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JANIO DE FREITAS
Pinga-pinga
As viagens internacionais de José Dirceu estão
suscitando críticas, por aparente intromissão em atividade que estaria reservada, nos
cânones da burocracia, ao
pessoal das Relações Exteriores. No caso do atual do governo, as críticas se abastecem
ainda mais com a existência
de um assessor pessoal de Lula para assuntos de política
internacional, Marco Aurélio
Garcia, que assim ocuparia
função própria do ministro
do Exterior em relação ao
presidente.
As críticas, para não dizer
mais do que isso, estão desfocadas. Emissários pessoais de
presidente são velho instrumento, de grande utilidade
para missões a que não convém dar a natureza de ações
de governo, nelas comprometendo por algum modo o próprio país.
Durante a Guerra Fria, por
exemplo, alguns desses representantes pessoais tiveram até
mais importância do que os
diplomatas oficiais, caso, para lembrar um dos mais famosos, de Averell Harrimann,
pelos presidentes democratas
dos EUA. E, pelo lado dos republicanos, os dois Rockfeller,
Nelson e David, ficaram famosos na América Latina,
dadas as tantas missões que
por aqui desempenharam,
sem jamais deixar de enriquecê-las com as conveniências para os negócios familiares.
No governo Lula poderia
haver, sem prejuízo das missões, maior clareza, até em
benefício de menos especulações e críticas equivocadas.
Não se sabe quem é quem
nessas missões, ou por que ora
é um, ora é outro representante, e de repente é o próprio
ministro, e em que medida o
chefe do Gabinete Civil está
como representante pessoal
do presidente ou também do
governo, senão de si mesmo.
Mas também se pode dizer
que, com maior clareza, objetividade e critério, não seria
talvez o governo Lula.
Para vítimas
O argumento principal dos
advogados que defendem indenização para os soldados
combatentes contra a guerrilha do Araguaia, durante a
ditadura, em síntese baseia-se
no fato, por alguns assim referido explicitamente, de que os
dois lados travavam a mesma
luta.
No argumento está esquecido o essencial na idéia que
criou as indenizações, por
mais descriteriosa que se mostre a sua concessão pelas comissões específicas. As indenizações não são atribuíveis a
ex-guerrilheiros por terem
participado de luta, mas pelo
que passaram nas mãos de
militares que cometeram crimes, definidos em leis brasileiras e em convenções internacionais, quando agiam em
nome do Estado.
Querer e não ter
Ricardo Berzoini, aquele da
fila de velhinhos para provar
estarem vivos, volta na sua
melhor forma. Agora ministro do Trabalho, para tranqüilidade dos idosos e preocupação dos jovens, afirma que
a promessa lulista de criar 10
milhões de empregos "será
cumprida":
"Considerados os empregos
informais, já foram criados
4,5 milhões a 5 milhões de
empregos. Então, será possível chegar a 10 milhões em
2006".
O problema é que emprego
informal não é emprego. É viração, é quebra-galho. É, exatamente, a denúncia mais irrespondível da falta de emprego.
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