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VIZINHOS EM CRISE
Amorim diz que não há dificuldades entre os dois países
Chanceler diz que crise com
Argentina é apenas "fumaça"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O ministro Celso Amorim comparou o noticiário sobre o suposto desejo do governo argentino de
"endurecer" com o Brasil a informações sobre divergências entre
ministros no governo Lula: "Dão
muita matéria na mídia, mas não
tem nada por trás".
Da mesma forma, segundo o
chanceler, há apenas "muita fumaça" em torno das dificuldades
no relacionamento com o vizinho, cujo ápice estaria dado pela
determinação de endurecimento,
conforme relato publicado ontem
pelo jornal "Clarín".
A comparação do ministro não
é propriamente feliz. Divergências entre ministros, em especial
sobre a política externa, não são
necessariamente "fumaça" da mídia. Exemplo: na mais recente viagem presidencial (à África), o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) queixou-se publicamente do "blablablá" que seria a negociação com os países
africanos. Se as divergências entre
ministros não são apenas "fumaça", ao contrário do que diz o
chanceler, é possível que também
os desencontros Brasil/Argentina
sejam reais.
Amorim, porém, desviou-se
ontem do assunto, alegando, primeiro, que não lera o "Clarín". "Li
apenas uma notícia sobre problemas com calçados, mas não eram
queixas específicas contra o Brasil. Envolviam também a China."
Depois, quis saber dos jornalistas, na entrevista coletiva que concedeu na embaixada do Brasil em
Paris, se a reportagem do jornal
argentino punha declarações (sobre o endurecimento) na boca de
alguma autoridade argentina. Como não havia fonte citada no texto, o chanceler classificou-o como
"especulação".
O ministro comentou aspectos
das divergências notórias entre os
dois países, tratando sempre ou
de minimizá-las ou de entendê-las como naturais.
Exemplo: o fato de a Argentina
ter apoiado o candidato uruguaio
ao posto de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio,
abandonando o candidato brasileiro, que acabou sendo o primeiro dos quatro postulantes a ser eliminado. "Nós é que deveríamos
ficar zangados, mas não ficamos e
até compreendemos" (a atitude
argentina), disse o ministro.
Segundo exemplo: a relutância
argentina em apoiar a persistente
reivindicação brasileira por um
lugar como membro permanente
do Conselho de Segurança da
ONU. "É um assunto delicado e
não apenas na América Latina. Na
Europa, por exemplo, Alemanha
e Itália divergem sobre a quem caberia o posto", afirmou. Terceiro
suposto problema: a queixa argentina sobre o desejo brasileiro
de ser o líder regional. Comentário de Amorim: "O Brasil não pretende nenhum papel de liderança.
Faz o que precisa fazer no interesse dele e sempre em estreitas consultas com os parceiros".
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