São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Escândalo que falta


TCU ajuda no esvaziamento do problema na opinião pública ao manter parcimônia imprópria para liberar dados

O GOVERNO FINGE que não vê e não ouve; o Congresso finge que não ouve e não vê as constatações do seu órgão de fiscalização, que é o Tribunal de Contas da União; e diferentes motivos têm negado à opinião pública o destaque merecido pelas informações: a quantidade de grandes obras do governo acometidas de irregulares é muito comprometedor. Só entre as maiores e mais custosas, são 54 as que o TCU recomenda paralisar, para deter a ocorrência das irregularidades já comprovadas.
Embora a importância de sua contribuição fiscalizadora, o próprio TCU colabora para o esvaziamento do problema na opinião pública, ao manter parcimônia imprópria na liberação de dados essenciais das suas verificações. O argumento, para isso, é a presumida solução futura para muitas das irregularidades, o que tornaria de algum modo inconveniente a revelação das respectivas procedências e responsabilidades. As quais, como sempre, são simultaneamente governamentais e empresariais, porque sem aquelas não haveria estas. A divulgação de responsabilidades, porém, não impede solução alguma, e ainda leva a notícias sobre as providências corretivas.
Em relatório preliminar sobre a fiscalização nas obras e suas relações financeiras com o governo, o TCU constatou que as relativas a nove aeroportos tinham irregularidades na contratação ou no custo para os cofres públicos. A Infraero e o Ministério da Defesa, que a inclui, não se sentiram na obrigação de dar ao país as explicações e o relato das providências. Ou não puderam clarear os fatos. Não é de estranhar, portanto, que metade daquelas obras apareçam outra vez entre as que o TCU recomenda paralisar. Mas se as nove tivessem recebido o tratamento devido à opinião pública, pelo Congresso e seus assessoramentos e pelos meios de comunicação, seria improvável a continuação das irregularidades. Para isso servem os escândalos, já que não resultam em punições.

Carioca
Jamais houve tamanha falta de sal em uma campanha pela Prefeitura do Rio. A arrancada de Fernando Gabeira neste finalzinho traz algum sabor de disputa eleitoral, com o suspense criado pelas presenças possíveis no segundo turno. Gabeira entrou na campanha como o candidato, dentre todos, que tem um patrimônio expressivo de votos verdadeiramente seus. A isso somou um potencial de ampliação bastante largo, inclusive por ter em sua faixa de disputa uma só concorrência entre as mais promissoras eleitoralmente -Jandira Feghali, do PCdoB. A arrancada de Gabeira não pode ser vista, portanto, como surpreendente. Tardou porque contida por sua própria campanha, tanto ao consumir tempo demais em mares já conquistados pelo candidato, como pelo encontro do discurso mais adequado a áreas seduzíveis. As conquistadas em parte, e não esgotadas, nestes dias finais.
Onze dos candidatos não chegarão a prefeito, ao menos desta vez. Mas o derrotado, mesmo, não é candidato. É o prefeito Cesar Maia. Jogou tudo o que pôde, inclusive em agressividade inusitada, mas sua reprovação pelos cariocas, recordista no quadro atual de prefeitos de capitais, não permitirá que sua criação Solange Amaral recolha nas urnas senão migalhas.
A disputa foi insossa ainda por outro motivo: o Rio está tão aturdido com sua realidade que as campanhas transitaram nos mesmos limites temáticos: nenhuma proposta de fato nova, para acender conversas eleitorais -que, de resto, também não aconteceram.


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