São Paulo, sábado, 02 de março de 2002

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ELEIÇÕES-2002

Coordenador petista quer que ampliação do aborto e união civil de homossexuais fiquem fora do texto-base

Plano de Lula deve evitar temas polêmicos

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Algumas das bandeiras históricas do PT, como a ampliação do direito de aborto e a união civil de homossexuais, deverão estar ausentes do texto-base do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com divulgação prevista para o final de maio.
É o que defende o novo coordenador do programa de Lula, o prefeito de Ribeirão Preto (SP), Antônio Palocci Filho. Na última segunda-feira, ele foi designado para chefiar uma comissão de 20 pessoas encarregadas da elaboração do documento, no lugar de Celso Daniel, prefeito de Santo André, assassinado em janeiro.
Entre os integrantes do grupo está a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, que, como deputada, defendeu a ampliação do direito ao aborto -hoje restrito aos casos de estupro e risco de morte materna-.e a união civil de pessoas do mesmo sexo, que asseguraria direitos previdenciários, entre outros, a casais homossexuais. Essas metas constaram de programas presidenciais anteriores de Lula.
Outro ponto defendido por setores do PT, a descriminalização do uso de drogas, também não deverá estar presente no plano. No programa de 98, Lula defendeu combater as drogas com "repressão ao tráfico e dando tratamento médico e psicológico adequado ao jovem usuário".
"Essas questões polêmicas não são temas exclusivos de governo. O governo num determinado momento vai tratar do tema, mas não são questões centrais do programa", diz Palocci, 41.
Para o prefeito, a decisão não significa que o partido tenha mudado de posição, mas seria resultante de um aspecto formal do programa de governo. Ele defende um documento mais "enxuto".
"Em eleições passadas, havia o detalhamento desde questões macroeconômicas até valores da sociedade. Eu imagino um programa diferente. Não que rejeite esses temas, mas que não desça a esses detalhamentos", diz.
Na semana passada, integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus, que controla parte do PL, pediram que Lula evitasse abordar os temas polêmicos em sua campanha. Seria uma condição para o PL apoiar a candidatura.
Palocci declara que não há nenhuma relação entre o pedido feito pelos evangélicos e a decisão de não mencionar o tema no programa de Lula. "Não é para facilitar composição política", diz.
O documento, segundo o prefeito, será um texto com princípios. "Quero propor um programa enxuto, com metas bem definidas, para ser lido. Não para ficar na prateleira de meia dúzia."
Também não haverá detalhamento, segundo o prefeito, quanto a medidas referentes à economia, como a taxa de juros ou metas inflacionárias. "Seria uma bobagem. Você estabelece um compromisso; as medidas são tomadas quando chegar ao governo."
Eventualmente poderá haver outros documentos específicos com mais detalhes sobre temas da campanha.
Palocci afirma que o PT continuará mantendo suas posições históricas com relação aos temas. E diz que elas não serão modificadas por pressão de aliados.
"O PT tem posições conhecidas. Uma coisa é o aliado pensar diferente, outra é querer que a gente mude de posição na eleição. Isso não dá", declara. De acordo com Palocci, o PT pode "ceder em algumas questões, afinar em outras com outros partidos". "Mas sua postura histórica não muda."

MST
Segundo o prefeito, o programa de governo deverá também fazer referências "elogiosas" ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). As invasões promovidas pelo movimento foram criticadas pelo senador José Alencar (PL-MG), possível vice de Lula em caso de composição.
"Temos muita diferença com o MST em termos de opinião política, mas somos solidários."



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