosa dos candidatos", diz d. Pedro. Para ele, é
justamente esse o fator a dar
esperanças à Igreja de conseguir sair do que também vê como "uma crise" -as acusações
de pedofilia e abusos sexuais.
Franciscano, d. Cláudio é
considerado um bispo moderado e pluralista, capaz de dar espaço às manifestações de todas
as correntes de católicos. Natural de Montenegro (RS), ordenou-se padre em 1958. Em 1975
foi nomeado bispo de Santo
André (SP). Teve participação
decisiva de apoio aos metalúrgicos durante as greves no ABC
no final dos anos 70. No ano
passado, d. Cláudio foi um dos
nomes cotados para tornar-se o
novo papa.
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