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SOMBRA NO PLANALTO
Procurador-geral tira autorização para atuar na Corte Especial do STJ de Santoro, que foi flagrado negociando fita com Cachoeira
Fonteles reduz poderes de subprocurador
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, puniu o subprocurador-geral da República
José Roberto Santoro com a retirada de autorização dele para
atuar perante a Corte Especial do
Superior Tribunal de Justiça.
Na prática, Fonteles reduziu os
poderes do colega, impedindo-o
de trabalhar em investigações criminais contra governadores, juízes de tribunais regionais, desembargadores de tribunais de Justiça
e membros de tribunais de contas
estaduais. Essas autoridades são
julgadas pelo STJ nas acusações
de crime comum, por causa do foro privilegiado. Os atos processuais e os julgamentos cabem à
Corte Especial, que é composta
por 21 dos 33 ministros.
Na última terça-feira, o "Jornal
Nacional", da TV Globo, divulgou
o áudio de trechos de uma conversa entre Santoro e o empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, na qual o subprocurador tentava convencê-lo a
fornecer a fita de vídeo que incrimina o ex-assessor da Casa Civil
da Presidência Waldomiro Diniz.
Ele foi flagrado pedindo propina e dinheiro para campanhas
políticas em 2002. A saída de Waldomiro do governo desencadeou
a principal crise do governo Lula.
Várias afirmações de Santoro a
Cachoeira sugerem que a divulgação da fita iria prejudicar o governo Lula e o seu desejo de esconder
de Fonteles, o seu chefe imediato,
a existência daquela apuração, até
então desconhecida.
Ontem, a Folha ligou para o gabinete de Santoro, mas até a conclusão desta edição ele não ligou
de volta. "Faria de novo. Estava
fazendo o meu trabalho", disse
anteontem à Folha o subprocurador-geral. Ele classifica sua ação
como uma tentativa de contar
com a colaboração de Cachoeira.
A assessoria de Fonteles disse
que essa medida contra Santoro
foi possível porque os subprocuradores-gerais representam o
procurador-geral perante os ministros do STJ. Como Santoro
perdeu a confiança de Fonteles,
não poderia continuar na função.
Santoro foi designado para essa
atuação pelo ex-procurador-geral
da República Geraldo Brindeiro.
Além dele, há nove subprocuradores-gerais com a mesma competência. Santoro vinha atuando
em inquéritos criminais contra o
governador do Distrito Federal,
Joaquim Roriz, por exemplo.
O procurador-geral pediu a
abertura imediata de investigação
interna contra Santoro e os procuradores da República no Distrito Federal Marcelo Serra Azul e
Mário Lúcio Avelar, que também
trabalharam nos primeiros passos da apuração contra Diniz, para apurar se houve falta funcional
e violação do dever de lealdade à
instituição, um tipo de ato de improbidade administrativa.
O corregedor-geral do Ministério Público Federal, Wagner Gonçalves, abriu a sindicância. Na
manhã de quinta-feira, tomou o
primeiro depoimento, de Avelar.
A investigação, que tramitará
sob sigilo, poderá evoluir para um
inquérito e finalmente para um
processo administrativo.
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