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Senador Romeu Tuma é um dos mencionados
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma perguntinha inocente,
questionando se já almoçara no
restaurante do Jacó, na 25 de Março (região central de São Paulo),
bastou para que o juiz João Carlos
da Rocha Mattos colocasse o senador Romeu Tuma ao lado de
um suspeito.
Após dizer que não almoça nos
dias de semana, o juiz emenda:
"Eu sei que nesse Jacó, o Tuma está sempre lá, determinados dias,
não sei se terça ou quarta, e almoço com o Law lá, tido como contrabandista".
Todas as informações, aparentemente, fazem sentido: Tuma, de
fato, almoça no Jacó há 50 anos
porque seus irmãos têm lojas na
25 de Março, e o empresário Law
Kin Chon é dono da galeria Pajé,
um prédio de lojas nessa mesma
região fechado pela Polícia Federal por abrigar lojas que vendiam
contrabando.
Há duas mentiras na frase, porém, segundo Tuma: ele nunca almoça nas terças ou quartas no Jacó porque nesses dias está em
Brasília, e Law "jamais teve a coragem de chegar perto da minha
mesa". "Eu não tolero esse Law".
Avião na campanha
Rocha Mattos faz pelo menos
outra acusação ao senador e ex-superintendente da PF. Diz no interrogatório que ele usou um
avião de Fausto Solano Pereira
para fazer campanha política no
interior de São Paulo. Segundo o
juiz, foi o próprio Solano Pereira
quem lhe fez a inconfidência.
Dono de uma corretora, Solano
confessou à CPI dos Precatórios
que lavava dinheiro obtido com a
venda fraudulenta de títulos da
dívida de prefeituras como a de
São Paulo e sonegava impostos.
Em maio de 2000, ele acabou
absolvido pelo próprio Rocha
Mattos. Num telefonema gravado
pela PF, a ex-mulher de Rocha
Mattos, Norma Emílio Cunha,
pergunta ao juiz sobre uma casa
de US$ 450 mil no Uruguai que
Solano Pereira teria lhe dado em
troca da sentença absolutória.
O juiz nega que tenha recebido a
tal casa, mas disse que numa audiência com Solano acabou lhe
contando que Romeu Tuma havia pedido a prisão do empresário. "Nossa, o Tuma. Ajudei tanto
ele em campanha, andava no meu
avião", teria sido a reação de Solano Pereira, segundo o juiz. O senador diz que nunca andou em
avião do empresário.
Paulo Lacerda, superintendente
da PF e funcionário do gabinete
de Tuma por seis anos, é acusado
por Rocha Mattos de ter pedido
para que o juiz prendesse o empresário Ari Natalino, a partir de
um inquérito arquivado, porque
ele se recusara a comparecer à CPI
de Roubo de Cargas.
Lacerda diz que o pedido de prisão a partir do inquérito arquivado nunca foi feito. Houve, segundo ele, um pedido de condução
coercitiva de Natalino à CPI. A
distribuição automática remeteu
o caso a Rocha Mattos, que acabou concedendo-a.
No interrogatório, Rocha Mattos relatou que estranhou ter encontrado Lacerda conversando
com Enrico Picciotto no casamento de José Augusto Bellini.
Picciotto, dono da corretora
Split, era acusado de crimes contra o sistema financeiro e fraude
na emissão de títulos da Prefeitura de São Paulo, mas foi absolvido
por Rocha Mattos.
Lacerda afirma que foi ao casamento porque a vida dupla do delegado Bellini ainda não havia sido revelada, mas que não conversou com Picciotto. O advogado
Homar Cais, ex-presidente do
TRF, é acusado pelo juiz de ter interferido no processo sobre desvios de recursos no fórum trabalhista em favor de Luiz Estevão.
"Ele andou lá pedindo para o
Casem absolver o Luiz Estevão,
sim", contou Rocha Mattos.
Cais confirma que defendeu Estevão "há mais de três anos", mas
nunca em processos criminais,
como é o caso da vara de Casem
Mazloum. "Só não entendo porque a imprensa dá voz a esse lixo
humano", critica. Lixo humano é
a forma pela qual ele chama, invariavelmente, Rocha Mattos.
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