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Resultado é benéfico a Lula, dizem analistas
DA REPORTAGEM LOCAL
A cassação de José Dirceu foi,
do ponto de vista mais imediato,
positiva para o governo, protege o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Antonio Palocci
(Fazenda) e contribui para o arrefecimento da crise, afirmam os
cientistas políticos Fábio Wanderley Reis e Fernando Abrucio.
Professor emérito de ciência política da Universidade Federal de
Minas Gerais, Reis afirma que, de
cara, o governo ganha "porque,
bem ou mal, a cassação redunda
numa satisfação à opinião pública". Para Abrucio, da Fundação
Getúlio Vargas de São Paulo, "Lula sai beneficiado porque o gosto
de sangue na boca já foi realizado
para a oposição".
A cassação, continua Reis, "tem
um certo sentido de arrefecimento da crise". "Inclusive se contraposta às alternativas. Se o Dirceu
não fosse cassado, teríamos a
oposição mais aguerrida, partindo para a briga." Eventualmente,
ele diz, caso Dirceu não fosse cassado, poderiam insistir em ir
"atrás de outras figuras, como o
Palocci e o próprio Lula".
Abrucio discorda em parte, já
que para ele o "arrefecimento" da
crise já ocorria antes mesmo da
cassação, fruto do "cansaço"
enorme e da incapacidade da
oposição de conseguir provas decisivas nas investigações nas CPIs.
Nesse ponto -o das provas-
os dois e a professora de ciência
política da USP Maria Hermínia
Tavares de Almeida concordam.
Para eles é correto dizer que não
foram reunidas provas conclusivas contra Dirceu.
"É um julgamento político",
afirmou Maria Hermínia. "É muito plausível que ele tivesse responsabilidade, dado o papel que
ele teve no partido e que tinha no
governo. E é implausível supor
que tudo ocorresse sem o conhecimento dele. Mas é verdade que
até agora não há provas."
Foi a pressão da opinião pública, dizem os analistas, que levou o
Congresso a tomar a decisão.
De toda forma, Maria Hermínia
também chama atenção para a
atuação da gestão Lula no processo. "Ou o governo não se empenhou em defender um ex-ministro tão importante quanto o ex-deputado José Dirceu ou o governo perdeu a capacidade de coordenar o Congresso."
Considerando as motivações
contra o ex-deputado -que incluiria, diz, uma reação à suposta
arrogância de Dirceu-, Reis afirma ser favorável a uma revisão do
modo como se processam cassações, retirando-as do domínio exclusivo do Congresso e permitindo o julgamento pelo Poder Judiciário. "Até que ponto a pressão
da opinião pública não contém
um elemento espúrio?"
Abrucio disse ser favorável a um
"compartilhamento da decisão
entre Câmara e Supremo" em casos como esses. Para Maria Hermínia, no entanto, o processo interno à Câmara é cabível e assim
deve permanecer. "É um mecanismo que o Congresso tem para
punir os seus membros. É razoável; assim como o Executivo pode
demitir um ministro", afirma.
(RAFAEL CARIELLO)
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