São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2005

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JANIO DE FREITAS

Pinga-pinga

As viagens internacionais de José Dirceu estão suscitando críticas, por aparente intromissão em atividade que estaria reservada, nos cânones da burocracia, ao pessoal das Relações Exteriores. No caso do atual do governo, as críticas se abastecem ainda mais com a existência de um assessor pessoal de Lula para assuntos de política internacional, Marco Aurélio Garcia, que assim ocuparia
função própria do ministro do Exterior em relação ao presidente.
As críticas, para não dizer mais do que isso, estão desfocadas. Emissários pessoais de presidente são velho instrumento, de grande utilidade para missões a que não convém dar a natureza de ações de governo, nelas comprometendo por algum modo o próprio país.
Durante a Guerra Fria, por exemplo, alguns desses representantes pessoais tiveram até mais importância do que os diplomatas oficiais, caso, para lembrar um dos mais famosos, de Averell Harrimann, pelos presidentes democratas dos EUA. E, pelo lado dos republicanos, os dois Rockfeller, Nelson e David, ficaram famosos na América Latina, dadas as tantas missões que por aqui desempenharam, sem jamais deixar de enriquecê-las com as conveniências para os negócios familiares.
No governo Lula poderia haver, sem prejuízo das missões, maior clareza, até em benefício de menos especulações e críticas equivocadas. Não se sabe quem é quem nessas missões, ou por que ora é um, ora é outro representante, e de repente é o próprio ministro, e em que medida o chefe do Gabinete Civil está como representante pessoal do presidente ou também do governo, senão de si mesmo.
Mas também se pode dizer que, com maior clareza, objetividade e critério, não seria talvez o governo Lula.

Para vítimas
O argumento principal dos advogados que defendem indenização para os soldados combatentes contra a guerrilha do Araguaia, durante a ditadura, em síntese baseia-se no fato, por alguns assim referido explicitamente, de que os dois lados travavam a mesma luta.
No argumento está esquecido o essencial na idéia que criou as indenizações, por mais descriteriosa que se mostre a sua concessão pelas comissões específicas. As indenizações não são atribuíveis a ex-guerrilheiros por terem participado de luta, mas pelo que passaram nas mãos de militares que cometeram crimes, definidos em leis brasileiras e em convenções internacionais, quando agiam em nome do Estado.

Querer e não ter
Ricardo Berzoini, aquele da fila de velhinhos para provar estarem vivos, volta na sua melhor forma. Agora ministro do Trabalho, para tranqüilidade dos idosos e preocupação dos jovens, afirma que a promessa lulista de criar 10 milhões de empregos "será cumprida":
"Considerados os empregos informais, já foram criados 4,5 milhões a 5 milhões de empregos. Então, será possível chegar a 10 milhões em 2006".
O problema é que emprego informal não é emprego. É viração, é quebra-galho. É, exatamente, a denúncia mais irrespondível da falta de emprego.


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