São Paulo, Quarta-feira, 01 de Dezembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Comissão requisitará nova perícia para investigar se não houve irregularidades nos exames
Laudo confirma suicídio de investigador

RICARDO BRANDT
free-lance para a Folha Campinas

MAURÍCIO SIMIONATO
da Folha Campinas


Os laudos periciais sobre a morte do investigador Luiz Roberto Lopes, o Pimenta, da Polícia Civil de Campinas (99 km de SP), apontam que ele cometeu suicídio. Ele foi encontrado baleado no banheiro da delegacia onde trabalhava na segunda-feira da semana passada, após ser convocado para depor na CPI do Narcotráfico.
A CPI irá requisitar uma nova perícia para investigar se não houve irregularidades nos exames. "Estamos desconfiados de toda e qualquer investigação referente ao crime organizado, que é conduzida pela polícia de Campinas", disse o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), sub-relator da CPI em Campinas.
O laudo, realizado pelo Instituto de Criminalística de São Paulo e pelo Instituto Médico Legal de Campinas, confirma a tese da cúpula da Polícia Civil que afirmou, desde o início, que foi suicídio.
Segundo o laudo, os principais pontos que sustentam a conclusão de suicídio são os exames residuográficos, que apontaram a presença de pólvora nas duas mãos do policial, o local do crime, que teve a porta arrombada para o socorro, e possíveis indícios de que o suicídio foi premeditado.
Entre os objetos do policial foram encontradas duas cartas em que ele se diz humilhado por ter sido citado pela CPI e pede desculpas pelo ato. O exame grafotécnico, que comprova se a letra das cartas era de Pimenta, ainda não foi entregue à polícia. Segundo a Folha apurou, eles comprovam que a grafia é do policial.
O diretor do IC de São Paulo, Osvaldo Negrini Neto, disse que o laudo não pode ser contestado, pois a soma dos exames periciais, necroscópico, residuográfico e grafotécnicos apontam suicídio.
Apesar de todos os laudos apontarem para o resultado do suicídio, o chefe do IML de Campinas, Ivan de Mello Pompeo Piza, que participou da necropsia do corpo, disse que não é comum a forma que Pimenta se matou.
O tiro foi disparado contra o peito a uma distância de aproximadamente dois centímetros do corpo. O policial teria segurado a arma com as duas mãos. "Os suicídios normalmente acontecem com tiro na cabeça", disse Piza.
Para o legista Nelson Massini, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os itens apresentados se encaixam dentro do suicida clássico, mas concorda que na maioria da vezes o suicida se mata com um tiro na cabeça.
Ainda levantou suspeita dos deputados o fato de que, após a morte, apesar de a CPI ter requisitado que todos os exames fossem realizados por peritos de São Paulo, o corpo foi aberto no IML de Campinas.
"Não havia nenhuma determinação para não iniciarmos os exames em Campinas", disse o chefe do IML de Campinas.
O deputado federal Robson Tuma (PFL-SP), outro sub-relator em Campinas, disse que o fato de o corpo do policial ter sido aberto antes da chegada dos peritos de São Paulo levanta dúvidas sobre os resultados dos exames.


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