São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Não existe correlação entre futebol e eleição

DA REDAÇÃO

Não há correlação direta entre futebol e política. Conquistar a Copa do Mundo não assegura a vitória do governo na eleição, perder não implica necessariamente uma derrota. Em 1958, o Brasil ganhou a Copa, e o partido governista perdeu as eleições; em 1986, a seleção perdeu, mas o governo teve uma vitória esmagadora.
A dinâmica eleitoral não segue uma lógica unilinear. Em 1950, quando o Brasil perdeu a final da Copa para o Uruguai, o bloco governista se dividiu: a UDN lançou Eduardo Gomes, e a aliança PSD-PR indicou Cristiano Machado.
O partido do presidente Eurico Dutra, o PSD, não foi mal nas eleições para a Câmara: sozinho, conseguiu 36,8% das cadeiras -mais que as atuais bancadas do PSDB e PMDB somadas. E, nas disputas estaduais, o PSD elegeu mais da metade dos governadores. No pleito presidencial, porém, o candidato governista foi abandonado pela maioria de seu partido, que apoiou veladamente o candidato da oposição, Getúlio Vargas (PTB), afinal eleito presidente.
Em 1958, a situação se inverteu: o Brasil ganhou a Copa na Suécia, o presidente Juscelino Kubitschek recepcionou os campeões, porém nada disso beneficiou o PSD: a bancada na Câmara ficou estável (34,9%), mas as eleições para os governos estaduais terminaram em desastre: o partido só elegeu dois governadores em 11 Estados.
Em 1962, o Brasil voltou a vencer a Copa, desta vez no Chile. A Presidência era ocupada por João Goulart (PTB), mas o regime era parlamentarista, e o primeiro-ministro pertencia ao PSD: durante a Copa, o premiê era Tancredo Neves, que saiu em 12 de julho, substituído por Brochado da Rocha. Nas eleições para a Câmara, o PTB foi bem, pois aumentou sua bancada de 20,2% para 28,3%. Já o PSD, que controlava a administração federal, foi muito mal: despencou de 35,2% para 28,8%.
A Copa de 1966 foi a primeira disputada durante o regime militar. A seleção brasileira foi eliminada nas eliminatórias, mas a derrota não prejudicou o desempenho dos candidatos governistas: a Arena elegeu 277 deputados federais (68%), contra 132 do MDB, e 18 senadores (82%), contra 4.
Na Copa de 1970, o presidente Emílio Médici recebeu a seleção tricampeã em Brasília. A Arena teve então sua maior vitória eleitoral, mas o partido dispunha de outros trunfos: o governo militar havia cassado os principais líderes do MDB entre dezembro de 1968 e abril de 1969 (62 deputados federais e 4 senadores) e a economia nacional crescia a 9% ao ano.
Em 1974 o Brasil perdeu a Copa, e a Arena tropeçou nas eleições: o MDB elegeu 16 de 22 senadores (72,7%) e 160 deputados federais (44,0%). Mas outros fatores pesaram mais no resultado eleitoral: o MDB obteve acesso à TV para divulgar suas propostas, e a economia estava em franca desaceleração. A contraprova é fornecida pelas eleições seguintes: o Brasil perdeu as Copas de 1978 e de 1982, mas o governo militar, por meio da Arena e do PDS, manteve seu controle sobre o Legislativo.
Em 1986, com José Sarney (PMDB) no Planalto, o Brasil perdeu a Copa outra vez. Isso não impediu o PMDB de obter, graças ao Plano Cruzado, uma vitória acachapante: o partido elegeu 22 de 23 governadores, 53,4% da Câmara e 77,6% do Senado. Em 1990, porém, o Plano Collor começou a fazer água antes da eleição, e os partidos governistas tiveram menos êxito: elegeram 14 governadores, contra 12 da oposição.
O país voltou a ganhar a Copa em 1994, ano em que Fernando Henrique Cardoso foi eleito. Mas FHC só ultrapassou Lula nas pesquisas depois do Plano Real: não foi por causa da Copa. Tanto que, em 1998, o presidente foi reeleito, embora a seleção tenha perdido.



Texto Anterior: Análise: Dos candidatos, Ciro é o melhor comentarista
Próximo Texto: Elio Gaspari: Lula-Simon, por que não?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.