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ECOS DO ORIENTE
Para Planalto, interesse chinês em comprar urânio foi superdimensionado
Governo vê erro de ministros ao sugerirem acordo nuclear
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cúpula do governo Lula avalia
que o único deslize grave da "exitosa" viagem à China foi o imbróglio que deu a entender que o Brasil exportaria urânio para o país
asiático. Não havia, antes, nada
acertado nessa linha. Tampouco
chegou-se a tal acordo na visita.
A confusão começou na terça-feira passada, dia 25 de maio,
quando autoridades chinesas e
brasileiras discutiram parceria na
área aeroespacial. No encontro,
houve menção informal à possibilidade futura de cooperação bilateral no comércio de urânio.
No ano passado, foi lançado em
órbita o segundo satélite conjunto, o Cbers-2 (sigla em inglês para
Satélite de Pesquisa China-Brasil).
A cooperação aeroespacial prevê
ainda o lançamento de mais dois
satélites, em 2006 e em 2009.
Foi só no final da reunião do dia
25, da qual participava o ministro
da Ciência e Tecnologia, Eduardo
Campos, que a questão nuclear
entrou em pauta. Autoridades
chinesas manifestaram interesse
na compra de urânio não enriquecido do Brasil. Para produzir
energia nuclear e bomba atômica,
é necessário enriquecer esse minério.
De acordo com o Ministério da
Ciência e Tecnologia, Campos
afirmou aos chineses que o Brasil
não tem histórico na exportação
de urânio e que precisaria estudar
a possibilidade de vender o minério. A produção brasileira não é
suficiente, no momento, nem para as demandas internas do país.
Na mesmo dia 25, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva fez um
discurso em que disse que poderia haver parceria futura na "exploração conjunta de minas de
urânio". Detalhe: a Constituição
proíbe a exploração de minerais
em parceria com outros países.
A Folha apurou que o imbróglio começou quando o ministro
Guido Mantega (Planejamento)
relatou a conversa de Campos a
jornalistas. Os dois ministros, na
visão da cúpula do governo, superdimensionaram o assunto.
Por ordem de Lula, foi feita uma
nota de Campos, que, por sua vez,
atrapalhou-se numa entrevista
que insistiu em dar, apesar de
conselhos em sentido contrário.
No Rio, o ministro disse ontem
que também explicou aos chineses que o Brasil está reexaminando seu programa nuclear, o que
deverá ser concluído até agosto, e
que prometeu voltar a falar do assunto em outubro próximo,
quando virá ao país uma delegação chinesa para renovar o acordo bilateral na área aeroespacial.
"Nós não fechamos as portas
para uma posição de conversa,
mas deixamos muito claro o que
tem sido historicamente a posição: o Brasil não exporta urânio."
Na reunião de anteontem de
Lula com seus ministros, avaliou-se que Mantega e Campos erraram. O episódio gerou até reação
extra-oficial dos EUA à possibilidade de venda de urânio à China e
obrigou o governo a oficializar
um desmentido. Nos bastidores e
como de costume, a imprensa foi
acusada de ter entendido mal.
Apesar de os discursos de Lula
no exterior terem sempre revisão
final do ministro Celso Amorim,
o chanceler não foi criticado na
comitiva brasileira pela menção à
"exploração conjunta". Mas, anteontem, avaliou-se que isso também colocou lenha na fogueira.
Colaborou a Sucursal do Rio
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