São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Senadores de risco


O passado precisa ficar no lusco-fusco; do contrário, ninguém, no Senado e fora dele, pode prever ao que levará o escândalo

A CONCENTRAÇÃO sobre José Sarney das más responsabilidades no Senado, acompanhada das pressões para forçar seu afastamento da presidência, tem mais indícios suspeitos do que evidências de propósitos sérios -com exceção de raros senadores de que Pedro Simon é exemplo reconhecido.
Sejam mesmo 600, menos ou mais, os atos secretos que puseram combustível na revelação de irregularidades e ilegalidades no Senado, todos ali sabem duas coisas a respeito. Primeiro, os atos em questão não foram praticados no mandato da atual Mesa Diretora, empossada no começo do ano. Realizados por iniciativa ou assentimento de diferentes Mesas Diretoras no decorrer de anos, envolvem número farto de seus componentes e, com a variação das composições, benefícios para integrantes de todos ou quase todos os partidos.
É muita gente, dos autores aos parlamentares atendidos, interessada em uma aparente solução política, à maneira do que foi feito para Antonio Carlos Magalhães, José Roberto Arruda e, com dose recordista de cinismo, para o feliz pecuarista Renan Calheiros. Mais ainda se a solução administrativa já foi adotada sem dificuldades, com os afastamentos do mecenas Agaciel Maciel e uns poucos mais.
O passado precisa ficar no lusco-fusco. Do contrário, ninguém, no Senado e fora dele, pode prever até onde irá e ao que levará o escândalo, mas lá todos sabem que os riscos são muito grandes. Não é esquecimento, por exemplo, que retém a divulgação das centenas de atos secretos, para que se conheçam suas finalidades, ocasiões, Mesas Diretoras em vigência e senadores atendidos. Na mesma linha, a ênfase dada a nomeações (não necessariamente impróprias) encobre o problema de altíssimas compras autorizadas e suas licitações, quando houve.
Já a ofensiva do PSDB pela saída de Sarney tem particularidades. Quando haverá outra oportunidade de ter um integrante do partido na presidência do Senado, controlando a pauta, as votações, os pedidos de CPI e tanto mais, como ocorrerá se José Sarney deixar o cargo para o vice-presidente peessedebista Marconi Perillo? Mas não se suponha que seria essa a única ou a maior conquista. O PSDB no lugar de Sarney é quase todo o caminho para a certeza de que, se a desordem no Senado sair por completo do controle, a posse da presidência será a última trincheira para proteger peessedebistas comprometidos, como já se sabe haver durante este governo e também no anterior.
Os 600 os quantos sejam os atos secretos estão longe de ser tudo o que deveria ser investigado no Senado, para devolver-lhe alguma respeitabilidade. Mas, por mim, duvido que completem os dedos das mãos os senadores, nos 81, que desejem investigação verdadeira.

Avanços mesmo
O Ministério da Educação deu um show de inovações. No mesmo dia, a aprovação de sua proposta, no Conselho Nacional de Educação, da formidável ideia de liberar parte do currículo para escolha do próprio aluno no ensino médio, além da recomposição temática e do aumento da carga horária de aulas.
Outra medida excelente: a oferta de vagas universitárias gratuitas para professores da rede pública básica sem curso superior. Mesmo que não sejam vagas em número elevado, a medida será uma força multiplicadora do estímulo ao estudo dos docentes.
Por fim, está aprovada, pela comissão especial, a sugestão do MEC de cursos de pós-graduação em jornalismo para diplomados em outras áreas. Ótimo. As empresas não perdem e os leitores/espectadores/ouvintes ganham.
E o MEC tem trabalhado sem ruídos seus e sem as trombetas de Lula.


Texto Anterior: Análise: Crise no Senado continuará com ou sem Sarney
Próximo Texto: Sarney e Renan podem atrasar instalação de conselho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.