São Paulo, terça-feira, 01 de dezembro de 2009

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Companheiros de cela dizem que nada aconteceu

DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-companheiros de Luiz Inácio Lula da Silva na cela do Dops em 1980, ouvidos pela Folha entre sexta-feira e ontem, disseram não ter presenciado episódio que envolvesse violência ou brincadeira de cunho sexual contra o metalúrgico João Batista dos Santos.
A Folha ouviu 6 dos 18 ex-presos que dividiram a cela -do grupo, 2 já morreram. Quatro (José Cicote, Expedito Soares Batista, Djalma Bom e Enilson Moura, o Alemão) se lembraram de que Santos se dizia ligado ao MEP (Movimento pela Emancipação do Proletariado), grupo clandestino de esquerda também formado por metalúrgicos. Os outros (José Maria de Almeida e Rubens Teodoro de Arruda) não lembravam que ele fosse do MEP.
Santos era mecânico de manutenção da Arteb, uma fábrica de auto-peças em São Bernardo do Campo (SP). Foi preso na mesma operação da ditadura contra Lula e seu grupo em retaliação às greves no ABC.
O ex-sindicalista Expedito Batista, hoje assessor do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), disse que Santos foi alvo de brincadeiras, mas não o único (um dia, por exemplo, os presos deram a ele um jornal antigo, que falava do sucesso da greve, como se fosse daquele dia, e ele teria acreditado).
"Ele foi objeto de gozação, mas nada parecido com nenhuma violência, nada. Eram brincadeiras que a gente fazia com todo mundo. Um dia, na greve de fome, o Lula estava com uma bala e o Zé Maria tomou dele e jogou na privada e disse que "greve de fome é greve de fome, companheiro". Outro dia molhamos a calça de um companheiro. Coisas assim, mas nada além disso", disse Batista.
O ex-deputado José Cicote (PT) lembra que Santos "começou a falar que era do MEP, então eu passei a chamá-lo de "MEP'". "Depois que saímos da prisão, nunca mais o vi."
Segundo Djalma Bom (PT), ex-vice-prefeito de São Bernardo, Santos era um "estranho no ninho", pois não era conhecido dos outros presos. "No processo de greve no ABC, as pessoas que foram presas foram as lideranças que tinham se destacado no movimento. Nós não conhecíamos ele", afirmou Bom.
Os ex-colegas de cela de Lula dizem que a lâmpada da cela vivia ligada, dia e noite, e que não tinham nenhum contato físico com presos de outras celas.
O prédio do Dops foi convertido, há cerca de dez anos, na Estação Pinacoteca. A cela em que ficaram os metalúrgicos hoje abriga uma exposição sobre desaparecidos da ditadura.
Os ouvidos reclamaram do artigo escrito pelo editor César Benjamin e disseram ser "impossível" ter ocorrido algum tipo de assédio sexual sem que eles acabassem sabendo.
"O que deve ter acontecido é que Benjamin não sabe ou não entendeu que são comuns, entre os operários, brincadeiras assim, que podem soar de mau gosto. Não acredito que tenha inventado a conversa, mas o assédio, isso nunca aconteceu", disse José Maria de Almeida.
"Ficávamos todos juntos, o tempo inteiro, não tinha como acontecer algo assim. É um delírio", disse Enilson Moura, o Alemão, hoje vice-presidente da central sindical UGT (União Geral dos Trabalhadores).


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