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CAMPO MINADO
Apenas 0,31% dos recursos destinados à obtenção de imóveis rurais em 2004 haviam sido gastos até 21 de março
Gasto com a reforma agrária é quase nulo
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos com a aplicação da reforma agrária e a prevenção de
conflitos no campo estão praticamente paralisados tanto no Ministério do Desenvolvimento
Agrário como no Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Somando-se todos os programas e ações da pasta e do órgão,
inclusive o apoio administrativo
aos servidores -como vale-alimentação e vale-transporte- a
relação entre verbas aplicadas e
disponíveis é de 2,11%, nos 80 primeiros dias de 2004.
Levantamento do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) com base no Siafi (sistema
informatizado de acompanhamento de gastos federais), ao qual
a reportagem teve acesso, aponta
que o governo havia gasto até 21
de março passado, por exemplo,
apenas R$ 1,2 milhão dos 400 milhões autorizados para obtenção
de imóveis rurais -o que representa 0,31%.
A própria assessoria do Incra
admitiu o baixo índice de gastos
com a obtenção de terras. Na última quarta-feira, uma semana
após o fechamento do relatório
do Inesc, informou que a quantia
permanecia na casa dos R$ 1,2 milhão. Na última terça-feira, em entrevista no Palácio do Planalto, o
ministro Miguel Rossetto disse:
"Em hipótese alguma o governo
está omisso e parado. Há um total
empenho para realizar a reforma
agrária". No dia seguinte, afirmou
que há uma conduta "absolutamente rigorosa" com a aplicação
das verbas no ministério.
Programas relacionados à agricultura familiar, os mesmos cujas
propagandas institucionais do
governo foram retiradas da televisão porque utilizavam imagens
enganosas, tiveram gastos de
0,37% (R$ 842,2 mil) sobre os R$
229,4 milhões autorizados.
Os gastos com programas referentes aos conflitos fundiários
também dão sinais de paralisia,
justamente no momento em que
o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) inicia
uma série de invasões e protestos
pelo país. Dos R$ 804,3 mil disponíveis para a ação de "prevenção
de tensão social no campo" o governo utilizou R$ 1.653 -o equivalente a 0,21%.
Gasto zero
Nenhum centavo, até o dia 21 do
mês passado, foi gasto nas ações
de "capacitação de mediadores de
conflitos", "atendimento de denúncias", "mediação de conflitos" e "implantação de ouvidorias
agrárias".
À CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito) da Terra, nesta semana no Senado, o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva
Filho, cobrou a reestruturação do
Incra e a criação de ouvidorias
agrárias nacionais em todos os
Estados. Hoje, além de sua sede
em Brasília, elas estão instaladas
nos Estados de Mato Grosso do
Sul, do Ceará e do Pará.
No último final de semana, o
ambiente de tensão no campo se
acirrou após o coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile, ter declarado que iria "infernizar" o governo por meio de invasões de terra. Foi quando começou também a chamada "jornada
de lutas" do movimento, numa
forma de homenagear os 19 sem-terra mortos pela Polícia Militar
em abril de 1996 em Eldorado do
Carajás (PA).
Desde o início da "jornada", o
MST fez 25 invasões em todo o
país. Só ontem foram quatro: uma
na Bahia, uma no Rio Grande do
Sul e duas em São Paulo.
Anteontem, Stedile recuou, dizendo que os termos corretos seriam "azucrinar" e "pressionar"
no lugar de "infernizar". Manteve, porém, as críticas ao governo,
dizendo que "falta coragem" para
promover mudanças na área econômica e que a política de reforma agrária é uma "vergonha".
Um volume maior de recursos,
porém, tem sido gasto pelo Incra
para atender às cerca de 200 mil
famílias acampadas em todo o
país. Na chamada ação de "assistência social, técnica e jurídica"
aos acampados, o governo utilizou 12,57% (R$ 181 mil) dos R$ 1,4
milhão autorizados.
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