São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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Senador Romeu Tuma é um dos mencionados

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma perguntinha inocente, questionando se já almoçara no restaurante do Jacó, na 25 de Março (região central de São Paulo), bastou para que o juiz João Carlos da Rocha Mattos colocasse o senador Romeu Tuma ao lado de um suspeito.
Após dizer que não almoça nos dias de semana, o juiz emenda: "Eu sei que nesse Jacó, o Tuma está sempre lá, determinados dias, não sei se terça ou quarta, e almoço com o Law lá, tido como contrabandista".
Todas as informações, aparentemente, fazem sentido: Tuma, de fato, almoça no Jacó há 50 anos porque seus irmãos têm lojas na 25 de Março, e o empresário Law Kin Chon é dono da galeria Pajé, um prédio de lojas nessa mesma região fechado pela Polícia Federal por abrigar lojas que vendiam contrabando.
Há duas mentiras na frase, porém, segundo Tuma: ele nunca almoça nas terças ou quartas no Jacó porque nesses dias está em Brasília, e Law "jamais teve a coragem de chegar perto da minha mesa". "Eu não tolero esse Law".

Avião na campanha
Rocha Mattos faz pelo menos outra acusação ao senador e ex-superintendente da PF. Diz no interrogatório que ele usou um avião de Fausto Solano Pereira para fazer campanha política no interior de São Paulo. Segundo o juiz, foi o próprio Solano Pereira quem lhe fez a inconfidência.
Dono de uma corretora, Solano confessou à CPI dos Precatórios que lavava dinheiro obtido com a venda fraudulenta de títulos da dívida de prefeituras como a de São Paulo e sonegava impostos.
Em maio de 2000, ele acabou absolvido pelo próprio Rocha Mattos. Num telefonema gravado pela PF, a ex-mulher de Rocha Mattos, Norma Emílio Cunha, pergunta ao juiz sobre uma casa de US$ 450 mil no Uruguai que Solano Pereira teria lhe dado em troca da sentença absolutória.
O juiz nega que tenha recebido a tal casa, mas disse que numa audiência com Solano acabou lhe contando que Romeu Tuma havia pedido a prisão do empresário. "Nossa, o Tuma. Ajudei tanto ele em campanha, andava no meu avião", teria sido a reação de Solano Pereira, segundo o juiz. O senador diz que nunca andou em avião do empresário.
Paulo Lacerda, superintendente da PF e funcionário do gabinete de Tuma por seis anos, é acusado por Rocha Mattos de ter pedido para que o juiz prendesse o empresário Ari Natalino, a partir de um inquérito arquivado, porque ele se recusara a comparecer à CPI de Roubo de Cargas.
Lacerda diz que o pedido de prisão a partir do inquérito arquivado nunca foi feito. Houve, segundo ele, um pedido de condução coercitiva de Natalino à CPI. A distribuição automática remeteu o caso a Rocha Mattos, que acabou concedendo-a.
No interrogatório, Rocha Mattos relatou que estranhou ter encontrado Lacerda conversando com Enrico Picciotto no casamento de José Augusto Bellini.
Picciotto, dono da corretora Split, era acusado de crimes contra o sistema financeiro e fraude na emissão de títulos da Prefeitura de São Paulo, mas foi absolvido por Rocha Mattos.
Lacerda afirma que foi ao casamento porque a vida dupla do delegado Bellini ainda não havia sido revelada, mas que não conversou com Picciotto. O advogado Homar Cais, ex-presidente do TRF, é acusado pelo juiz de ter interferido no processo sobre desvios de recursos no fórum trabalhista em favor de Luiz Estevão.
"Ele andou lá pedindo para o Casem absolver o Luiz Estevão, sim", contou Rocha Mattos.
Cais confirma que defendeu Estevão "há mais de três anos", mas nunca em processos criminais, como é o caso da vara de Casem Mazloum. "Só não entendo porque a imprensa dá voz a esse lixo humano", critica. Lixo humano é a forma pela qual ele chama, invariavelmente, Rocha Mattos.



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