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Companheiros de cela dizem que nada aconteceu
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-companheiros de Luiz
Inácio Lula da Silva na cela do
Dops em 1980, ouvidos pela
Folha entre sexta-feira e ontem, disseram não ter presenciado episódio que envolvesse
violência ou brincadeira de cunho sexual contra o metalúrgico João Batista dos Santos.
A Folha ouviu 6 dos 18 ex-presos que dividiram a cela
-do grupo, 2 já morreram.
Quatro (José Cicote, Expedito
Soares Batista, Djalma Bom e
Enilson Moura, o Alemão) se
lembraram de que Santos se dizia ligado ao MEP (Movimento
pela Emancipação do Proletariado), grupo clandestino de
esquerda também formado por
metalúrgicos. Os outros (José
Maria de Almeida e Rubens
Teodoro de Arruda) não lembravam que ele fosse do MEP.
Santos era mecânico de manutenção da Arteb, uma fábrica
de auto-peças em São Bernardo do Campo (SP). Foi preso na
mesma operação da ditadura
contra Lula e seu grupo em retaliação às greves no ABC.
O ex-sindicalista Expedito
Batista, hoje assessor do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), disse que Santos foi
alvo de brincadeiras, mas não o
único (um dia, por exemplo, os
presos deram a ele um jornal
antigo, que falava do sucesso da
greve, como se fosse daquele
dia, e ele teria acreditado).
"Ele foi objeto de gozação,
mas nada parecido com nenhuma violência, nada. Eram brincadeiras que a gente fazia com
todo mundo. Um dia, na greve
de fome, o Lula estava com
uma bala e o Zé Maria tomou
dele e jogou na privada e disse
que "greve de fome é greve de
fome, companheiro". Outro dia
molhamos a calça de um companheiro. Coisas assim, mas
nada além disso", disse Batista.
O ex-deputado José Cicote
(PT) lembra que Santos "começou a falar que era do MEP, então eu passei a chamá-lo de
"MEP'". "Depois que saímos da
prisão, nunca mais o vi."
Segundo Djalma Bom (PT),
ex-vice-prefeito de São Bernardo, Santos era um "estranho no
ninho", pois não era conhecido
dos outros presos. "No processo de greve no ABC, as pessoas
que foram presas foram as lideranças que tinham se destacado no movimento. Nós não conhecíamos ele", afirmou Bom.
Os ex-colegas de cela de Lula
dizem que a lâmpada da cela vivia ligada, dia e noite, e que não
tinham nenhum contato físico
com presos de outras celas.
O prédio do Dops foi convertido, há cerca de dez anos, na
Estação Pinacoteca. A cela em
que ficaram os metalúrgicos
hoje abriga uma exposição sobre desaparecidos da ditadura.
Os ouvidos reclamaram do
artigo escrito pelo editor César
Benjamin e disseram ser "impossível" ter ocorrido algum tipo de assédio sexual sem que
eles acabassem sabendo.
"O que deve ter acontecido é
que Benjamin não sabe ou não
entendeu que são comuns, entre os operários, brincadeiras
assim, que podem soar de mau
gosto. Não acredito que tenha
inventado a conversa, mas o assédio, isso nunca aconteceu",
disse José Maria de Almeida.
"Ficávamos todos juntos, o
tempo inteiro, não tinha como
acontecer algo assim. É um delírio", disse Enilson Moura, o
Alemão, hoje vice-presidente
da central sindical UGT (União
Geral dos Trabalhadores).
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