São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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"Esquerda põe estabilidade à prova"

ISABEL VERSIANI
de Londres

A possibilidade de a esquerda subir ao poder no Brasil não deve ser encarada como algo perigoso. A opinião é de Ricardo Hausmann, chefe do Departamento Econômico do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
"A última prova de estabilidade é quando você pode ter a esquerda no poder", afirmou Hausmann ontem. Ele comentava, em entrevista à imprensa, pesquisas de opinião no Brasil que indicam um aumento da popularidade da candidatura de Lula (PT) à Presidência.
Hausmann citou o caso do Chile, presidido por uma aliança de esquerda, para reforçar sua tese.
Segundo o economista, a alternância de poder, em qualquer país, é um "sinal de maturidade".
Ex-ministro da Coordenação e Planejamento da Venezuela, em 1992, Hausmann assumiu a chefia do Departamento Econômico do BID em 1994.
Ele foi ontem um dos palestrantes de um seminário sobre o futuro da América Latina, promovido em Londres pelo BID e a publicação "Latin American Newsletter".
Para Hausmann, as esquerdas estão sendo eleitas ao redor do mundo porque passaram a ser vistas como mais "responsáveis" do que eram no passado.
Além disso, segundo o economista, estaria havendo, no mundo, uma tendência de os partidos de esquerda e direita adotarem uma postura mais "de centro".
O secretário-executivo da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe das Nações Unidas), José Antonio Ocampo, afirmou que qualquer novo governo que venha a assumir o poder no Brasil terá que dar sinais "muito fortes" de que apóia a estabilidade econômica.
"Caso fosse eleito, Lula teria que dar uma mensagem muito clara sobre os seus planos econômicos", disse Ocampo, que é ex-ministro das Finanças da Colômbia. Ele ressalvou, no entanto, que ainda era muito cedo para "especular" sobre as eleições.
Ocampo argumentou, ainda, que, com a globalização, a autonomia dos países sobre suas próprias políticas econômicas ficou restrita, uma vez que suas medidas têm agora impacto imediato sobre outras economias.

Revolução
O presidente do BID, Enrique Iglesias, afirmou que a América Latina está sofrendo uma "revolução silenciosa". As mudanças na região, segundo ele, passam pela melhoria na administração e no gerenciamento dos setores público e privado.
Ao abrir o seminário sobre a América Latina, Iglesias disse ainda que a região está se abrindo economicamente, reduzindo tarifas de comércio e aperfeiçoando acordos de integração regional.



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