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Governo se contradiz
ao explicar critérios
DO PAINEL
DA AGÊNCIA FOLHA
Desde meados de abril, quando
passaram a ser confrontadas com
apurações da Folha indicando
que os balanços da reforma agrária foram inflados, autoridades do
governo federal acumularam
contradições ao explicar a razão
de contabilizarem terrenos baldios e pessoas fora de terras como
"assentamentos" e "assentados".
O primeiro a falar sobre o assunto, às vésperas da primeira de
uma série de reportagens, foi o
ministro do Desenvolvimento
Agrário, José Abrão. Para ele,
uma família sem acesso à água,
luz, rede de esgoto e crédito para a
construção de casa não poderia
ser considerada assentada.
Abrão reconhecia os conceitos
do "Manual do Assentado" do Incra, publicação que descreve direitos e deveres dos assentados
editada pelo órgão e co-assinada
pelo ex-ministro Raul Jungmann.
O secretário-executivo do ministério, Orlando Muniz, trouxe à
tona outra versão. Segundo ele, as
famílias poderiam ser "assentadas" sem que houvesse nenhum
investimento do governo na área.
Dias depois, Jungmann, que por
oito dias se recusou a falar sobre o
caso, disse que o governo federal
contabilizava "assentados" em
um ano, mas só garantia a eles
créditos, casas e infra-estrutura
nos anos seguintes, contrariando
manual do Incra. O ex-ministro
disse que contabilizou como assentadas em 2001 exatas 18.942 famílias que só neste ano entrariam
no processo de efetivação.
Nem pelos critérios de Muniz e
Jungmann essas famílias poderiam ter sido consideradas assentadas, já que não constavam de
portarias publicadas no "Diário
Oficial" da União. As áreas às
quais elas estavam relacionadas
ainda dependiam de atos jurídicos e administrativos para serem
obtidas pelo governo.
O último da cúpula governamental do setor agrário a falar sobre o assunto foi o presidente do
Incra, Sebastião Azevedo.
Para tentar descaracterizar as
reportagens da Folha, ele criou o
termo "famílias instaladas", que
não existe em nenhum manual ou
norma do órgão. Por esse conceito, haveria uma distinção entre
"famílias assentadas" e "famílias
instaladas" -diferença que não
aparece na nova portaria baixada
pelo ministério na última quinta.
Azevedo admitiu que o Incra
não sabe o número de "famílias
instaladas" no país, e, para obtê-lo, demandaria um "trabalho minucioso". Na semana passada,
Jungmann disse que divulgava os
balanços anuais com base nos dados passados a ele pelo Incra, que
por sua vez não sabe quantos são
os assentados no país.
(RV E EDS)
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