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GOVERNO
Cardoso diz que descontrole tem permitido vazamento de informações
General admite que setor da Abin está sem controle
WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro-chefe do Gabinete
de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, reconheceu
ontem que pelo menos um setor
da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está fora de controle e tem permitido vazamentos de
informações -segundo ele, "infundadas".
O setor com problemas seria o
de Segurança Orgânica, responsável justamente por manter a salvaguarda das informações produzidas. "Verifica-se que há alguns
vazamentos", afirmou. "Isso quer
dizer que temos que aperfeiçoar
esse setor, pois, afinal de contas,
os conhecimentos lá produzidos
são de propriedade do Estado
brasileiro para serem usados apenas pelo destinatário, que é o presidente da República."
Diante da constatação do problema, o general disse esperar que
mais denúncias contra a Abin sejam reveladas nos próximos dias.
"Temos de ser pragmáticos e realistas. Eu acho que virão novas
(denúncias) pelo caminho, porque quem iniciou isso, iniciou
municiado de temas ou de documentos de uso interno", afirmou.
Segundo Cardoso, o primeiro
documento interno que apareceu
na imprensa nos últimos dois meses, por exemplo, era apenas uma
proposta de plano de inteligência
"para sugestões e para estudos
que nem sequer tinha assinatura". Para o general, "é lógico que
está havendo uma trama para
atingir a instituição ou contra as
pessoas que dirigem a Abin". Ele
não quis citar nomes. "Mas não é
uma trama institucional (orquestrada). As denúncias não estão no
contexto de valores, estão em outro contexto."
Demissão
O general Cardoso disse que, de
todas as acusações recentes contra a Abin, a única denúncia que
trazia algum contexto de valor foi
a revelação de que o ex-tenente
Carlos Alberto del Menezzi teria
participado de torturas durante o
regime militar. "Essa foi a razão
pela qual até ontem (anteontem)
o coronel Ariel De Cunto não havia se sentido constrangido e levado a pedir demissão. Ele percebeu
que, naquela denúncia (o do acusado de tortura), ele se responsabilizava por ela."
Ontem, o general buscou amenizar o episódio de saída do diretor-geral da Abin, que foi demitido por ele por determinação do
presidente Fernando Henrique
Cardoso. Durante a entrevista,
concedida após ato ecumênico
em comemoração aos 62 anos de
criação da Casa Militar da Presidência -antecessora do Gabinete de Segurança Institucional-,
Cardoso embargou a voz e marejou os olhos ao falar do "amigo de
48 anos" que teve de demitir.
"Ele (De Cunto) pediu a exoneração. Ele foi correto até o último
instante, o tempo todo foi correto.
Ele percebeu que havia constrangimentos naquela situação daquele servidor (Menezzi), que era
um servidor correto e muito bom,
e pediu demissão para desanuviar
a situação. E, com muita dor no
coração, tive de aceitar o pedido
de demissão do Ariel."
Durante o ato ecumênico que
reuniu os vários setores do seu gabinete, Cardoso disse, também
emocionado, que ali "estava fazendo falta um guerreiro dos últimos seis anos", citando indiretamente De Cunto. "Ele se afastou
em nome da transcendência do
Estado, que é muito mais forte
que a transcendência da amizade." O general Cardoso negou que
as denúncias e a demissão de De
Cunto o tenham deixado em posição desconfortável no governo.
"Eu me sinto preocupado, é lógico, pois é um órgão subordinado a mim sob esse bombardeio.
Mas desconfortável no cargo não.
Pelo contrário, eu cresço no combate. Assim foi minha vida. Enquanto eu tive uma missão, a levei
até o fim."
Ontem foi publicada no "Diário
Oficial" da União a demissão de
De Cunto. Responderá interinamente pela Abin a atual diretora-geral-adjunta, Marisa Del'Isola e
Diniz. Ela integra a estrutura de
informações há 25 anos, é psicóloga e respondeu nos últimos sete
anos pelo centro de formação de
pessoal.
"É uma mulher muitíssimo
competente, séria e discreta. Vocês jamais verão uma entrevista
dela", afirmou Cardoso. Ontem,
por exemplo, ela não compareceu
ao culto ecumênico, que reuniu
mais de 200 servidores.
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