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JUDICIÁRIO
Apelidado pelos rivais de PCC, grupo apóia Lazzarini contra Nigro Conceição
TJ faz eleição polarizada por movimento do "baixo clero"
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A eleição para a presidência do
Tribunal de Justiça de São Paulo,
o TJ, que ocorre na próxima quarta-feira, pôs em evidência não
apenas os dois adversários que
disputam o mais alto cargo da
magistratura paulista. O debate
pré-eleitoral foi esquentado pela
presença e atuação heterodoxa de
um grupo de juízes que se autodenomina do "baixo clero".
O nome do grupo: Movimento
de Renovação e Revalorização da
Magistratura. Surgiu há cerca de
um ano. Os adversários o chamam de PCC -alusão ao Primeiro Comando da Capital, organização criminosa com ramificações
nos presídios do país. Alguns juízes chegam a adotar a expressão
"fascista" para se referir ao grupo,
que costuma rebater a acusação
nos mesmos termos.
A tensa atuação nos bastidores
do TJ à véspera da eleição serve
para compensar o fato de a maioria dos magistrados não ter direito a voto. Dos 1.921 juízes estaduais, a decisão é uma prerrogativa dos 132 desembargadores
-juízes mais antigos.
Formado por cerca de 35 desembargadores, o movimento vê
na eleição do tribunal uma possibilidade de chegar à cúpula do Judiciário paulista. Entre os dois
candidatos, Sérgio Augusto Nigro
Conceição (ex-corregedor-geral)
e Álvaro Lazzarini (atual vice-presidente), apóiam o último por
considerá-lo mais "afinado" com
as idéias do movimento.
A declaração de apoio desagradou às maiores associações paulistas de magistrados, a Apamagis
(Associação Paulista de Magistrados) e a AJD (Associação Juízes
para a Democracia), e desencadeou uma reação contrária à candidatura de Lazzarini, colocando
o nome de Nigro Conceição em
vantagem na disputa.
"Há um grupo aí de que eu não
gosto e que fecha com Lazzarini.
Diante desse fato, tendo mais para
Nigro Conceição. Entendo que o
objetivo maior do movimento seja a busca do poder, o que preocupa", diz o presidente do Conselho
Executivo da AJD, Ary Casagrande. Ele ressalva que essa é uma
opinião pessoal, já que a associação não apóia nenhum candidato.
Para o presidente da Apamagis,
Artur Marques da Silva Filho, o
movimento "deixou vazar" uma
articulação política dentro do TJ,
o que ele considera preocupante.
"Os juízes não gostam de nenhum
movimento de dominação ou de
democracia imposta."
Papel apócrifo
O principal motivo da preocupação dos juízes é um documento
apócrifo, que circulou recentemente no tribunal, no qual o movimento diz estar cansado da
"obediência cega e servil" e conclama seus membros a disputar
cargos de poder no Judiciário.
"Este movimento inicia uma
nova era. Daqui a 20 anos, quando já efetivamente instalado, será
lembrado e aplaudido", diz um
trecho extraído da carta.
O documento, de dez páginas, é,
na verdade, a transcrição de um
discurso que o desembargador
José Rodrigues de Carvalho Netto, um dos idealizadores do movimento, fez durante uma reunião
fechada do grupo.
"Essa carta é coisa séria. Falei isso em uma reunião. Alguém gravou e transcreveu. Você deve levar em consideração que falei
muitas coisas em tom de brincadeira. Por exemplo, uso expressões militares e não sou militar."
Orçamento
O movimento foi protagonista
ainda de uma das questões mais
importantes do Estado de São
Paulo neste ano, que terminou
com o desgaste interno de Lazzarini: a paralisação do Orçamento.
Descontente com o corte efetuado pelo governo paulista na verba
solicitada pelo Judiciário para o
exercício de 2002, o desembargador Luiz Pantaleão, que também é
membro do movimento, pediu ao
TJ a paralisação do Orçamento.
Na ação, ele incluiu o atual presidente do tribunal, Márcio Bonilha, como um dos responsáveis
pelo corte. Sendo Bonilha uma
das autoridades co-autoras, o
mandado de segurança foi distribuído para o primeiro vice-presidente, Álvaro Lazzarini, como dita as normas internas do TJ.
"Sabíamos que a ação iria para
ele, mas não foi proposital. O Lazzarini não sabia o que planejávamos", afirma o desembargador
Carvalho Netto. "O que interessa
é que, se não fosse por nós, a verba
do Judiciário não teria sido aprovada [e não foi]. Foi uma vitória
enorme do movimento. E o Lazzarini lutou desde o início para
que isso fosse respeitado."
Após 20 dias, a proposta foi enviada ao Legislativo com a "sugestão" de que o valor solicitado pelo
TJ para 2002 fosse analisado pelos
deputados. O projeto final deve
ser aprovado ainda neste mês.
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