São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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"Financial Times" comenta alta de Lula em pesquisas

DA REDAÇÃO

O jornal britânico "Financial Times" publicou ontem editorial sobre a percepção dos investidores estrangeiros com relação às eleições presidenciais brasileiras, dizendo que "seria um erro exagerar os riscos".
O "FT" cita a reação dos mercados à alta de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas, relacionando o fato à alta nos juros pagos pelo Brasil em títulos da dívida.
O jornal argumenta que o PT no governo tende a ser mais moderado "do que seus críticos esperam". Também lembra que a campanha ainda não começou para valer e que o candidato da "continuidade centrista", José Serra (PSDB), ainda pode "recuperar terreno". Leia a seguir a íntegra do texto:
 
"Os riscos no Brasil
O Brasil está perto de dar uma guinada à esquerda? A campanha para as eleições gerais em outubro mal começou, mas até aqui as coisas não estão indo nada bem para José Serra, o candidato da continuidade centrista.
O sr. Serra, um aliado próximo do presidente Fernando Henrique Cardoso, está patinando nas pesquisas atrás de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do esquerdista Partido dos Trabalhadores (PT). Nesta semana, novas pesquisas mostraram que o sr. Da Silva, mais conhecido como "Lula", ampliou sua liderança. O resultado: um movimento de venda de títulos da dívida brasileira, com a diferença dos juros em relação a títulos do Tesouro norte-americano, a principal medida de risco político, agora em mais de oito pontos percentuais.
Seria um erro exagerar os riscos. Para começar, o sr. Da Silva, três vezes perdedor na disputa à Presidência, já esteve no passado até em mais liderança nas pesquisas. Mesmo que ele realmente ganhe, há motivos para acreditar que um governo do PT se mostraria mais moderado no poder do que os críticos do partido esperam.
Apesar de que muitos seguidores do PT fazem barulhos ferozmente dogmáticos, a liderança do PT abandonou muito de sua retórica anticapitalista. Em várias cidades brasileiras, governantes do PT se mostraram bons administradores. Além disso, as peculiaridades do sistema eleitoral brasileiro fariam com que um governo do PT provavelmente precisasse fazer alianças com partidos mais moderados no Congresso para governar efetivamente.
O sr. Serra tem tempo para recuperar o terreno perdido. De fato, ele ainda vai lançar sua campanha principal, e seus índices de aprovação devem melhorar nos próximos meses, conforme ele aumentar seu tempo em propaganda na TV.
Na verdade, sua coalizão foi enfraquecida com a saída do Partido da Frente Liberal (PFL), de direita. Mas estrategistas do partido acreditam que uma recente decisão da suprema corte torna mais difícil para o PFL e vários partidos menores fazerem alianças, reduzindo sua capacidade de lançar campanhas presidenciais efetivas e aumentando as chances do sr. Serra. Se depois de tudo isso o relativamente não-carismático sr. Serra, que às vezes lembra o rude ex-líder socialista francês Lionel Jospin, ainda não conseguir se sobressair, a coalizão governista ainda terá cerca de dois meses para escolher uma alternativa.
Isso não significa que os investidores podem relaxar. O Brasil é hoje um modelo de estabilidade em comparação a seus vizinhos e a seu passado e ainda se beneficia de baixa inflação e fortes fluxos de investimento estrangeiro direto. Mas muitos brasileiros continuam desencantados com as conquistas econômicas do governo, um fato que ficou claro com as quedas de popularidade do próprio presidente Cardoso em pesquisas recentes.
Como eventos recentes na Argentina e na Venezuela mostraram, tal indisposição popular pode às vezes levar a uma volatilidade política bem maior. O risco de uma insatisfação política não pode ser descartado."


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