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Empresa paulista, acusada de tráfico de influência em prefeituras do PT, fez depósito para casa de câmbio no Paraguai
PF acha depósito da Cpem, pivô de escândalo
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A movimentação de contas bancárias do Banestado obtida pela
Polícia Federal e que está em poder da CPI do Banestado aponta
um depósito de US$ 259 mil da
empresa paulista Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios) em agosto de 1992 na conta
de uma casa de câmbio do Paraguai também envolvida nos esquemas de lavagem de dinheiro
dos casos PC-Collor e Tribunal
Regional do Trabalho paulista.
A Cpem esteve no centro de um
escândalo na década de 90 que
atingiu a cúpula do PT e o então
presidente de honra da sigla, Luiz
Inácio Lula da Silva. O ex-secretário de Finanças de Campinas,
Paulo de Tarso Venceslau, petista
histórico, na época questionou
contratos sem licitação assinados
por administrações do PT com a
Cpem e denunciou suposto tráfico de influência no partido.
O resultado da apuração conduzida pelo partido foi a absolvição
da cúpula petista e a expulsão do
próprio autor da denúncia.
Segundo os documentos que integram o levantamento da CPI
mista do Senado e da Câmara que
apura remessas para o exterior, o
depósito da Cpem foi feito em dinheiro numa conta da agência do
Banespa de Foz do Iguaçu (PR).
A conta pertencia à empresa
Guarani Cambios S/A, de Ciudad
del Este, e foi alvo de investigação,
com outras cinco contas da mesma casa, do inquérito número
104/98 da Polícia Federal do Paraná. A Cpem, na época do depósito, era sediada em São Bernardo
do Campo, na Grande São Paulo.
Um dos atuais sócios da empresa, que está fechada, Luiz Alberto
Rodrigues, negou qualquer transação com a Guarani Câmbios.
"A maioria das casas de câmbio
paraguaias participou do esquema CC5, ocultando depósitos de
terceiros e usando "laranjas" para
enviar o dinheiro para o exterior",
disse o procurador da República
Vladimir Aras, da força-tarefa
que investiga o caso. Ele não conhecia detalhes do depósito da
empresa paulista.
A Cpem teve um poderoso aliado na década de 90 na tentativa de
obter contratos com prefeituras
administradas pelo PT, o advogado Roberto Teixeira, compadre
do presidente Lula -ele é padrinho do filho mais novo de Lula.
Em nota distribuída à imprensa
em maio de 1997, Teixeira explicou que passou a atuar em favor
da Cpem porque seu irmão, Dirceu, advogava para a empresa. Ele
pretendia mostrar que a empresa
"tinha condições" de aumentar a
arrecadação de prefeituras petistas "recém-empossadas, todas
com lamentável situação econômica-financeira".
Teixeira escreveu: "Procurado
por ele [Dirceu Teixeira], constatei [contatei], sim, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, cuja amizade
muito me orgulho, e com o qual
mantenho relações familiares (...).
O sr. Luiz Inácio Lula da Silva,
diante dos argumentos apresentados, disse que a empresa deveria procurar as prefeituras petistas, apresentando diretamente as
propostas, o que foi feito com o
meu eventual auxílio".
Na época, Lula chorou, numa
reunião do diretório nacional do
PT, alegando não ter influído nas
contratações da Cpem. Afirmou
que se limitou a recomendar Teixeira a procurar as prefeituras sob
comando do partido.
Outros partidos
A Cpem não prestava serviços
apenas às administrações petistas
-em 1997, trabalhava para cidades administradas pelo PMDB,
PPB, PSDB, PTB, PDT e PFL. No
auge, chegou a trabalhar para 400
prefeituras de vários partidos, segundo o atual proprietário.
Mas a proximidade dela com a
cúpula do PT e com Lula marcou
a história do partido na década
passada -no próprio PT é considerado o maior escândalo enfrentado pela sigla.
É a segunda vez que uma empresa do ABC paulista com laços
estreitos com o PT aparece relacionada ao escândalo do Banestado. Em maio de 2003, o administrador da empresa Emparsanco,
de São Bernardo do Campo, Jaci
Munhoz, foi condenado pelo Tribunal Regional Federal de Porto
Alegre (RS) por suposto envio de
R$ 200 mil para o exterior por
meio de uma laranja. Munhoz
alegou que o dinheiro foi usado
para "compra de maquinário" de
uma empresa paraguaia.
Em abril de 2000, o Tribunal de
Contas do Estado mandou suspender uma licitação da Prefeitura de Santo André (SP), na gestão
de Celso Daniel (PT), morto em
2002. A decisão ocorreu depois de
uma reportagem ter apontado indícios de favorecimento à Emparsanco, que venceu a licitação de
R$ 108,6 milhões.
(RUBENS VALENTE e LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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