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JUDICIÁRIO
Caso julgamento seja adiado, ex-juiz ficará livre de outras punições
Justiça reavalia sentença que absolveu três ligados a Lalau
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal Regional Federal da
3ª Região deverá voltar a julgar
hoje os envolvidos no escândalo
do Fórum Trabalhista de São Paulo. Serão julgados recursos contra
sentença de 2003 que condenou
apenas o ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho, Nicolau dos Santos Neto, e absolveu o
ex-senador Luiz Estevão de Oliveira (PMDB-DF) e os empresários Fábio Monteiro de Barros e
José Eduardo Corrêa Teixeira
Ferraz, da construtora Incal.
Se a sessão sofrer um novo adiamento, o juiz Nicolau, que já cumpre prisão domiciliar por lavagem
de dinheiro e evasão de divisas,
estará livre de uma eventual condenação por outros crimes de que
também é acusado pelo desvio de
R$ 169,5 milhões da obra.
O julgamento ocorrerá no último dia antes da prescrição dos
crimes em relação a Nicolau, beneficiado pela redução das penas
por ter mais de 70 anos de idade.
Ontem, seu advogado, Ricardo
Sayeg, anunciou ter oferecido um
último recurso: alegou que 2004
foi ano bissexto. Ou seja, nessa hipótese, a punibilidade teria sido
extinta vinte e quatro horas antes.
"A tese da defesa é muito criativa mas não é juridicamente sustentável, pois o prazo de prescrição é contado em anos e não em
dias", afirma a procuradora regional da República Janice Ascari.
Outros denunciados
O Ministério Público Federal
pretende obter a condenação à
pena máxima de Nicolau, de Luiz
Estevão e dos empresários Monteiro de Barros e Teixeira Ferraz,
pelos crimes de corrupção, peculato, estelionato, formação de
quadrilha e falsidade documental.
Os recursos serão julgados pelos
desembargadores Suzana Camargo (relatora), Ramza Tartuce e
André Nekatschalow, da 5ª Turma do TRF-3. Em abril do ano
passado, essa mesma turma ampliou -de cinco para 14 anos- a
pena de reclusão do juiz Nicolau
pelo crime de lavagem de dinheiro e o condenou, também, por
evasão de divisas. Sayeg admite
que, se Nicolau não for beneficiado pela prescrição, o resultado do
julgamento "infelizmente poderá
ser desastroso para meu cliente".
Em caso de condenação, o MPF
pede que o próprio tribunal já expeça os mandados de prisão imediatamente após o julgamento.
"Minha expectativa é a de que haja justiça", afirmou ontem à Folha
o ex-senador Luiz Estevão.
O caso se arrasta desde 2003.
Cerca de 70 recursos foram oferecidos ao TRF, ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal. Houve sucessivas
idas e vindas, retardando o processo, até que o STF julgasse inconstitucional, no ano passado, a
lei do foro especial para ex-ocupantes de cargos públicos.
"Não vou abrir mão de nenhum
recurso. Tudo foi feito dentro da
lei. Em nenhum momento eu agi
na expectativa da prescrição", diz
o advogado de Nicolau.
Decisão controvertida
O MPF tentará reformar a controvertida sentença do juiz Casem
Mazloum, proferida meses antes
de ser afastado do cargo pela Operação Anaconda. Mazloum modificou a denúncia do MPF, reduziu
as acusações a Nicolau, enquadrando a conduta do juiz como
tráfico de influência, delito que
tem penas mais brandas, e absolveu Estevão e os sócios da Incal.
O juiz entendeu que Nicolau cometera apenas os crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de influência -um delito que não havia sido apontado pelo MPF. Condenou Nicolau a uma multa de
R$ 1,9 milhão e à perda de todos
os bens em favor da União.
Mazloum desconsiderou provas fornecidas pela Justiça norte-americana. Admitiu que Nicolau
recebeu dinheiro da Incal e que
Estevão havia depositado US$ 1
milhão na conta do juiz, na Suíça.
Mas entendeu que o MPF não havia provado que o ex-senador
praticara corrupção ativa. "Não
havia elementos para definir que
ele [Estevão] era sócio da Incal",
afirmou Mazloum, na época. Estevão negou ser sócio da Incal.
"Admitiu-se que Nicolau recebeu dinheiro de Luiz Estevão, mas
que Luiz Estevão não mandou dinheiro para Nicolau, o que é um
arrematado contra-senso", comentou, na época, Janice Ascari.
Em outra decisão questionada
pelos procuradores, Mazloum remeteu para o TRF o processo em
que Nicolau foi condenado por lavagem de dinheiro e, sem informar o MPF, enviou para o STJ a
ação em que absolvera os demais
réus e condenara apenas Nicolau.
Do dinheiro desviado, a Justiça
obteve o retorno de US$ 870 mil
com a venda de um apartamento
que Nicolau possuía em Miami. O
governo ainda tenta repatriar cerca de US$ 4 milhões em conta
bancária bloqueada na Suíça.
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