São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2004

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DISPUTA DA COROA

Ex-presidente diz que é o momento de o PSDB se mostrar competitivo e de não responder "amém" ao governo

"Fiquei dois anos sem reagir", afirma FHC

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Fiquei dois anos sem reagir", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ontem, em entrevista à Folha.
Questionado sobre a escolha do momento para fazer a mais dura crítica ao governo Luiz Inácio Lula da Silva até aqui -a quem ele acusou de incompetência-, FHC mencionou o resultado das eleições municipais -em que o PSDB "se situou bem no Brasil"- e falou da necessidade de marcar o momento.
"Nós somos competitivos. Acho que é o momento de o PSDB não esquecer que ele é competitivo. E quem é competitivo não diz "amém". Não fica só dizendo "sim, senhor'", afirmou.
Para o ex-presidente, o PSDB ganhou em São Paulo, com José Serra, e o PPS venceu em Porto Alegre, com José Fogaça, "porque há uma certa insatisfação" da população com o governo Lula.
A população quer "alguma coisa diferente", afirmou FHC, e "você tem que dar um curso a essa alguma coisa diferente". "Tem que materializar isso", disse ele sobre a estratégia do PSDB.
Sobre a crítica de incompetência ter vindo na véspera do anúncio de crescimento de 5,3% do PIB, afirmou que uma coisa não se relaciona com a outra. "Ressalvei a área econômica. Na área macroeconômica, foram preservadas as linhas fundamentais que nós lançamos", disse. "Eu falei do resto, não falei disso."
"É uma pena que, no resto, está faltando política -na educação, na saúde", disse. "Crescer para quê? Já que estamos assim, não é o momento de acertar o resto?"
"Todo mundo está vendo que há falhas. E que o Congresso não vota. Não há uma agenda", disse.
Sobre o momento da crítica, explicou: "Na transição [para o governo Lula], eu era presidente da República. Eu os tratava bem. Terminada a transição, em vez de me tratarem bem, começaram a dizer que tudo era herança maldita. Fiquei dois anos sem reagir. E até hoje não estou jogando pedra. Mas eu tenho responsabilidade com o país, tenho que dizer o que penso".
As declarações de Fernando Henrique Cardoso provocaram a reação incisiva de ministros e parlamentares governistas. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), disse que "um ex-presidente não deve perder a majestade".
Ontem, FHC respondeu com ironia: "Essa coisa de majestade é saudade do Império. Aliás, aquele bigodão do Aloizio ia bem no Império". Em relação à declaração de Lula de que há muita gente "torcendo" contra, como "ex-marido que não quer que a mulher seja feliz com outro", o ex-presidente disse que "é divertido, mas não tem nada a ver com a realidade". "Não estou contra."
FHC disse ficar "feliz" com o tamanho da reação a suas declarações, por receber "alguma atenção", mas reagiu às críticas. "Deixou de ser um estadista." Como? Um estadista não pensa, não fala? Onde é que viram isso?", perguntou. "Porque sou um ex-presidente tenho que ficar com a boca calada? Por que não cobram a mesma coisa dos ex-presidentes que apóiam o governo? Eles podem?" Para ele, o governo tem que "aprender a ouvir".
Ainda sobre as reações: "Eles devem pensar que eu sou candidato". Ele nega.


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