São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Procurador-geral tira autorização para atuar na Corte Especial do STJ de Santoro, que foi flagrado negociando fita com Cachoeira

Fonteles reduz poderes de subprocurador

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, puniu o subprocurador-geral da República José Roberto Santoro com a retirada de autorização dele para atuar perante a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça.
Na prática, Fonteles reduziu os poderes do colega, impedindo-o de trabalhar em investigações criminais contra governadores, juízes de tribunais regionais, desembargadores de tribunais de Justiça e membros de tribunais de contas estaduais. Essas autoridades são julgadas pelo STJ nas acusações de crime comum, por causa do foro privilegiado. Os atos processuais e os julgamentos cabem à Corte Especial, que é composta por 21 dos 33 ministros.
Na última terça-feira, o "Jornal Nacional", da TV Globo, divulgou o áudio de trechos de uma conversa entre Santoro e o empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, na qual o subprocurador tentava convencê-lo a fornecer a fita de vídeo que incrimina o ex-assessor da Casa Civil da Presidência Waldomiro Diniz.
Ele foi flagrado pedindo propina e dinheiro para campanhas políticas em 2002. A saída de Waldomiro do governo desencadeou a principal crise do governo Lula.
Várias afirmações de Santoro a Cachoeira sugerem que a divulgação da fita iria prejudicar o governo Lula e o seu desejo de esconder de Fonteles, o seu chefe imediato, a existência daquela apuração, até então desconhecida.
Ontem, a Folha ligou para o gabinete de Santoro, mas até a conclusão desta edição ele não ligou de volta. "Faria de novo. Estava fazendo o meu trabalho", disse anteontem à Folha o subprocurador-geral. Ele classifica sua ação como uma tentativa de contar com a colaboração de Cachoeira.
A assessoria de Fonteles disse que essa medida contra Santoro foi possível porque os subprocuradores-gerais representam o procurador-geral perante os ministros do STJ. Como Santoro perdeu a confiança de Fonteles, não poderia continuar na função.
Santoro foi designado para essa atuação pelo ex-procurador-geral da República Geraldo Brindeiro. Além dele, há nove subprocuradores-gerais com a mesma competência. Santoro vinha atuando em inquéritos criminais contra o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, por exemplo.
O procurador-geral pediu a abertura imediata de investigação interna contra Santoro e os procuradores da República no Distrito Federal Marcelo Serra Azul e Mário Lúcio Avelar, que também trabalharam nos primeiros passos da apuração contra Diniz, para apurar se houve falta funcional e violação do dever de lealdade à instituição, um tipo de ato de improbidade administrativa.
O corregedor-geral do Ministério Público Federal, Wagner Gonçalves, abriu a sindicância. Na manhã de quinta-feira, tomou o primeiro depoimento, de Avelar.
A investigação, que tramitará sob sigilo, poderá evoluir para um inquérito e finalmente para um processo administrativo.


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