São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Delegado diz que havia provas para indiciar ex-assessor por tráfico de influência e corrupção ativa; decisão agora cabe à Justiça

PF pára inquérito e culpa denúncia apressada

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal suspendeu oficialmente ontem as investigações sobre Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência, em inquérito aberto em Brasília. O delegado que chefiou o inquérito, Antônio César Nunes, afirmou que havia dados para indiciá-lo por tráfico de influência e corrupção ativa.
O inquérito foi suspenso porque o Ministério Público denunciou na segunda-feira Waldomiro, dirigentes da CEF (Caixa Econômica Federal) e executivos da GTech, que gerencia o sistema lotérico do país, por gestão temerária e corrupção. Na peça, o procurador Marcelo Serra Azul pede à Justiça que requisite as provas do inquérito para embasar a ação.
O processo começa quando a Justiça acolhe a denúncia. O juiz pode avaliar que as acusações carecem de embasamento e não acolher a denúncia, devolvendo-a ao Ministério Público e à PF. O juiz Clóvis Barbosa Siqueira, da 10ª Vara Federal em Brasília, decidiu ontem conceder 15 dias para que os denunciados apresentem defesa. Só após esse prazo decidirá se acolhe ou não a denúncia.
O delegado sugeriu que o Ministério Público se precipitou ao fazer a denúncia com o inquérito da PF inacabado. "Acredito que o Ministério Público deva ter elementos de prova suficientes para a denúncia", ironizou Nunes, já que a peça se baseia no inquérito.
Segundo o delegado, embora houvesse dados para indiciar o ex-assessor da Presidência por tráfico de influência e corrupção ativa, faltam detalhes sobre a participação de outros envolvidos.
Indagado sobre o que conseguiu descobrir sobre a conduta de Waldomiro, Nunes voltou a sugerir que as investigações terminaram antes da hora. O delegado evitou criticar abertamente o Ministério Público por uma orientação da cúpula da PF. A Folha apurou que a direção do órgão considerou a denúncia fraca e que o Ministério Público "se enforca sozinho" no caso, daí a cautela para evitar a impressão de disputa.
Em entrevista na quarta-feira, Serra Azul disse que "todas as acusações estão documentadas".
No dia seguinte, foi divulgada a gravação de um diálogo em que o subprocurador-geral da República José Roberto Santoro pressiona o empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a lhe entregar a fita de vídeo que detonaria o caso Waldomiro, na qual o ex-assessor aparece pedindo propina a Cachoeira em 2002. O governo classificou de conspiração a atitude de Santoro. Serra Azul acompanhava a conversa.
Waldomiro, que era homem de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil), também é acusado de ter interferido na renovação do contrato da GTech com a CEF.
Segundo Nunes, "há informações contraditórias" na renovação. De acordo com a PF, Waldomiro exigiu a contratação de Rogério Buratti pela empresa. Ex-secretário da Prefeitura de Ribeirão Preto na gestão do atual ministro Antonio Palocci (Fazenda), Buratti não foi ouvido no inquérito.
No Rio, ainda corre um inquérito da PF que investiga suposta participação de Waldomiro em operações de lavagem de dinheiro obtido no tráfico internacional de drogas. Segundo o delegado Hebert Mesquita, que preside o inquérito, não houve tempo nesta semana para investigar o caso por haver outras apurações em andamento e também devido à greve.
Na próxima semana, Mesquita disse que pedirá quebras de sigilo. Ele deverá intimar Cachoeira.


Colaborou a Sucursal do Rio

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