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Elio Gaspari
Lula quer a cavalaria tucana na CPMF
Aécio, Cássio Cunha Lima, José Serra e Yeda Crusius
são os mosqueteiros que podem dividir o PSDB
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O GOVERNO deu-se conta de que o
caminho mais seguro para prorrogar a CPMF é um pedido de socorro aos quatro mosqueteiros tucanos:
os governadores Aécio Neves (MG), Cássio Cunha Lima (PB), José Serra (SP) e
Yeda Crusius (RS). Como a votação no
Senado será aberta, até meados de dezembro a patuléia poderá conferir se os
tucanos fizeram-na novamente de boba.
Na manhã de quinta-feira o ministro
da articulação política, José Múcio, tinha
um prognóstico assustador para o governo. Dos 49 votos necessários para obter
do Senado a prorrogação da CPMF, só 44
estariam disponíveis. A oposição teria
37, quatro além dos 33 necessários para
matar o imposto. Segundo ele, Lula surpreendeu-se. Talvez tenha exagerado,
pois seus adversários creditavam-se 36.
Nas duas contas vê-se que o bloco contrário ao imposto do cheque pode prevalecer. Nosso Guia ainda tem pelo menos uma semana para mudar esses números.
Pela primeira vez em muitos anos, uma
votação importante pode ser acompanhada na ponta do lápis.
Admitindo-se que os os Democratas
(14 senadores) cumpram a palavra e o
PSDB (13) resista aos mosqueteiros, seriam necessários mais cinco votos para
barrar o imposto. Eles sairiam de uma
lista onde estão nove senadores:
Cesar Borges, Expedito Junior, Geraldo Mesquita, Jarbas Vasconcelos, José
Nery, Mão Santa, Mozarildo Cavalcanti,
Pedro Simon e Romeu Tuma.
Quatro deles poderiam mudar de idéia
e, ainda assim, a CPMF iria às urtigas.
Esse caminho parece pedregoso. Seria
mais fácil dividir a bancada tucana com o
docinho da "modificação" de última hora pedido por Aécio Neves. É uma proposta legítima, pois ele e Serra nunca esconderam suas simpatias pela CPMF.
(Ela deriva de um instinto canibal, a
crença de que, na Presidência, teriam os
R$ 40 bilhões ao sabor de suas canetas.)
Mais uma vez, o tucanato finge que sua
malandragem é indecisão. Seja qual for o
assunto (mensalão, por exemplo) ele se
divide em duas bandas. Numa protege
Eduardo Azeredo. Noutra, estimula a
crucifixão dos petistas. Nos dois casos,
engana quem acredita neles. O PSDB
acusa Nosso Guia de gastar muito, reclama da carga tributária e, na hora do vamos ver, seus quatro governadores (dois
dos quais são candidatos a presidente da
República) afinam-se com a charanga do
Planalto.
DOIS ANOS PARA DAR 23 TELEFONEMAS
A ekipekonômica de Nosso
Guia ladra para a banca, mas
só morde no andar de baixo.
Apresenta uma parolagem em
defesa da redução das tarifas
bancárias sabendo que pouco
conseguirá. Primeiro porque
não quer interferir no mercado. Segundo, porque é um direito dos bancos ganhar dinheiro cobrando pelos seus serviços. Se eles competem
pouco (como lembrou um estudo do FMI de 2003) é porque o Banco Central deixa.
Quando uma proposta
ameaça verdadeiramente o
cofre da banca, ela é esterilizada. Em fevereiro de 2006,
depois que vários Estados leiloaram suas folhas de pagamento, o então secretário do
Tesouro, Joaquim Levy,
anunciou sua disposição de
levar ao martelo 25 milhões
de contas dos INSS, um ervanário de R$ 12 bilhões mensais. Atualmente 23 bancos
movimentam esse dinheiro a
leite de pato. O leilão renderia
pelo menos R$ 1 bilhão a cada
ano para o INSS. Engavetaram a proposta, pois 2006 era
um ano eleitoral (leia-se arrecadatório). O ministro da Previdência, Nelson Machado,
dizia que eram necessárias
mais algumas reuniões para
decidir o assunto.
Agora, o comissário Luiz
Marinho informa que pretende chamar os bancos para saber quantos eles estão dispostos a pagar para ficar com a folha. Isso poderia ter sido feito
há exatos dois anos. Bastavam
23 telefonemas. Quem quiser,
pode começar a calcular
quanto tempo Marinho precisará para fazê-los.
SANTO DE PAU OCO
Lula aborreceu-se ao comparar as garantias de inocência
que recebeu de Walfrido dos
Mares Guia com os elementos
de culpa arrolados pelo procurador-geral da República em
sua denúncia.
Se puxar pela memória, Nosso Guia verificará que a crise do
mensalão petista foi disparada
por uma iniciativa de um grão-duque do mensalão tucano. Foi
Mares Guia quem trabalhou,
junto com o deputado Roberto
Jefferson, pela substituição de
Dimas Toledo numa diretoria
de Furnas. Desatendido, Jefferson detonou uma parte da
caixa política de Furnas.
BLAIRO NA VQR
Blairo Maggi, o poderoso imperador da soja e governador
de Mato Grosso ficou muito
mal no retrato que o jornalista
americano Pat Joseph fez da
"Soja na Amazônia" na revista
VQR, a Virginia Quaterly Review. Fundada em 1925 na Universidade da Virginia para estimular bons debates e boa literatura, ela é uma das mais conceituadas publicações do país.
Joseph conta a história da expansão da soja na Amazônia.
Achou curiosos personagens,
defendendo o cultivo ao mesmo tempo em que reconhecem
a necessidade de preservação
da floresta. Quando chegou a
hora de apresentar o governador, pegou pesado:
"O governador Maggi personifica a depravação ecológica
muito mais pelo que diz à imprensa internacional do que
pelo seu aspecto suíno".
Maggi já havia ganho o prêmio "Motosserra de Ouro" dado por 10.348 dos votantes
num certame promovido pelo
Greenpeace. Nosso Guia ficou
em segundo lugar.
(A reportagem de Pat Joseph
está no sítio da VQR, infelizmente em inglês.)
BURACO DO HOSPITAL
A máquina da propaganda
companheira poderia colocar
uma placa no terreno ao lado do
Hospital Miguel Couto, no Leblon. Ela diria o seguinte:
"Este buraco é o novo serviço
de emergência do Miguel Couto. Na teoria, com quatro andares e heliponto, ficou pronto em
2006. Na prática, o governo federal não libera R$ 13,9 milhões
necessários para a obra. Assinou um convênio em 2004, só
entregou R$ 600 mil, e ninguém
sabe quando soltará os recursos
que faltam".
Os sábios da administração
do ministro José Gomes Temporão informam que a emergência do hospital federal de
Bonsucesso (400 atendimentos
diários), fechada há poucas semanas, não deverá ser reaberta.
Como diz Nosso Guia, "o Brasil não está longe de atingir a
perfeição no tratamento de saúde". Talvez isso estimule seu governo a fechar um serviço federal que matava gente e a descumprir os compromissos que
assinou para reforçar um hospital municipal cuja emergência
atende a 800 pessoas por dia.
O buraco do Miguel Couto
pode ser usado pelo doutor
Temporão como cenário de um
dos seus anúncios sobre os perigos da dengue.
PELEGUISMO
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) votou a favor do restabelecimento do imposto sindical (um dia de trabalho da patuléia) e condenou a proposta
do deputado Augusto Carvalho
(PPS-DF), aprovada pela Câmara por 215 votos contra 161. Disse que ela "não contribuia para
um acordo e criou um debate inconveniente".
O comissário precisa divulgar
a sua Teoria Geral dos Acordos e
da Conveniência dos Debates.
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