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JANIO DE FREITAS
A ziquizira
A coerência das inversões
está mantida: todas as lideranças petistas negam agora "a
importância de ganhar em São
Paulo", que tanto repetiram, como precondição "fundamental
para a reeleição de Lula". As palavras entre aspas são encontráveis, impressas, sob as ocasionais autorias de José Dirceu, José Genoino, Aloizio Mercadante, um Luizinho que prefere anteceder-se de título, "professor",
a seguir-se de sobrenome, e outros ilustres flexíveis. Nem por
isso faltará aqui o consolo devido aos caídos: governo federal
influi em eleição municipal,
mas eleições municipais não influem em sucessão presidencial.
Não sei de onde saiu, mas parece ter sido de petistas e suas
jornalistas, a idéia de que as
eleições municipais já prenunciariam a eleição ou reeleição
presidencial. Pelo menos nos últimos 44 anos, não há nenhuma
evidência de tal relação.
Jânio Quadros, último presidente eleito antes da ditadura,
venceu contra o PSD e o PTB,
que tinham o predomínio dos
municípios. Primeiro eleito depois da ditadura, Collor não baseou a candidatura ou a campanha em apoios partidários, logo,
não dependeu da influência política dos novos ou velhos prefeitos. Quando Fernando Henrique Cardoso se elegeu, o PSDB
era um partido pequeno e paulistamente paroquial, e nem sua
aliança com o PFL diminuiria o
papel do real, e não a influência
da política nos municípios, na
derrota de Lula. Quatro anos
depois o PSDB, graças à presença no poder federal, já era o
atual partido paulista com sucursais pelo país afora, mas a
unanimidade tem atribuído a
reeleição ainda ao real.
E, no entanto, aí está a dominante teoria da fundamental
influência das eleições municipais na eleição presidencial,
dois anos depois. Pode até acontecer. Como novidade, porém. E
não se sabe de que modo, tantas
são as variações possíveis nos
novos arranjos partidários que
em breve se iniciam.
A influência inversa, do desempenho do governo federal
nas eleições municipais, é o que
mais interessaria agora aos exames da oposição e do PT. Em
sua entrevista "analítica" de ontem, disse José Genoino sobre os
resultados em geral: "Nós [a direção do PT] achamos que a
campanha foi vitoriosa". Não
fosse o Genoino, pareceria impossível alguém ser capaz de tal
"achar". Para não ser indelicado, pode-se dizer que o PT levou
uma senhora surra.
Como no primeiro turno ocorreu com velhos domínios seus
nos municípios paulistas, lá se
foram outros no segundo, da
nortista Belém à sulista Porto
Alegre. Do Rio para baixo (em
plena campanha, José Dirceu
assegurava a vitória do PT no
Rio, onde se deu a mais vexatória das suas derrotas), os petistas, além das capitais, não têm
mais nenhum dos chamados
municípios expressivos, politicamente. No Centro-Oeste, Goiânia e Cuiabá ficam com o PSDB.
No Nordeste, ganhou em Fortaleza para receber um provável
problema e, em Pernambuco,
conservou Recife, mas à custa
do apoio do governador a Lula.
Para um partido no poder federal, e fazendo o uso da máquina administrativa como fez
o governo, incluído o próprio
presidente, derrota tão extensiva é uma anomalia. O que se
deu? Uma numerosíssima coincidência, que varreu o país do
alto a baixo e só envolvendo o
PT? Uma ziquizira, talvez, que
se espalhou por todos os cantos?
A ziquizira que fez tantas pessoas dizerem a mesma frase:
"No PT eu não voto mais". Gente que sempre votou no PT, ou
na esquerda, ou na "esquerda",
e nesta eleição, por exemplo no
Rio, dizia "no PT não voto mais,
voto até no Cesar Maia", e votou no Cesar Maia.
A ziquizira nacional não estava entre as promessas da campanha de Lula, mas é sua maior
(ou única) obra de âmbito nacional.
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