São Paulo, sexta-feira, 02 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DEPOIS DA QUEDA

Presidente, que agiu de maneira apenas discreta para preservar mandato de Dirceu, diz que não havia provas contra ex-deputado

Após cassação, Lula defende ex-ministro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após a cassação do mandato de José Dirceu (PT), integrantes do governo federal, em especial o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, saíram em defesa do ex-ministro da Casa Civil. Para Lula, o homem forte do início de sua gestão foi cassado sem provas e somente a "história" irá julgá-lo.
O presidente não criticou diretamente a Câmara, mas disse que a decisão o fez "pensar um pouco mais". Dirceu esteve na Casa Civil entre janeiro de 2003 e junho de 2005, quando, praticamente obrigado a sair, reassumiu o mandato de deputado para se defender das denúncias de envolvimento no esquema do "mensalão".
"O Congresso Nacional tem soberania para tomar as decisões e votar naquilo que a gente gosta e naquilo que a gente não gosta. A única coisa que eu lamento é que José Dirceu tenha sido cassado antes de provarem alguma coisa contra ele", afirmou o presidente. Ele disse acreditar que a história "vai se encarregar de colocar as coisas às claras".
O comentário de Lula sobre Dirceu, com quem disse ter uma "relação de amizade e carinho", ocorreu em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto, da qual participaram ministros, empresários, sindicalistas e representantes da sociedade civil.
O presidente, ao iniciar seu discurso, incluiu a cassação de Dirceu como uma das notícias negativas que recebeu ao longo desta semana. Do lado bom, colocou a divulgação de dados positivos sobre indicadores sociais e um acordo fechado com a Argentina anteontem. Do negativo, o recuo de 1,2% do PIB no trimestre passado e a cassação de Dirceu.
A referência a notícias boas e ruins estava anotada à mão no verso do texto que serviu de roteiro para o discurso. Logo após o lembrete "Tem demandas do Conselho que precisa ser discutido (sic)", o rascunho registrava "Notícias boas e notícias ruins; Boas Pnad -Pib - Zé Dirceu".
Há quatro meses, Lula tinha interesse num rápido desfecho da crise, o que incluía a entrega da cabeça de Dirceu. A dinâmica da crise foi mudando essa avaliação. Nos últimos dias, Lula autorizou discreta operação para tentar ajudar Dirceu. Não foi ostensiva, mas aconteceu como reflexo de que pouco adiantaria sacrificá-lo. Anteontem, Lula telefonou para Dirceu para lhe desejar boa sorte.

Ministros
Os ministros Thomaz Bastos e Jaques Wagner (Relações Institucionais) também saíram em defesa de Dirceu. "Foi uma cassação, na minha opinião, injusta, uma cassação que não se baseou em provas. Ao contrário, foi um julgamento puramente político, não se fundamentou em provas. Eu respeito a soberania do Congresso, mas essa é a minha avaliação", afirmou Thomaz Bastos.
Jaques Wagner lamentou a cassação -"É evidente que estou triste, um amigo meu foi cassado"- e a comparou à pena de morte. "Para mim, cassação está para o político como a pena de morte está para uma pessoa comum. E, portanto, para ser executada tem de haver convicção plena, absoluta e material", afirmou.
Eleito com 556.563 votos em 2002, Dirceu só poderá disputar um cargo eletivo em 2016.
O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse que a cassação "corresponde à vontade da maioria dos deputados". (PEDRO DIAS LEITE, EDUARDO SCOLESE, NEY HAYASHI DA CRUZ e ANDRÉA MICHAEL)

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