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"Esquerda põe estabilidade à prova"
ISABEL VERSIANI
de Londres
A possibilidade de a esquerda
subir ao poder no Brasil não deve
ser encarada como algo perigoso.
A opinião é de Ricardo Hausmann, chefe do Departamento
Econômico do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
"A última prova de estabilidade
é quando você pode ter a esquerda
no poder", afirmou Hausmann
ontem. Ele comentava, em entrevista à imprensa, pesquisas de opinião no Brasil que indicam um aumento da popularidade da candidatura de Lula (PT) à Presidência.
Hausmann citou o caso do Chile, presidido por uma aliança de
esquerda, para reforçar sua tese.
Segundo o economista, a alternância de poder, em qualquer
país, é um "sinal de maturidade".
Ex-ministro da Coordenação e
Planejamento da Venezuela, em
1992, Hausmann assumiu a chefia
do Departamento Econômico do
BID em 1994.
Ele foi ontem um dos palestrantes de um seminário sobre o futuro da América Latina, promovido
em Londres pelo BID e a publicação "Latin American Newsletter".
Para Hausmann, as esquerdas
estão sendo eleitas ao redor do
mundo porque passaram a ser vistas como mais "responsáveis" do
que eram no passado.
Além disso, segundo o economista, estaria havendo, no mundo, uma tendência de os partidos
de esquerda e direita adotarem
uma postura mais "de centro".
O secretário-executivo da Cepal
(Comissão Econômica para a
América Latina e Caribe das Nações Unidas), José Antonio Ocampo, afirmou que qualquer novo
governo que venha a assumir o
poder no Brasil terá que dar sinais
"muito fortes" de que apóia a estabilidade econômica.
"Caso fosse eleito, Lula teria
que dar uma mensagem muito
clara sobre os seus planos econômicos", disse Ocampo, que é
ex-ministro das Finanças da Colômbia. Ele ressalvou, no entanto,
que ainda era muito cedo para
"especular" sobre as eleições.
Ocampo argumentou, ainda,
que, com a globalização, a autonomia dos países sobre suas próprias políticas econômicas ficou
restrita, uma vez que suas medidas têm agora impacto imediato
sobre outras economias.
Revolução
O presidente do BID, Enrique
Iglesias, afirmou que a América
Latina está sofrendo uma "revolução silenciosa". As mudanças na
região, segundo ele, passam pela
melhoria na administração e no
gerenciamento dos setores público e privado.
Ao abrir o seminário sobre a
América Latina, Iglesias disse ainda que a região está se abrindo
economicamente, reduzindo tarifas de comércio e aperfeiçoando
acordos de integração regional.
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