São Paulo, Sábado, 02 de Outubro de 1999
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CPI DO NARCOTRÁFICO

Ex-motorista disse que usou gasolina da Câmara

Deputado teria usado máquina para distribuir favores em 98

ABNOR GONDIM
enviado especial a Rio Branco
PAULO MOTA
da Agência Folha, em Rio Branco

O deputado José Aleksandro da Silva (PFL-AC), cuja cassação foi pedida anteontem pela CPI do Narcotráfico, é acusado de utilizar a estrutura da Câmara Municipal de Rio Branco e da Fundação do Bem Estar Social do Acre na campanha eleitoral de 98.
O motorista José Fernandes da Costa, 50, disse à Folha que prestou serviços ao deputado com gasolina requisitada pela Câmara Municipal e que recebia metade do salário de motorista como coordenador da divisão técnica da Funbesa sem trabalhar lá.
Costa disse que recebia requisições de gasolina da Câmara por ordem de Silva. Ele era primeiro-secretário da Câmara antes de assumir o mandato na vaga de Hildebrando Pascoal, que está preso em Brasília, acusado de envolvimento com narcotráfico e grupo de extermínio no Acre.
A mulher do deputado, Kelly Pessoa de Oliveira e Silva, era diretora-presidente da Funbesa, nomeada pelo ex-governador Orleir Cameli. Foi ela quem nomeou o motorista para um cargo que exige curso superior. Costa disse que tem apenas curso primário.
"No dia da eleição, eu nem almocei de tanto transportar eleitor e cabo eleitoral", disse Costa, confessando a prática de crime eleitoral. Ação civil pública movida pelo Ministério Público do Acre contra o deputado, sua mulher e outros membros da direção da Câmara afirma que era total o descontrole no uso de combustível pago pelo órgão.
"Grande parte do combustível pago destina-se a abastecer carros particulares, geralmente de propriedade de vereadores e parentes deles", diz a ação.
Em fevereiro, Costa disse que decidiu entrar na Justiça contra o deputado cobrando uma dívida de R$ 3.200 referente à metade do salário integral de R$ 850 que ele teria deixado de pagar desde que foi nomeado para a fundação.
Cópias de atos assinados pela mulher do deputado mostram que Costa foi nomeado no dia 1º de abril de 98 e exonerado em 31 de dezembro de 98, último dia de gestão do ex-governador Cameli.
"Ela nunca poderia ter feito essa e outras nomeações porque tal competência é exclusiva do governador", disse o secretário estadual de Assistência Social e Cidadania, Cleber Peres. Além disso, Peres disse que o governo Jorge Viana (PT) descobriu que eram funcionários "fantasmas" os ocupantes de cargos comissionados da Funbesa na gestão de Kelly.
"O secretário é de outro partido e pode dizer o que quiser", disse Kelly. "O importante é que minhas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado."
Ela disse que Costa era seu assessor e ocupava a função de motorista, apesar de ser coordenador da divisão técnica. Negou que ele tenha apenas o curso primário.
"Quando acabou o governo, o motorista ficou sem padrinho político e tentou extorquir meu marido, dizendo que era motorista dele", afirmou Kelly.


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