São Paulo, sábado, 02 de abril de 2005 |
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TRÉGUA Pelo acordo, deputado voltaria a demonstrar "boa vontade" com Planalto A Dirceu, Severino propõe reaproximação com Lula
KENNEDY ALENCAR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Em reunião ontem à tarde no Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), propôs ao ministro José Dirceu (Casa Civil) uma trégua com o governo e uma reaproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pela proposta, Severino voltaria a demonstrar boa vontade em relação à agenda legislativa de interesse do Palácio do Planalto. Até ontem, Lula vinha resistindo a uma recomposição com Severino. Dirceu, na prática, continua a ser procurado para articulações políticas, apesar de reservadamente dizer que prefere cuidar só do gerenciamento do governo. O ministro vai trabalhar pela conciliação entre Severino e Lula. Membros do PT pediram ajuda ao ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), que estava fora de Brasília ontem, para uma reaproximação com o governo. Farpas A relação Lula-Severino piorou muito na semana passada, quando Lula engavetou uma reforma ministerial ampla e não cedeu uma pasta ao PP. Severino dera um ultimato a Lula, exigindo um ministério sob pena de rumar para a oposição. O petista não aceitou e decidiu engavetar a reforma que tinha entre os seus objetivos arrumar a base de apoio na Câmara. Ontem, Severino disse a Dirceu estar disposto a não repetir o comportamento no episódio da MP (medida provisória) 232. Contrariado com Lula, ele retaliou ao incluir na pauta de votação a MP 232 num momento em que a base de sustentação do governo estava em frangalhos. Assim, obrigou o governo a recuar, anteontem, editando uma nova MP para manter apenas a "boa notícia" da 232 (10% de correção da tabela do Imposto de Renda das Pessoas Físicas) e abandonando a "má notícia" (aumento de impostos das empresas prestadoras de serviço). Foi uma das maiores derrotas de Lula em 27 meses de governo. Mais cargos Feita a retaliação, Severino e a cúpula do PP querem se reaproximar para obter cargos federais, ainda que o partido não venha a receber mais um ministério. O PP, com 51 deputados federais, está preocupado em perder parlamentares para o PMDB, o PL e o PTB se não tiver mais cargos e emendas ao seu dispor. O PL e o PTB, por exemplo, tiveram pedidos de nomeações para cargos atendidos nos últimos dias e, na batalha da MP 232, estiveram mais perto da orientação do governo do que o PP e o próprio partido de Lula, o PT. Para Dirceu, interessa ao governo um acerto com o PP. Afinal, o presidente da Câmara tem um poder específico que pode complicar a vida dos governos. Repasse Nos próximos dias, há outra batalha desfavorável ao governo anunciada no Congresso: a votação de uma emenda constitucional que aumenta o percentual de repasse da União aos municípios. Em encontro com prefeitos, Severino prometeu votar a emenda. O governo, porém, quer debatê-la com a votação do resto da reforma tributária. Como há dificuldade em um acordo da equipe econômica com os governadores a respeito da reforma tributária, a simples aprovação do aumento do repasse da União aos municípios reforçaria a percepção de risco para o ajuste fiscal bancado pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Ao deixar de renovar o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), Palocci disse que manteria o rigor fiscal. O desfecho da MP 232, porém, representará uma perda de arrecadação anual de R$ 2,5 bilhões com a correção da tabela, segundo Palocci. Um outro afrouxamento fiscal agora seria ruim para a credibilidade da política econômica. Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Procuradoria arquiva ação contra Dirceu Índice |
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