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SOMBRA NO PLANALTO
Delegado diz que havia provas para indiciar ex-assessor por tráfico de influência e corrupção ativa; decisão agora cabe à Justiça
PF pára inquérito e culpa denúncia apressada
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal suspendeu oficialmente ontem as investigações
sobre Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares
da Presidência, em inquérito
aberto em Brasília. O delegado
que chefiou o inquérito, Antônio
César Nunes, afirmou que havia
dados para indiciá-lo por tráfico
de influência e corrupção ativa.
O inquérito foi suspenso porque o Ministério Público denunciou na segunda-feira Waldomiro, dirigentes da CEF (Caixa Econômica Federal) e executivos da
GTech, que gerencia o sistema lotérico do país, por gestão temerária e corrupção. Na peça, o procurador Marcelo Serra Azul pede à
Justiça que requisite as provas do
inquérito para embasar a ação.
O processo começa quando a
Justiça acolhe a denúncia. O juiz
pode avaliar que as acusações carecem de embasamento e não
acolher a denúncia, devolvendo-a
ao Ministério Público e à PF. O
juiz Clóvis Barbosa Siqueira, da
10ª Vara Federal em Brasília, decidiu ontem conceder 15 dias para
que os denunciados apresentem
defesa. Só após esse prazo decidirá se acolhe ou não a denúncia.
O delegado sugeriu que o Ministério Público se precipitou ao
fazer a denúncia com o inquérito
da PF inacabado. "Acredito que o
Ministério Público deva ter elementos de prova suficientes para
a denúncia", ironizou Nunes, já
que a peça se baseia no inquérito.
Segundo o delegado, embora
houvesse dados para indiciar o
ex-assessor da Presidência por
tráfico de influência e corrupção
ativa, faltam detalhes sobre a participação de outros envolvidos.
Indagado sobre o que conseguiu descobrir sobre a conduta de
Waldomiro, Nunes voltou a sugerir que as investigações terminaram antes da hora. O delegado
evitou criticar abertamente o Ministério Público por uma orientação da cúpula da PF. A Folha apurou que a direção do órgão considerou a denúncia fraca e que o
Ministério Público "se enforca sozinho" no caso, daí a cautela para
evitar a impressão de disputa.
Em entrevista na quarta-feira,
Serra Azul disse que "todas as
acusações estão documentadas".
No dia seguinte, foi divulgada a
gravação de um diálogo em que o
subprocurador-geral da República José Roberto Santoro pressiona o empresário de jogos Carlos
Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a
lhe entregar a fita de vídeo que detonaria o caso Waldomiro, na
qual o ex-assessor aparece pedindo propina a Cachoeira em 2002.
O governo classificou de conspiração a atitude de Santoro. Serra
Azul acompanhava a conversa.
Waldomiro, que era homem de
confiança do ministro José Dirceu
(Casa Civil), também é acusado
de ter interferido na renovação do
contrato da GTech com a CEF.
Segundo Nunes, "há informações contraditórias" na renovação. De acordo com a PF, Waldomiro exigiu a contratação de Rogério Buratti pela empresa. Ex-secretário da Prefeitura de Ribeirão
Preto na gestão do atual ministro
Antonio Palocci (Fazenda), Buratti não foi ouvido no inquérito.
No Rio, ainda corre um inquérito da PF que investiga suposta
participação de Waldomiro em
operações de lavagem de dinheiro
obtido no tráfico internacional de
drogas. Segundo o delegado Hebert Mesquita, que preside o inquérito, não houve tempo nesta
semana para investigar o caso por
haver outras apurações em andamento e também devido à greve.
Na próxima semana, Mesquita
disse que pedirá quebras de sigilo.
Ele deverá intimar Cachoeira.
Colaborou a Sucursal do Rio
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