São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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SUCESSÃO
Na análise do mercado, queda de FHC foi maior do que a esperada
Crescimento de Lula faz Bolsa de SP cair 2,44%

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

A aproximação entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na mais recente pesquisa Datafolha fez a Bolsa de Valores de São Paulo cair até 3,66% ontem e terminar o dia em baixa de 2,44%. Na sexta, os boatos sobre a pesquisa já haviam derrubado o mercado 3%.
"Os investidores vinham percebendo uma queda nas intenções de voto no presidente Fernando Henrique. Mas o ritmo foi acima do esperado", disse Manuel Maceira, do banco Tendência.
Sob o impacto da pesquisa, os investidores passaram a projetar no mercado futuro juros anuais de 33% nos contratos de "swap" (troca de taxas de juros) de um ano. No fechamento, os juros bateram em 31%, contra 29,5% de sexta-feira. Os juros básicos fixados pelo Banco Central estão em 21,75% ao ano. Ou seja, o mercado espera uma alta nos juros.
As projeções de desvalorização cambial do mercado futuro também subiram, de 1,10% ao mês para 1,17% em junho. "A pesquisa do Datafolha, quando se confirmou, aumentou as incertezas do mercado", disse Rubens Sardenberg, economista da Linear.
Segundo analista do Morgan Stanley Dean Witter que preferiu não se identificar, os investidores estrangeiros não mudaram sua visão de risco do país por causa da pesquisa Datafolha. Ele lembrou que Lula também teve momentos favoráveis em 94, mas nem por isso ganhou as eleições.
Os títulos da dívida externa brasileira renegociada, por exemplo, caíram de 78% do valor de face na quinta-feira para 76,88% na sexta-feira diante dos boatos sobre a pesquisa do Datafolha. Ontem, caíram até 75,875%, mas fecharam em 77,125%.
Também não houve saída brusca de recursos dos país. Até as 18h, haviam saído US$ 45 milhões, abaixo da média de US$ 75 milhões verificada no mês passado.
A desvalorização da Bolsa paulista só não foi maior ontem porque o mercado financeiro acredita que a pesquisa de sábado mostra um dos piores momentos da campanha de FHC. "Salvo surpresas, Fernando Henrique Cardoso deve voltar a ganhar popularidade. A hipótese de o presidente perder as eleições continua completamente descartada pelo mercado."
O cenário externo ajudou a puxar as cotações das ações negociadas na Bolsa paulista para baixo, com a Bolsa da Rússia caindo cerca de 10%, queda no Japão e na Europa. Mas a alta, embora pequena (0,25%) em Nova York, impediu tombos maiores em São Paulo. Um analista acredita que o governo brasileiro tenha entrado no mercado, comprando ações por intermédio da BNDESPar e de fundações, para melhorar as expectativas dos investidores.




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