São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Presidente afirma que fez "mudanças profundas" e que bancos dos EUA se precipitaram em avaliação

Lula não deve colocar "sapato alto", diz FHC

Alan Marques/Folha Imagem
FHC concede entrevista ao chegar ao aeroporto em Carajás


WILSON SILVEIRA
ENVIADO ESPECIAL A CARAJÁS

O presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou ontem ao candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, que não coloque "sapato alto" antes da hora. Segundo FHC, "um pouquinho de humildade é bom, ajuda".
Questionado sobre a pressão do PFL para que o PSDB troque de candidato, retirando José Serra da disputa, ele disse que só pode rir disso. Segundo ele, um partido não deve fazer restrições a candidatos de outros partidos.
Sobre o fato de bancos americanos terem recomendado redução de investimentos no Brasil por causa da ascensão de Lula nas pesquisas, FHC disse que foram precipitados e que o país "não tem de estar tremendo por causa disso não". FHC lança hoje em Carajás (sul do Pará) um projeto de exploração de cobre da Companhia Vale do Rio Doce. A empresa espera produzir 141 mil toneladas anuais de concentrado de cobre na Serra do Sossego.
O presidente disse discordar das avaliações de que a eventual eleição de Lula traria instabilidade econômica ao país. Segundo ele, o Brasil avançou muito, em razão das "mudanças profundas" feitas pelos seus dois governos.
Ele chegou a ironizar o programa de governo do PT para o setor elétrico, lançado anteontem, afirmando que Lula está pregando idéias semelhantes às suas, como a necessidade de capital estrangeiro nessa área. "Só que ele disse uma coisa que não é verdadeira. Eu já tomei decisão sobre Chesf [Companhia Hidrelétrica do São Francisco" e sobre Furnas. É preciso tomar cuidado, ninguém deve botar sapato alto antes da hora. Os que já fizeram isso, como eu próprio, que já me sentei na cadeira errada, sabem que não se deve repetir isso."
FHC se referia às advertências de Lula contra eventual privatização de hidrelétricas e também ao fato de ele próprio, FHC, ter se sentado antes da hora na cadeira do prefeito de São Paulo, na campanha de 1985. FHC perdeu a eleição naquele ano.
"Veja, ele [Lula] está dizendo o que eu devo fazer até o fim do meu mandato. Espera lá, um pouquinho de humildade é bom, ajuda, né? Ele devia se informar um pouco melhor [sobre Chesf e Furnas" e esperar um pouquinho, ver se ganha a eleição. Se ganhar a eleição, aí ele vai saber o que fazer com o Brasil".
No lançamento do programa do PT para o setor elétrico, Lula recomendou a FHC que não tomasse nenhuma medida precipitada, pois seu governo está no fim.
Sobre a pressão do PFL para o PSDB substituir Serra, FHC afirmou: "Eu só posso rir, em primeiro lugar porque não é uma pergunta que deve ser feita a mim, em segundo eu não creio que eles possam insistir".
"Eu respeitei e respeito as candidaturas de todos os partidos. Enquanto o PFL teve uma candidata, a Roseana [Sarney], eu só tive palavras de apoio, não tive nenhuma restrição. Então eu acho que não se devem fazer restrições a candidatos de outros partidos", disse.
Segundo FHC, a Merrill Lynch e o Morgan Stanley enviaram carta ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, sobre a recomendação para reduzir investimentos no país "explicando que não é bem assim, que não era isso que queriam fazer, não sei o quê".
FHC avalia que entre o mercado e a vida política há uma espécie de dupla incompreensão. "Geralmente a vida política não presta atenção no mercado, e o mercado, ao contrário, presta atenção, mas não entende [a política]."



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