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STF avalia grampo como fato "mais grave" entre instituições
Em nota após reunião, ministros dizem que vão aguardar providências do Planalto
Ministros comentaram que, juridicamente, o Supremo não pode tomar atitude formal, pois agentes da Abin não têm foro privilegiado
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião a portas fechadas ontem, no gabinete do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, os ministros do tribunal
avaliaram que a comprovação
de um grampo telefônico envolvendo um membro da corte
e um senador da República é o
fato "mais grave" das relações
institucionais desde a promulgação da Constituição da República de 1988.
Após o encontro de cerca de
uma hora entre os ministros,
coube ao secretário de Comunicação do STF, Renato Parente, fazer um curto comunicado:
"O Supremo Tribunal Federal,
reunido em conselho, foi informado por seu ministro-presidente do teor do encontro
ocorrido nesta data com o excelentíssimo senhor presidente
da República e decidiu aguardar as providências exigidas pela gravidade dos fatos".
Nos bastidores, ministros
disseram à Folha que seria
"desgastante" para a imagem
do STF cobrar uma posição do
governo que poderia não ser
tomada pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Também comentaram que,
juridicamente, o Supremo não
poderia tomar qualquer atitude formal, já que não existe foro privilegiado para integrantes da Abin (Agência Brasileira
de Inteligência), que devem ser
processados na primeira instância do Judiciário.
Já esperavam, no entanto,
que algo de "concreto" seria
feito pela Presidência. Sabiam,
por exemplo, desde a reunião
com Lula pela manhã, que o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, havia posto seu cargo à
disposição. Pouco depois das
19h, o Supremo já informava
que o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, ligou para Mendes comunicando-o que
"a cúpula da Abin havia sido
temporariamente afastada".
Na reunião da tarde, Mendes
e os outros dois ministros que o
acompanharam ao Planalto,
Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso, contaram que Lula se
mostrou "revoltado" com a situação. Relataram uma série de
reclamações feitas na reunião.
A primeira delas seria "confusão" entre o papel da PF e o da
Abin. Explicaram que a Abin,
diferentemente da PF, não tem
o poder investigatório. E alegaram que Lacerda havia levado à
agência o "cacoete de investigador" dos tempos de polícia.
Também disseram que os
"boatos" sobre grampos envolvendo ministros do STF já circularam há anos, mas que o
Executivo nunca teria demonstrado vontade de investigar as
supostas informações. Citaram
que denúncias, em 2006, de
que teria havido grampo ilegal
dentro do gabinete de dois ministros do Supremo e de um do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral), foram negadas pela PF
após curta investigação.
Pela manhã, segundo relato,
Lula reclamou aos ministros
do STF sobre o descontrole e a
quantidade de grampos autorizados pelo Judiciário. Mendes
então relatou a iniciativa de
criar, no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), um sistema de
controle das escutas telefônicas legais.
Na ocasião, uma empresa
contratada pelo TSE afirmou
que havia encontrado a existência das escutas, afirmando
dias depois que não haviam informações suficientes para
confirmar o fato.
Na reunião fechada, os ministros também comentaram
que, ao mesmo tempo em que o
caso demonstra ausência de
uma "mínima disciplina hierárquica", seria "muito mais
grave" se as escutas tivessem
autorização, ou mesmo conhecimento, de qualquer autoridade do governo.
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