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DISPUTA DA COROA
Ao atacar Lula, ex-presidente avalia que vitória deste ano em São Paulo não dá força suficiente ao PSDB na próxima disputa pela Presidência
Para PSDB, FHC assume centro da oposição
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Demarcação de terreno. Mais
do que um sutil sinal de que não
está fora do páreo, o discurso de
véspera do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi encarado ontem por seus interlocutores
como a reafirmação de seu espaço
dentro do PSDB: o de referência
da oposição no país.
Ao dispensar a "luva de pelica"
na crítica ao governo federal, FHC
se lança como legítimo porta-voz
da oposição, no momento em que
a candidatura do governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin, à
Presidência em 2006 é dada como
natural e em que o governador de
Minas Gerais, Aécio Neves, investe numa campanha nacional sobre seu desempenho no Palácio
da Liberdade.
Para o deputado Aloysio Nunes
Ferreira, ministro do governo
FHC, "foi uma manifestação de
quem está na arena política".
"Não no sentido de se colocar como candidato, mas de assumir a
posição do líder que é."
O deputado resume: "FHC
mostra que está presente, tem liderança, idéias e será ouvido".
Segundo Aloysio, o próprio PT
acusa o golpe "ao dar faniquitos
cada vez que FHC se manifesta".
"Basta ele espirrar para o Mercadante ficar com pneumonia."
Ainda segundo interlocutores
de FHC, o discurso externa uma
ponderação antes feita veladamente pelo ex-presidente: que a
vitória em São Paulo não basta
para dar ao PSDB a musculatura
de rival do PT na eleição nacional.
É preciso investir na polarização.
Para o chefe da Casa Civil do governo do Estado de São Paulo, Arnaldo Madeira, "a fala do presidente é um marco, a indicação de
um discurso político para o partido". O discurso, diz, tem duplo alcance: "É de alguém que tem
consciência do peso de suas palavras não só para sociedade mas
como orientação partidária".
Ainda segundo um ministro do
governo Fernando Henrique, o
ex-presidente se apresenta como
um aglutinador, "um organizador de tropas", num momento
em que se desenha o cenário de
disputa dentro do PSDB.
Segundo interlocutores do ex-presidente, Fernando Henrique
voltou do exterior pouco satisfeito com a disputa interna do
PSDB. Um desses tucanos traduz:
há a disputa pela candidatura de
oposição em 2006, mas esse espaço não está conquistado.
Um dos que incentivariam a
candidatura de FHC à Presidência
-até para deter Alckmin-, Aécio apoiou, em Minas Gerais, o
discurso do ex-presidente, condenando aqueles que já antecipam a
eleição de 2006. A veemência do
discurso teria nascido de outra
constatação: a de que, institucionalmente dependentes do Tesouro, os governadores não têm liberdade de bater no governo federal. Na Prefeitura de São Paulo,
dizem tucanos, o presidente do
PSDB, José Serra, passará pela
mesma restrição.
Um amigo de FHC aponta um
outro motivo para seu ímpeto: ele
não gosta quando o governo Lula
é classificado como um prolongamento do seu e, para registrar
bem a diferença, condena a dubiedade no PSDB. Daí, a declaração de guerra: "Política significa o
seguinte: você tem um adversário.
Não adianta ter um lado e ficar em
casa. Você tem um adversário e
você luta contra ele".
O deputado federal Alberto
Goldman gostou. "Ele marca bem
a posição de enfrentar o governo
federal", elogiou.
O discurso, afirmam tucanos,
tem outra motivação. "Os tucanos estão de alma lavada", comemorou Aloysio.
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