São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Elio Gaspari

Lula quer a cavalaria tucana na CPMF


Aécio, Cássio Cunha Lima, José Serra e Yeda Crusius são os mosqueteiros que podem dividir o PSDB

O GOVERNO deu-se conta de que o caminho mais seguro para prorrogar a CPMF é um pedido de socorro aos quatro mosqueteiros tucanos: os governadores Aécio Neves (MG), Cássio Cunha Lima (PB), José Serra (SP) e Yeda Crusius (RS). Como a votação no Senado será aberta, até meados de dezembro a patuléia poderá conferir se os tucanos fizeram-na novamente de boba.
Na manhã de quinta-feira o ministro da articulação política, José Múcio, tinha um prognóstico assustador para o governo. Dos 49 votos necessários para obter do Senado a prorrogação da CPMF, só 44 estariam disponíveis. A oposição teria 37, quatro além dos 33 necessários para matar o imposto. Segundo ele, Lula surpreendeu-se. Talvez tenha exagerado, pois seus adversários creditavam-se 36.
Nas duas contas vê-se que o bloco contrário ao imposto do cheque pode prevalecer. Nosso Guia ainda tem pelo menos uma semana para mudar esses números. Pela primeira vez em muitos anos, uma votação importante pode ser acompanhada na ponta do lápis.
Admitindo-se que os os Democratas (14 senadores) cumpram a palavra e o PSDB (13) resista aos mosqueteiros, seriam necessários mais cinco votos para barrar o imposto. Eles sairiam de uma lista onde estão nove senadores:
Cesar Borges, Expedito Junior, Geraldo Mesquita, Jarbas Vasconcelos, José Nery, Mão Santa, Mozarildo Cavalcanti, Pedro Simon e Romeu Tuma.
Quatro deles poderiam mudar de idéia e, ainda assim, a CPMF iria às urtigas.
Esse caminho parece pedregoso. Seria mais fácil dividir a bancada tucana com o docinho da "modificação" de última hora pedido por Aécio Neves. É uma proposta legítima, pois ele e Serra nunca esconderam suas simpatias pela CPMF. (Ela deriva de um instinto canibal, a crença de que, na Presidência, teriam os R$ 40 bilhões ao sabor de suas canetas.)
Mais uma vez, o tucanato finge que sua malandragem é indecisão. Seja qual for o assunto (mensalão, por exemplo) ele se divide em duas bandas. Numa protege Eduardo Azeredo. Noutra, estimula a crucifixão dos petistas. Nos dois casos, engana quem acredita neles. O PSDB acusa Nosso Guia de gastar muito, reclama da carga tributária e, na hora do vamos ver, seus quatro governadores (dois dos quais são candidatos a presidente da República) afinam-se com a charanga do Planalto.

DOIS ANOS PARA DAR 23 TELEFONEMAS

A ekipekonômica de Nosso Guia ladra para a banca, mas só morde no andar de baixo. Apresenta uma parolagem em defesa da redução das tarifas bancárias sabendo que pouco conseguirá. Primeiro porque não quer interferir no mercado. Segundo, porque é um direito dos bancos ganhar dinheiro cobrando pelos seus serviços. Se eles competem pouco (como lembrou um estudo do FMI de 2003) é porque o Banco Central deixa.
Quando uma proposta ameaça verdadeiramente o cofre da banca, ela é esterilizada. Em fevereiro de 2006, depois que vários Estados leiloaram suas folhas de pagamento, o então secretário do Tesouro, Joaquim Levy, anunciou sua disposição de levar ao martelo 25 milhões de contas dos INSS, um ervanário de R$ 12 bilhões mensais. Atualmente 23 bancos movimentam esse dinheiro a leite de pato. O leilão renderia pelo menos R$ 1 bilhão a cada ano para o INSS. Engavetaram a proposta, pois 2006 era um ano eleitoral (leia-se arrecadatório). O ministro da Previdência, Nelson Machado, dizia que eram necessárias mais algumas reuniões para decidir o assunto.
Agora, o comissário Luiz Marinho informa que pretende chamar os bancos para saber quantos eles estão dispostos a pagar para ficar com a folha. Isso poderia ter sido feito há exatos dois anos. Bastavam 23 telefonemas. Quem quiser, pode começar a calcular quanto tempo Marinho precisará para fazê-los.

SANTO DE PAU OCO
Lula aborreceu-se ao comparar as garantias de inocência que recebeu de Walfrido dos Mares Guia com os elementos de culpa arrolados pelo procurador-geral da República em sua denúncia.
Se puxar pela memória, Nosso Guia verificará que a crise do mensalão petista foi disparada por uma iniciativa de um grão-duque do mensalão tucano. Foi Mares Guia quem trabalhou, junto com o deputado Roberto Jefferson, pela substituição de Dimas Toledo numa diretoria de Furnas. Desatendido, Jefferson detonou uma parte da caixa política de Furnas.

BLAIRO NA VQR
Blairo Maggi, o poderoso imperador da soja e governador de Mato Grosso ficou muito mal no retrato que o jornalista americano Pat Joseph fez da "Soja na Amazônia" na revista VQR, a Virginia Quaterly Review. Fundada em 1925 na Universidade da Virginia para estimular bons debates e boa literatura, ela é uma das mais conceituadas publicações do país.
Joseph conta a história da expansão da soja na Amazônia. Achou curiosos personagens, defendendo o cultivo ao mesmo tempo em que reconhecem a necessidade de preservação da floresta. Quando chegou a hora de apresentar o governador, pegou pesado:
"O governador Maggi personifica a depravação ecológica muito mais pelo que diz à imprensa internacional do que pelo seu aspecto suíno".
Maggi já havia ganho o prêmio "Motosserra de Ouro" dado por 10.348 dos votantes num certame promovido pelo Greenpeace. Nosso Guia ficou em segundo lugar.
(A reportagem de Pat Joseph está no sítio da VQR, infelizmente em inglês.)

BURACO DO HOSPITAL
A máquina da propaganda companheira poderia colocar uma placa no terreno ao lado do Hospital Miguel Couto, no Leblon. Ela diria o seguinte:
"Este buraco é o novo serviço de emergência do Miguel Couto. Na teoria, com quatro andares e heliponto, ficou pronto em 2006. Na prática, o governo federal não libera R$ 13,9 milhões necessários para a obra. Assinou um convênio em 2004, só entregou R$ 600 mil, e ninguém sabe quando soltará os recursos que faltam".
Os sábios da administração do ministro José Gomes Temporão informam que a emergência do hospital federal de Bonsucesso (400 atendimentos diários), fechada há poucas semanas, não deverá ser reaberta.
Como diz Nosso Guia, "o Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde". Talvez isso estimule seu governo a fechar um serviço federal que matava gente e a descumprir os compromissos que assinou para reforçar um hospital municipal cuja emergência atende a 800 pessoas por dia.
O buraco do Miguel Couto pode ser usado pelo doutor Temporão como cenário de um dos seus anúncios sobre os perigos da dengue.

PELEGUISMO
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) votou a favor do restabelecimento do imposto sindical (um dia de trabalho da patuléia) e condenou a proposta do deputado Augusto Carvalho (PPS-DF), aprovada pela Câmara por 215 votos contra 161. Disse que ela "não contribuia para um acordo e criou um debate inconveniente".
O comissário precisa divulgar a sua Teoria Geral dos Acordos e da Conveniência dos Debates.


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