São Paulo, quinta-feira, 02 de junho de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Para governistas, enquanto oposicionistas montam uma orquestra, aliados parecem uma fanfarra; líderes querem encontro com Lula

Oposição é mais ágil que governo, diz base

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CATIA SEABRA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Os líderes da base aliada no Senado chegaram à conclusão de que a oposição está muito mais articulada politicamente e fizeram uma reunião ontem para tentar mudar esse quadro. Nas palavras de um dos líderes, a oposição conseguiu montar uma orquestra com maestro, enquanto o governo está parecendo uma fanfarra.
A preocupação dos aliados surge em meio à criação da CPI dos Correios. O objetivo dessa comissão é investigar suposto caso de corrupção nessa estatal.
A reunião ocorreu em almoço na liderança do PMDB e surgiu de conversa entre o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o líder do PT, senador Delcídio Amaral (MS), e o do PMDB, senador Ney Suassuna (PB).
No almoço, Mercadante reclamou que senadores da base assinaram o pedido de criação da CPI sem consultá-lo e se queixou de que muitos não aparecem para votar nas comissões e no plenário.
Os líderes cobraram um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Mercadante prometeu marcá-lo. "Acho legítimo e isso deve acontecer com mais freqüência", afirmou.
O líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), alertou para a necessidade de parlamentares comparecerem a sessões, sob pena de a oposição não deixar aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Os líderes querem ainda de Lula demonstração de que é contrário à instalação de uma CPI. O porta-voz foi o líder do PP na Câmara, José Janene (PR). Numa reunião dos aliados com o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), Janene estranhou que até agora ninguém tenha pedido articulação contra a CPI.
Mercadante ouviu que o tratamento dispensado pelos ministros aos líderes aliados é "humilhante". Reclamaram mais uma vez de que não conseguem falar com ministros nem pelo telefone.

Jefferson
Incomodada com a exposição do partido, uma ala petebista já defende, publicamente, a idéia de que Roberto Jefferson (RJ) se licencie da presidência do PTB. Sob o argumento de que a imagem do partido está sendo abalada, um grupo de deputados já apresentou a proposta ao líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE), que a rechaçou. Mas a pressão continua.
"Sou favorável a que ele peça licença. Todos que estão no PTB estão sendo estigmatizados", disse Vicente Cascione (SP), vice-líder do governo. Lamentando que associem a crise ao PTB, Cascione minimiza sua opinião alegando que não tem tanta presença partidária. Outros parlamentares, porém, endossam seus argumentos.
Em reunião na terça, a deputada Eliane Costa (RJ) manifestou sua preocupação com a imagem do partido. Frisando que a decisão cabe a Jefferson, diz que "a bancada passa por uma situação difícil". E admite que a permanência do deputado na presidência "afeta mais a imagem do PTB".
O comando do PTB tem apelado para a sensibilidade dos parlamentares. Segundo petebistas ligados a Jefferson, ele passa por momento delicado. Chegou a comentar que, no aeroporto do Rio, suas malas foram abertas pela Polícia Federal. Embora isso tenha ocorrido com os demais passageiros, ele confessou a parlamentares que se sentiu perseguido.


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