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QUESTÃO AGRÁRIA
Dirigentes nacionais formam grupo de elite de 23 a 25 pessoas
Sem-terra têm tomada de decisão descentralizada
ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Afinal, quem manda no MST? A
mais recente disputa entre o movimento e o governo federal expôs uma faceta pouco conhecida
dos sem-terra: a total descentralização da tomada de decisões.
José Rainha Jr., por exemplo, é
uma das faces mais visíveis do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na mídia. Apesar disso, ele não é dirigente nacional e nem estadual. Ou
seja, ao bater boca com o ministro
Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), que o chama de ""chefe do MST", ele fala na verdade
apenas pelos sem-terra do Pontal
do Paranapanema.
Logicamente, esse é um caso extremo, visto que Rainha tem projeção nacional e influência na história do MST. Mas, na hierarquia,
ele está abaixo de vários dirigentes menos conhecidos.
Os dirigentes nacionais do movimento, chamados de "rapazes"
do MST pelo ministro Jungmann,
numa alusão a serem membros
do segundo escalão, formam um
grupo de elite de 23 a 25 (o número oficial é um mistério) acampados e assentados com mandato de
2 anos, sem restrição à reeleição.
A Agência Folha entrevistou 19
deles na semana passada.
A maioria dos "rapazes" do
MST, que desafiou o governo várias vezes este ano, não chegou
aos 40 anos, não terminou o primeiro grau e tem "salário" que varia de R$ 180 a R$ 400 mensais.
Além de comandar marchas e
invasões a prédios públicos, eles
promoveram vigílias na fazenda
da família do presidente Fernando Henrique, em Buritis (MG), e
prometem ações caso não haja
acordo sobre o crédito agrícola.
O economista João Pedro Stedile, filho de produtores rurais no
Rio Grande do Sul e um dos fundadores do movimento, é o único
que não é "sem-terra".
Na teoria, Stedile, junto com o
paranaense Gilmar Mauro, integram a direção nacional no mesmo grau hierárquico dos outros
21 líderes indicados pela coordenação nacional. Na prática, no entanto, os dois têm mais poder e
são liberados para organizar o
movimento em todo o país.
A maioria dos dirigentes nacionais tem entre 25 e 35 anos e milita no movimento há pelo menos
dez anos. Dos 19 líderes, cinco são
mulheres. Os sem-terra do Sul do
país, berço do MST, ocupam 11
vagas na direção nacional, sendo
cinco gaúchos, três paranaenses e
três catarinenses. Quase todos
atuam fora de seus estados de origem. Só dois dos entrevistados
têm formação universitária e outros dois cursam faculdade.
Dezesseis dirigentes atuam no
MST há pelo menos sete anos. Os
mais antigos são Stedile e o paranaense Delwek Matheus, ambos
com 16 anos de militância. O PT
tem a preferência dos líderes, sendo que seis deles são filiados.
A ligação com a Igreja Católica é
outro referencial entre os líderes.
Alguns iniciaram a militância na
Comissão Pastoral da Terra e outros deixaram o seminário para
aderir aos acampamentos.
A estrutura hierárquica do MST
é descentralizada e tem no topo a
direção nacional, que comanda as
ações em 23 Estados. O MST não
existe no Acre, no Amazonas, em
Roraima e no Amapá.
A coordenação nacional, formada por cerca de 300 sem-terra,
define as linhas mestras que serão
executadas pela direção nacional.
Os coordenadores se reúnem
duas vezes por ano. Os dirigentes
nacionais têm reuniões mensais.
Outra linha política seguida é a
busca da autonomia financeira.
Mas os líderes se recusam a dar
orçamentos ou a revelar quanto
custa manter o MST, alegando
que a arrecadação e o controle é
todo descentralizado. Segundo o
dirigente Gilmar Mauro, 70% da
verba vêm da base. Outros 15%
são doações de sindicatos e de
igrejas e 5% são repasse de ONGs.
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