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DISPUTA DA COROA
Ex-presidente diz que é o momento de o PSDB se mostrar competitivo e de não responder "amém" ao governo
"Fiquei dois anos sem reagir", afirma FHC
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Fiquei dois anos sem reagir",
disse o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso ontem, em entrevista à Folha.
Questionado sobre a escolha do
momento para fazer a mais dura
crítica ao governo Luiz Inácio Lula da Silva até aqui -a quem ele
acusou de incompetência-, FHC
mencionou o resultado das eleições municipais -em que o
PSDB "se situou bem no Brasil"- e falou da necessidade de
marcar o momento.
"Nós somos competitivos. Acho
que é o momento de o PSDB não
esquecer que ele é competitivo. E
quem é competitivo não diz
"amém". Não fica só dizendo "sim,
senhor'", afirmou.
Para o ex-presidente, o PSDB
ganhou em São Paulo, com José
Serra, e o PPS venceu em Porto
Alegre, com José Fogaça, "porque
há uma certa insatisfação" da população com o governo Lula.
A população quer "alguma coisa diferente", afirmou FHC, e "você tem que dar um curso a essa alguma coisa diferente". "Tem que
materializar isso", disse ele sobre
a estratégia do PSDB.
Sobre a crítica de incompetência ter vindo na véspera do anúncio de crescimento de 5,3% do
PIB, afirmou que uma coisa não
se relaciona com a outra. "Ressalvei a área econômica. Na área macroeconômica, foram preservadas as linhas fundamentais que
nós lançamos", disse. "Eu falei do
resto, não falei disso."
"É uma pena que, no resto, está
faltando política -na educação,
na saúde", disse. "Crescer para
quê? Já que estamos assim, não é o
momento de acertar o resto?"
"Todo mundo está vendo que
há falhas. E que o Congresso não
vota. Não há uma agenda", disse.
Sobre o momento da crítica, explicou: "Na transição [para o governo Lula], eu era presidente da
República. Eu os tratava bem.
Terminada a transição, em vez de
me tratarem bem, começaram a
dizer que tudo era herança maldita. Fiquei dois anos sem reagir. E
até hoje não estou jogando pedra.
Mas eu tenho responsabilidade
com o país, tenho que dizer o que
penso".
As declarações de Fernando
Henrique Cardoso provocaram a
reação incisiva de ministros e parlamentares governistas. O líder do
governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), disse que "um ex-presidente não deve perder a majestade".
Ontem, FHC respondeu com
ironia: "Essa coisa de majestade é
saudade do Império. Aliás, aquele
bigodão do Aloizio ia bem no Império". Em relação à declaração
de Lula de que há muita gente
"torcendo" contra, como "ex-marido que não quer que a mulher
seja feliz com outro", o ex-presidente disse que "é divertido, mas
não tem nada a ver com a realidade". "Não estou contra."
FHC disse ficar "feliz" com o tamanho da reação a suas declarações, por receber "alguma atenção", mas reagiu às críticas. "Deixou de ser um estadista." Como?
Um estadista não pensa, não fala?
Onde é que viram isso?", perguntou. "Porque sou um ex-presidente tenho que ficar com a boca calada? Por que não cobram a mesma
coisa dos ex-presidentes que
apóiam o governo? Eles podem?"
Para ele, o governo tem que
"aprender a ouvir".
Ainda sobre as reações: "Eles
devem pensar que eu sou candidato". Ele nega.
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