São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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TODA MÍDIA

US$ 1 bilhão

NELSON DE SÁ

O "New York Times" destacou ontem em manchete a "inundação de comerciais" na reta final da campanha.
É a "guerra de propaganda mais pesada da história", com os gastos de John Kerry e George W. Bush alcançando US$ 600 milhões entre março, quando surgiram as primeiras inserções, e hoje, dia de eleição.
Só na última semana, o "NYT" calcula em U$ 60 milhões o dispêndio das campanhas.
O "Guardian", por outro lado, relatou que a TNS, entidade que monitora a mídia eleitoral, concluiu que, somados também os gastos de organizações supostamente apartidárias que atuaram em favor dos dois, o volume de dinheiro usado para comerciais passa de US$ 1 bilhão.
Para o diretor da TNS, "esta eleição muda a política".
Mas o que choca é menos o gasto total e mais o que vem sendo destinado à reta final. Segundo a TNS, nos Estados divididos, que podem definir a eleição presidencial, quase não há mais intervalo sem propaganda.
Na Flórida, os telespectadores de Tampa viram 200 comerciais, só no sábado. Em Nevada, os de Las Vegas viram 150.
Os moradores de Toledo, em Ohio, vão votar hoje depois de um bombardeio de 15 mil comerciais em sete meses.
No "NYT", o estrategista-chefe -o marqueteiro- de Bush reclamou que era "difícil romper a barreira" da cacofonia publicitária da semana final.
E um dos estrategistas de Kerry sublinhou que os democratas não vão baixar a guarda -argumentando que, em 2000, Al Gore gastou 30% menos que Bush, na Flórida, e perdeu por 600 votos. Perguntou:
- Você não acha que eu poderia encontrar mais 600 votos com mais US$ 700 mil?
 
Para quem pensa que o problema se restringe à democracia americana, o "La Nación" deu, em reportagem com declarações preocupadas do presidente do Supremo, Nelson Jobim, que "os gastos eleitorais no Brasil se comparam aos dos EUA".
Para uma consultora, já atingem "níveis espetaculares". Segundo o jornal argentino:
- O Brasil tem hoje o maior gasto eleitoral por cidadão em toda a América Latina.

ESPECULAÇÃO

As pesquisas americanas seguiam ontem na confusão costumeira, um pouco para o empate, um pouco para John Kerry, um pouco para George W. Bush. E sobrou piada nos blogs sobre a pró-republicana Fox News, cuja pesquisa mostrou ontem o democrata na frente, por dois pontos -e por cinco pontos, na Flórida.
Mais importante, correu pela mídia toda, inclusive a brasileira, a avaliação de que a forte queda no preço do petróleo seria resultado da avaliação, dos investidores, de que Kerry vai vencer e afrouxar a política de reservas. Mas "Financial Times", Bloomberg e outros não compraram essa explicação para a queda, dizendo que há várias possibilidades e nenhuma delas faz muito sentido.

wonkette.com/Reprodução
MAMULENGO Para alguns, o independente Ralph Nader ajudou a eleger Bush há quatro anos e ameaça repetir o feito. Mas a mídia americana, blogs à frente, não tem levado Nader a sério -ele e sua curiosa campanha, que recorre a coisas como simular um debate com bonecos de Kerry e Bush

Dois pólos
No rescaldo das eleições municipais, ontem, a Globo continuava incapaz de apontar a derrota do governo. O Jornal Nacional noticiou as vitórias de um lado, as vitórias de outro e opinou, por Franklin Martins:
- O PT e o PSDB saíram como os grandes partidos do país. O PT porque foi o que recebeu mais votos, nos dois turnos. Mas o PSDB tomou São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Tudo somado, o jogo político fica mais equilibrado e organizado, daqui para a frente.
Era palpável a alegria global com a polarização entre os petistas e os tucanos:
- Os outros partidos, PMDB, PFL, PTB etc., tendem a gravitar em torno dos dois pólos.

Recado
Em contraponto, Boris Casoy, no Jornal da Record:
- O PT terá muito o que meditar sobre o recado que recebeu das urnas. O partido cresceu muito, nacionalmente, mas perdeu cidades importantes, estratégicas. No caso de São Paulo, a derrota de Marta Suplicy deve ser dividida com Lula.

Mistura
O "Independent" fez de novo. Após apontar o Rio como cidade do crime, deu reportagem dizendo que "a destruição da Amazônia é feita com trabalho escravo", juntando dois temas caros no exterior. A BBC Brasil ecoou, depois UOL, rádios, canais de notícias etc.


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