São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2004

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BC BLINDADO

Em sessão tensa, presidente do Banco Central ganha foro privilegiado

MP que dá status de ministro para Meirelles é aprovada

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de mais quatro horas de sessão tumultuada, a medida provisória que concede status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi aprovada a 0h33 de hoje pela Câmara. Foram 253 votos a favor, 145 contra e 4 abstenções.
Poderia ser votada ainda na madrugada uma emenda que estende o status de ministro, e o conseqüente foro privilegiado, aos ex-presidentes do BC.
A MP rachou a bancada de deputados federais do PT, que em reunião tensa decidiu apoiá-la por três votos de diferença: 26 a favor e 23 contra, com uma abstenção. No plenário, 27 assinaram documento se comprometendo a votar contra a MP, que ainda tem que ser aprovada pelo Senado.
As resistências à medida eram grandes na oposição e entre governistas. Na reunião do PT, o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (SP), deixou claro que votos contrários seriam interpretados como rompimento com o governo. A bancada do PT, de 90 integrantes, sempre apoiou o governo de forma majoritária. A vitória apertada foi vista pela ala governista da legenda como fechamento de questão, ou seja, a bancada votaria unida a favor do texto. Já os contrários diziam que iriam votar por sua derrubada.
Mesmo quem votou pela aprovação da medida fez críticas.
"Não dá mais para fazer MP desse tipo e achar que todas as vezes vamos segurar as pontas", afirmou Durval Orlato (PT-SP).
A MP foi editada em agosto e a principal crítica é que teria o objetivo de preservar Meirelles de acusações de sonegação fiscal e evasão de divisas. "Não é para proteger Meirelles, é para proteger o BC e o Estado Brasileiro", disse Aldo Rebelo (Coordenação Política).
Por volta das 22h30, ocorreu um bate-boca entre os deputados Babá (sem partido-PA) e Ricardo Fiúza (PP-PE), relator da MP. Babá chamou Fiúza de corrupto, que teria sido "escolhido a dedo" para proteger "outro corrupto, Meirelles". "Moleque, vagabundo, não brinque comigo", respondeu o relator. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), determinou investigação do episódio pela Corregedoria da Casa.
A polêmica em torno da MP resultou também no adiamento da votação da reforma política na Comissão de Constituição e Justiça. PTB, PP e PL são contra seus principais pontos e, diante disso, o governo resolveu protelar a votação para que não houvesse represália na análise da MP do BC.
PMDB cobrou, mais uma vez, a manifestação de que o projeto de reeleição das Mesas do Senado e da Câmara não será mais votado. João Paulo foi à reunião do PT dizer que não tentará mais ressuscitar a proposta e que autorizava a bancada a iniciar o processo para sua sucessão, que ocorre em fevereiro. Há pelo menos dez deputados do partido de olho no posto.


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