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QUESTÃO AGRÁRIA
Segundo CNBB, que intermediou as negociações, decisão deve acabar com impasse entre governo e MST
FHC concorda com pedido dos sem-terra
WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso cedeu e concordou
ontem à noite com quase a totalidade dos pedidos que o MST havia feito para a liberação de créditos para o plantio da safra. Segundo a CNBB, que intermediou as
negociações, essa decisão deve
pôr fim ao impasse entre governo
e sem-terra.
Segundo dom Raymundo Damasceno, secretário-geral da
CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) e um dos interlocutores do MST, o governo concordou em liberar até R$ 2.000 de
crédito para cada uma das 110 mil
famílias assentadas. Além disso,
os juros serão de aproximadamente 2% ao ano e haverá o rebate (desconto) de 40% da dívida na
hora do pagamento.
Os sem-terra pediam juros de
1,15% ao ano -o mesmo que
existe na chamada linha A, que
atende exclusivamente os assentados no programa de reforma
agrária. O governo inicialmente
apontava juros de 4% -os mesmos cobrados na chamada linha
C- e rebate fixo de R$ 200.
Dom Raymundo não deu detalhes sobre outros aspectos do financiamento que haviam sido requeridos pelos sem-terra, como
facilidades em oferecer garantias
aos bancos para o empréstimo.
Disse apenas que outras reivindicações, como o de retorno do projeto Lumiar (de assistência agrícola) e de alfabetização e educação, também tiveram avanço.
A reunião da CNBB com o presidente durou mais de duas horas.
Foi encerrada às 23h15 de ontem.
Também participaram das conversas o vice-presidente, Marco
Maciel, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, e
o secretário-executivo do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs
(Conic), pastor Ervino Schimidt.
Dom Raymundo disse que hoje
pela manhã seria emitida nota oficial das entidades mediadoras em
que seriam apresentados todos os
detalhes. Também hoje cedo a
coordenação nacional do MST seria informada sobre a reunião.
"Somos apenas mediadores.
Cabe à direção do movimento
(MST) avaliar se a proposta é do
seu interesse e se atende às suas
necessidades", afirmou o bispo.
"Mas, na minha opinião, ela pode
pôr fim ao impasse."
Desde o início de setembro, o
MST decidiu intensificar a invasão de prédios públicos como forma de pressionar o governo a ceder os recursos para o plantio. No
dia 12, iniciou um movimento de
ameaça de invasão -que durou
11 dias- da fazenda Córrego da
Ponte, em Buritis (MG), que pertence aos filhos de FHC.
Integrantes do movimento passaram o final de semana em compasso de espera. A orientação da
coordenação nacional do MST
era aguardar o resultado da conversa com o presidente para só
depois decidir a estratégia de mobilização dos militantes.
A maior preocupação de Gilberto Portes de Oliveira, um dos
coordenadores do MST, era desfazer os boatos de que o movimento estaria preparando, para o
final de semana, um novo acampamento nas proximidades da fazenda Córrego da Ponte.
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