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Após França, Jobim avalia submarino russo
Ministro diz que conversa com franceses está "mais avançada", mas reconhece russos como candidatos a fornecer tecnologia nuclear
Para o Ministro da Defesa, projeto depende da criação de uma empresa de capital binacional que pode receber recursos públicos e privados
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PETERSBURGO
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, reconheceu ontem a
Rússia como candidata a fornecedora de tecnologia ao Brasil
para o projeto de construção de
um submarino nuclear -até
aqui negociado com a França.
Embora as conversas com os
franceses estejam "mais avançadas", segundo definiu o ministro, a sua agenda em São Petersburgo (634 km de Moscou) incluiu a visita ao escritório estatal russo especializado em
submarinos, tantos os convencionais, movidos a diesel, quantos os de propulsão nuclear.
À Folha Jobim disse não saber ainda as bases contratuais,
valores e cronograma para entrega do submarino movido a
energia nuclear. Também é
quase certo que nada será fechado durante a visita do ministro ao país, que começou anteontem e deve acabar na próxima quarta-feira.
Na opinião do ministro, o
projeto depende da criação de
uma empresa de capital binacional que poderá receber recursos públicos e privados. Jobim estava acompanhado de nove funcionários de vários
ministérios, do comandante da
Marinha, o almirante Julio
Soares de Moura Neto, e deverá voltar hoje a Moscou, onde
será recebido por ministros de
Estado nas áreas de Defesa e
relações de comércio.
Jobim também confirmou
que uma de suas metas na Rússia é avaliar a proposta da empresa estatal russa Rosobonorexport, que teria procurado empresários do Rio Grande do
Sul para estudar a abertura de
uma fábrica de veículos militares no Sul do Brasil. "Houve
uma visita [para falar] de uma
joint venture, abrir uma empresa internacional com parceiro brasileiro para construção de blindados sobre rodas, que seria algo parecido com um
Urutu. Estamos negociando isso", disse o ministro.
O ministro evita o termo
"compra" para falar dos objetivos militares da sua viagem ao
exterior, que começou no último dia 26, na França. Ele prefere chamar de "parceria para
transferência de tecnologia".
Imposto
Jobim, que é gaúcho assim
como o ministro Tarso Genro
(Justiça), defendeu os termos
de um ofício enviado ao Ministério do Desenvolvimento no
qual os dois pedem a revisão da
cobrança de um imposto de
150% sobre exportações de armas brasileiras para certos países da América Latina e Caribe.
O Rio Grande do Sul é um pólo
fabricante de armas de fogo. O
documento foi revelado na semana passada pela Folha.
"O que temos ali é o seguinte:
havia um impedimento de exportação em [para] alguns países latinoamericanos. Nos outros não teriam. Teríamos um
aumento brutal de taxa de exportação. Você sabe que não se
exporta impostos, ao acontecer
isso, todo o processo exportatório brasileiro tem que obedecer a mesma regra. Nós queremos desenvolver a nossa indústria", disse o ministro.
Indagado sobre as críticas
que apontam o desvio das armas brasileiras para o crime
organizado, disse: "Não há nada disso. Tanto que as armas
que entram no Brasil são dos
EUA. Nós fazemos exportação
legal, o problema é o controle
que o país vai ter".
Segundo a programação oficial, a visita do ministro no escritório de submarinos em São
Petersburgo seria acompanhada por funcionários do estaleiro Severnaya Verf, que também
constrói submarinos. A empresa Rubin, chamada oficialmente de "Escritório Central de
Engenharia Marítima", vinculada ao governo russo, trabalhou na fabricação de 919 submarinos para a Marinha russa,
incluindo 139 nucleares.
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