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ELIO GASPARI
A volta do comissariado tucano
Lula nomeou quatro novos
ministros, e o comissário José Dirceu está no salão, apresentado-os à imprensa. Depois que
o ministro do Planejamento disse que pretendia estimular a arrecadação, um repórter perguntou como ele fará isso, cumprindo a promessa de campanha de
baixar os tributos.
Dirceu cortou:
"Como combinamos que não
iam existir perguntas, eu queria
passar a palavra para o futuro..."
"Não combinamos, não", reagiu um repórter.
O comissário consertou:
"Desculpa. Não foi combinado, é verdade. Você tem toda a
razão. Foi apenas estabelecido.
O verbo correto é esse. Eu aceito
a corrigenda imediatamente.
Como foi estabelecido que não
haveria perguntas..."
Dito isto, seguiu-se um monólogo. Fez-se a corrigenda do verbo, mantendo-se a mímica do
espetáculo.
Tudo o que está escrito aí em
cima é verdade, mas o ministro
José Dirceu não tem nada a ver
com essa história. Nem ele nem
aquilo que se chama de "arrogância petista".
A cena ocorreu com o tucanaço Clóvis Carvalho, comissário
da equipe de transição do prefeito eleito de São Paulo, José Serra.
Na cena, ele apresentava à imprensa os quatro primeiros secretários da ressurreição. Felizmente a repórter Catia Seabra
preservou suas palavras.
Se o ministro Dirceu disser que
um monólogo não está combinado, mas "estabelecido", o
mundo cairá sobre sua cabeça: é
um stalinista intratável.
No caso, não faltaria quem
lembrasse que o problema do
contribuinte não é a corrigenda
dos verbos, mas o destino das taxas de Marta Suplicy.
Os petistas podem festejar.
Vem aí o Sétimo Regimento de
Cavalaria. Vai socorrer o governo trazendo de volta a prepotência tucana. Passaram-se dois
anos e a patuléia, essa bondosa
desmemoriada, esquecera-se da
espécie. Clóvis Carvalho, por
exemplo, hiberna desde 1999,
quando o ministro da Fazenda,
Pedro Malan, tirou-o do Ministério do Desenvolvimento. Antes, ocupara por quase cinco
anos a chefia do Gabinete Civil
da Presidência. Se metade do
que dizia dele o grão-tucano
Sérgio Motta era verdade, Serra
comprou um bom pedaço de trilha no Raso da Catarina. Carvalho é aquele poderoso burocrata
que no Carnaval de 1999 tocou-se com oito familiares para uma
semana de sol em Noronha. Viajou pela ViúvaTours num Brasília VIP do 6º Esquadrão de
Transporte Aéreo com direito a
hotel e taifa da Força Aérea.
O doutor justificou-se dizendo
que voou pela FAB por motivos
de segurança, em função do cargo que ocupava. A explicação seria razoável para seus 120 vôos
em 15 meses de governo, mas falta-lhe fubá para explicar os oito
parentes. Era a quarta vez que
os ventos do poder levavam Carvalho a Noronha. Terminou tudo bem porque o doutor praticou uma corrigenda e pagou R$
25 mil à Viúva. (A bem da justiça, deve-se registrar que FFHH
acabou com a mordomia dos
passeios em vôos da FAB.)
A equipe tucana que assumirá
a Prefeitura de São Paulo deve
entender que seu novo barco
chama-se Carpathia. O outro,
grande, cheio de luzes, com Leonardo Di Caprio a bordo, foi
posto a pique pelo iceberg de 52
milhões de votos de Lula. Não
adianta pedir champanhe ao
capitão. Ele tem sopa, chá e conhaque, mas em 2005, como em
1912, será pouco para o tamanho da demanda.
Por via das dúvidas, algum tucano pode responder ao repórter
que perguntou como o novo prefeito pretende aumentar a arrecadação, caso pretenda acabar
(logo ou mais tarde) com a taxas
de Marta Suplicy. Não precisa
ser uma reposta convincente.
Apenas educada, porque, ao
contrário do que supõe o comissário Carvalho, nunca esteve estabelecido que essa pergunta
não deve ser respondida.
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